O mundo da corrida tem um lado conservador e outro francamente revolucionário. O lado mais conservador tem a ver com a quantidade de bigodes farfalhudos que ainda hoje se vêm entre aqueles que compõem o enorme pelotão de atletas amadores, não obstante ser esse o estereótipo do jogador de futebol dos anos 80 do século passado. O lado revolucionário é o igualitarismo que o calção de licra e a camisa de alças parecem promover: naqueles preparos e decorridos uns quilómetros é muito difícil distinguir o doutor do trolha.
Encontra-se gente curiosa e agradável, também. O esforço, o sofrimento e a concentração não são incompatíveis com aquilo a que se costuma chamar de “ o encontro com o outro”.
Fiz, este fim-de-semana a “ Corrida pela Saúde “
( nº 587 ) pelas avenidas e ruas das cidade da Amadora . Foram 14200 metros serpenteantes e cheios de rampas e rampinhas como que a dizer que Lisboa não é a única a ter colinas. Meti conversa com o companheiro de corrida - de bigode farafalhudo - que ora se me colava , ora descolava. Estranhei o facto mas rapidamente percebi que ele estava munido de máquina fotográfica e parava a espaços para fazer a reportagem do evento que ele próprio integrava para depois retomar o seu passo, novamente na minha companhia. Decidia o momento de parar e fotografar conforme o local lhe parecesse mais adequado, do ponto de vista da abrangência do ponto de vista ou da estética. Foi assim no cima duma rampa interminável na Amadora e naquela que dá acesso ao Hospital Amadora – Sintra ou junto ao Palácio de Queluz. Não se fotografava a ele próprio mas aos atletas anónimos com os quais partilhou o esforço.
Não há nada de mais desmotivador do que parar no meio do esforço e depois, de novo, retomar o ritmo, a custo adquirido. Mas para este amigo que arranjei, mais importante do que a solidão do objectivo alcançado é, pelos vistos, a captação do momento, a percepção do belo e a valorização do esforço que é dos outros.
Por estas e por outras, tantas outras, é que costumo dizer que se aprende muito, neste pequeno mundo que é o atletismo amador.
2 comentários:
Afinal de contas...
Que tempo, mais ou menos embaraçoso, marcava o GPS à passagem dos 14200 metros??
Vivam os sofás fofinhos, o cigarrinho e a bica Starbucks! ;)
Abraço
Ó anónimo!
Vou-lhe dar uma ajudinha. Procure o número de dorsal 587 num tempo algures entre 1H14 e 1H18. Esqueci-me de levar o GPS, portanto o único tempo disponível é o tempo que está nessa folha de cálculo.
Quanto à bica SatrBucks ainda não experimentei. Identifique-se paa irmos os dois a alfragide tomar uma dessas bicas!
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