A noite no inverno é absurdamente longa. A culpa é da Terra e dos seus caprichos: aquela inclinação sobre o seu eixo, que se desenvolve, regularmente, a partir dos equinócios, é perfeitamente exagerada. Uma vezes sentimo-la mais do que outras.
Ontem, por exemplo - enquanto devorávamos um almoço tardio, feito de pão, queijo e paiola da serra - a penumbra caía já sobre o vale glaciar do Zêzere, bordejado pela alvura imensa da neve que caiu a bom cair nos últimos dias. Na encosta, o casario de Manteigas, lá para cima o frio intenso da Torre e o plano de tirar fotografias da torre de menagem do Castelo de Belmonte e iniciar as crianças à rota das judiarias da Serrada Estrela. Debalde.
Noite escura e fria às 17h00, potenciada pelo espectro claustrofóbico das encostas serranas. Entrada na fantástica A23 junto à vila de Belmonte com o recorte iluminado do castelo em fundo - a imagem possível de um encontro adiado. Guarda – Lisboa em menos que um suspiro e dois cigarrros e o prazer suplementar de viajar numa SCUT. Chegada a Lisboa a tempo de desfazer as malas e interagir com a família e também pensar propriamente em coisa nenhuma ou ler as edições da imprensa online.
A noite de inverno é absurdamente longa. O que vale é que pode ser sempre aproveitada.