sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

desporto (I)

Sou Professor de Educação Física mas ministro actualmente um Curso Tecnológico de Desporto. Já o disse aqui. Desporto e Educação Física são, cada vez mais, mundos que divergem em vez de se complementarem. Por via dessa minha nova função como docente sou agora, e por uns tempos, um homem do desporto, e isto, paradoxalmente, sem sair da escola ; a casa - mãe da Educação Física. Tenho-me farto de aprender sobre Desporto e embrenhei-me , com um certo interesse, na incrível rede de normativos que regulam a actividade desportiva, dentro e fora de fronteiras. O conhecimento mais aprofundado do mundo do desporto está a fazer com que me afaste dele. Outro paradoxo.
O Jornal " Público" , no seu formato digital, é um veículo de excelência - talvez de nível mundial - que leva a problemática do Desporto ao conhecimento de especialistas e curiosos. Recomendo por isso, vivamente, este blogue que ainda por cima é actualizado diariamente.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

impossível chamar piroso ao homem (I)

Sugerem-me editar esta excelente "Layla" em versão acústica, que terá sido dedicada a Patty Boyd, ex-mulher de George Harrison. Dizem-me, a este propósito que Patty Boyd foi"assumidamente, a paixão da vida de Eric Clapton". Paixão da vida??? O que é que é isso???

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

aforismos de algeroz ( V)

Pior que o enjoo de mar, é o enjoo do dia dos namorados. Mas não há que desesperar: restam 364 dias para amar!

música gira

http://www.esnips.com/doc/94d9594d-8755-4e34-a4ee-c5be0346ddd9/Susana-Felix---Mais-Olhos-Que-Barriga-1


Não sei mesmo se subscrevo o conteúdo desta letra gira. O passado é tempo de preparar e de moldar, o presente é é tempo de fazer e de errar, o futuro é tempo de corrigir. O tempo é nosso, não é meu e o diabo não é para aqui chamado. O diabo é uma certeza acabada, não consente o livre arbítrio. O tempo faz-se hoje, e atrás dele vem outro e muitos outros virão depois do outro. Cabe-nos a tarefa de convocar os anjos para que nos ajudem a carregá-lo. Eles estão por aí, à espera da chamada. Apenas exigem esperança e optimismo na letra da convocatória.

Susana Félix - Mais Olhos Que Barriga (Pedro Malaquias / Susana Félix e Renato Jr. )

O tempo, esse bandido clandestino/ Salteador de estradas e memórias / Mistura numa névoa libertino/ O passado e o futuro das histórias./ O tempo de dizer a vida é breve/ O tempo de viver há quem o diga/ Só espera que o diabo que o leve/ O tempo tem mais olhos que barriga. Ensinou os dedos de rameira/ Remexendo em tudo muito embora/ Seja sem prazer que tudo queira/ Trinque e deixe a meio e deite fora./ O tempo que se esconde de emboscada/ O tempo que te foge a sete pés/ O tempo que no fim não vale nada...

P.S .- Muito pior do que o tempo que passa, que corre, que foge , é o tempo que pára, que se suspende no próprio tempo.

"Todos los días estoy en comunicación con Dios, Jesús y la Virgen (...) Aquí todo tienen dos caras, la alegría viene y luego el dolor. La felicidad es triste. El amor alivia y abre heridas nuevas... es vivir y morir de nuevo. Durante años no pude pensar en los niños y el dolor de la muerte de mi papá copaba toda la capacidad de aguante. Llorando pensaba en ellos, sentía que me asfixiaba, que no podía respirar”."

excerto de uma carta da política colombiana Ingrid Bentacourt,escrita em cativeiro, e transcrita daqui

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

aforismos de algeroz (IV)


Mistérios igualmente inacessíveis são-no, por vezes, o da alma e do corpo. Mas o mais apetecível é , por vezes, o mistério do corpo.

crónicas de Lisboa (I)

Lisboa é uma cidade encantadora. De entre os múltiplos motivos de encanto está o facto de ser uma cidade erigida sobre colinas e respectivos vales, o que faz com que de cada colina se possam inventar um número quase indefinido de miradouros. Gostaria de visitar os que existem, mas primeiro preciso de saber a sua localização exacta e o modo mais adequado de lá chegar. Conto portanto com a ajuda dos leitores amigos que de certeza vão perdoar a ignorância deste lisboeta que não conhece bem os mais belos recantos da sua própria terra. A ideia surgiu-me a propósito da recentíssima abertura ao público do Jardim de São Pedro de Alcântara,agora de cara lavada, depois de um atribulado processo que o levou a apresentar-se de tapumes desde um tempo que já nem lembro.
Aí vai a lista de miradoiros para cuja localização e acessos , necessito de ajuda:
Jardim do Torel, Monte Agudo, Penha de França, Graça, Senhora do Monte, Jardim Boto Machado .

a escola real (VI)


Numa escala qualitativa de valores temos, por exemplo, insuficiente; suficiente; bom; muito bom; excelente. Excelente é um qualificativo que remete para o nome abstracto, excelência. A excelência deve ser o paradigma, o modelo e o motor de uma sociedade: implica conhecimento, trabalho, organização, empenho, produtividade. Fossemos um país de práticas excelentes e seríamos um país excelente.
Vejamos: o menino que está na foto frequenta um jardim de infância, é de origem africana, vive num bairro problemático, tem os olhos brilhantes , talvez de uma certa felicidade, mas seguramente devido à constipação que o afecta. A espira que lhe adorna a carapinha quase ausente não é, por uma vez, expressão do mau gosto de quem o cria mas uma brincadeira da profissional que tem na criança a matéria em bruto com que trabalha.
Mas a foto é apenas um pretexto, involuntario para a autora, mas que não me passou despercebido.

Descentremos a atenção da criança e centremo-la na prateleira repleta de dossiers. Esses dossiers são portfólios ( um por cada das 25 crianças da sala) que são actualizados diariamente. Cada criança é responsável pela actualização do seu portfólio. Aí se arquivam fotos, desenhos, trabalhos, memórias de passeios e testemunhos pessoais. Desta maneira se estruturam comportamentos e se cria uma verdadeira cultura de escola , baseada na exigência e no trabalho. Desta maneira se se semeia o sucesso. É um exemplo das chamadas BOAS PRÁTICAS. As boas práticas não nascem do nada: implicam estudo, planeamento, formação contínua , criatividade e muito trabalho para além daquele que é feito no contacto directo com as crianças.

É ancorada em boas práticas que esta profissional trabalha. É por isso que é excelente naquilo que faz. E é na multiplicação da excelência, como regra, que os fundamentos duma sociedade nova são construídos. Pena é que a excelência ainda não seja a regra.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Timor...


Timor é um caso estranho. Muito estranho. Tem em si a luxúria do verde, dada de bandeja. Tem o mar, quase todo em volta, a convidar ao sonho.Tem o olhar suave das gentes e a vontade delas de ser livres e de aprender. Tem o sol e o luar. Visto de cima, parece um encanto, como se fora o paraíso. E tem a sabedoria da tradição , da luta e do convívio sereno com outros povos.


Mas se sabe o que é a adversidade, não reconhece o adversário em concreto: vê nele um inimigo.E mesmo neste, apenas vê uma árvore a abater como se estivera morta e desfeiasse a paisagem.
Timor parece perder-se a cada dia, mas nem por um momento me arrependo de ter vindo para a rua certo dia, o dia em que parei e que em parámos, para que o dia substituísse a longa noite timorense.

Tirado daqui , a lição de um poema tradicional , traduzido por Ruy Cinatti.

Nobres há muitos. É verdade.Verdade.
Homens muitos. É muito verdade.
Verdade que com um lenço velho
As nossas mãos foram enlaçadas.

Nós, como aliados eu digo.
Panos, só um, tal qual afirmo.
A lua ilumina o meu feitio.
O sol ilumina o aliado.

Água de Héler! Pelo vaso sagrado!
Nunca esqueça isto o aliado.
Juntos, combater, eu quero!
Com o aliado, derrotar, eu quero!

A lua ilumina o meu feitio.
O sol ilumina o aliado.
Poderemos, talvez, ser derrotados
Ou combatidos, mas somente unidos.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Fantástico Lope de Vega

Lope de Vega

Un soneto me manda hacer Violante

Un soneto me manda hacer Violante,
que en mi vida me he visto en tal aprieto;
catorce versos dicen que es soneto:
burla burlando van los tres delante.
Yo pensé que no hallara consonante
y estoy a la mitad de otro cuarteto;
mas si me veo en el primer terceto
no hay cosa en los cuartetos que me espante.
Por el primer terceto voy entrando
y parece que entré con pie derecho,
pues fin con este verso le voy dando.
Ya estoy en el segundo, y aún sospecho
que voy los trece versos acabando;
contad si son catorce, y está hecho.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

as 12 palavras que prefiro...

Esta é a entrada de resposta ao desafio que a SK me fez. O desafio consiste em dizermos quais são as 12 palavras da nossa preferência. Cruel dilema: publicito a lista , mesmo sabendo que a vou alterar um dia destes, ou não a publicito por causa dessa certeza?
Publicito.

Pingente - Qualificativo que a minha mãe muito usava quando falava com os filhos. Dizem-me: Claro, pingente é um berloque lindo, que se transporta ao peito; é um tesouro, percebes?
- Não é bem assim - respondo eu - Pingente é, também, indivíduo de reduzida importância ou poder. Era esse o siginificado que a minha mãe colava à palavra, num misto de censura e ternura.
Rabete - Adoro neologismos, ou regionalismos ou invenções, puras e simples, como aquelas com que Aquilino ainda hoje nos confunde. Tornam a língua viva, renovam-na, enriquecem-na. Talvez rabete seja isso tudo ou outra coisa - um " familiarismo ", sei lá - porque não vem no dicionário. Lá em casa, durante minha infância , limparam-me o rabo até relativamente tarde. Era uma espécie de ritual acompanhado de " vamos lá limpar esse rabete"... enquanto eu comia um papo-seco cheio de manteiga e açúcar. Noutras alturas adoçavam-me , e muito, o momento da vacinação quando me diziam - " o menino vai levar uma pica no rabete, não custa nada".
Iconoclasta - Sê-lo é condição quase necessária para se atingir a liberdade interior. É o contrário de seguidismo e de hipocrisia. Descobri-lhe o significado, um dia, quando lia os textos do Henry Miller e da Anais Nin, cheios de sexo selvagem e trangressão. Ser iconoclasta não significa ignorar os valores universais, pelo contrário: talvez seja o caminho para os interiorizar. A iconoclastia começa na consciência da nossa própria insignificância.
Marulhar - Ruído que quase se eterniza num local junto ao mar e que significa o serenar da natureza.
Doar - Tão próximo de doer e tão longe. É também nestas aproximações que se faz a infinita beleza das palavras.
Comunhão - Tornar comum a união. Reforçar e tornar vivo o significado da união.
Amador - O treinador , treina; o amolador, amola; o compositor, compõe; o jogador, joga; o amador, ama. Todos o fazem, em princípio, com gosto. O amador é, no entanto, o único que recebe apenas em troca, o prazer único de amar.
Gay - Um anglicanismo que vai tendendo para a universalização e que vai consubstanciando , em Portugal, uma mais que saudável abertura de mentalidades.
Saudar - É algo que precisamos de reinventar. Saudemos acenando, ou fazendo vénia, ou sorrindo de boca escancarada ou saltando ou gritando o dia bom que aí vem.
Comunicar - Pôr (-nos) em comum.
Motricidade - Tudo o que tem a ver com o corpo em movimento. E de que infinitude de coisas belas ele é capaz.
Onda - Saber que a energia , a côr, a luz, o som, o movimento são ondas é perceber que sem ondas não há vida. E onda também são as ondas do Baleal.
Passo o desafio ao João Tunes; à Vieira do Mar; ao Vasco; ao Pedro Cabral; ao Mário (onde é que andas??); ao Ángel de Olavide - saludos; ao Almocreve e basta, não sei a quem mais.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

uma das mil adendas a propósito de Aznavour...

Acho que não perdemos o respeito que tinhamos por Charles Aznavour depois de o ouvirmos responder às perguntas da Judite de Sousa. Pelo contrário, ganhámos um respeito acrescido pelo tipo normal , cuja normalidade nos deu a revelar e que, não obstante, é excepcional porque produz coisas excepcionais.
Realço, entre outras, as seguintes afirmações:

" Não sou um depressivo" - sorte a dele.

" Que o Sarkozi e a Bruna, casem ou não casem, se amem ou não se amem, é assunto que não me diz respeito" - a mim também não, excepto se o Sarkozi se revelar tão impetuoso na condução dos assuntos de França como quando se trata de fazer e desfazer casamentos com estonteantes e polémicas beldades.

" Sou Francês, não sou Arménio. Aqui nasci, esta é a minha pátria. Ajudo, no entanto, o povo arménio , porque é, apesar de tudo, o meu povo " Bonito.

"Não sou saudosista". Confirmado. A belíssima " Sa Jeunesse " é, afirmou, a sua canção favorita. O poema, belíssimo, que abaixo transcrevo, seria um poema saudosista se tivesse sido escrito por um cinquentão que descobre , num repente, o espectro da velhice ao virar da esquina mais próxima. Acontece que foi escrito por um jovem de 18 anos e um jovem de 18 anos que escreve um poema destes revela ser precoce, visionário e talentoso...muito. Saudosista jamais.

Eis " Sa jeunesse" ( a letra)

Lorsque l'on tient/ Entre ses mains/ Cette richesse/ Avoir vingt ans/ Des lendemains/ Pleins de promesses/ Quand l'amour sur nous se penche/ Pour nous offrir ses nuits blanches/ Lorsque l'on voit/ Loin devant soi/ Rire la vie/ Brodée d'espoir/ Riche de joies/Et de folies/Il faut boire jusqu'à l'ivresse/Sa jeunesse/Car tous les instants/De nos vingt ans/Nous sont comptés/Et jamais plus/ Le temps perdu/ Ne nous fait face/Il passe/ Souvent en vain/On tend les mains/Et l'on regrette/Il est trop tard/Sur son chemin/ Rien ne l'arrête/ On ne peut garder sans cesse/Sa jeunesse/ Avant que de sourire et nous quittons l'enfance/ Avant que de savoir la jeunesse s'en fuit/ Cela semble si court que l'on est tout surpris/ Qu'avant que le comprendre on quitte l'existence/Lorsque l'on tient/Entre ses mains/ Cette richesse/ Avoir vingt ans/ Des lendemains/ Pleins de promesses/ Quand l'amour sur nous se penche/ Pour nous offrir ses nuits blanches/Lorsque l'on voit/ Loin devant soi/Rire la vieBrodée d'espoir/ Riche de joies/ Et de folies/ Il faut boire jusqu'à l'ivresse/Sa jeunesse/ Car tous les instants/ De nos vingt ans/ Nous sont comptés/ Et jamais plusLe temps perdu/ Ne nous fait face/Il passeSouvent en vain/On tend les mains/Et l'on regrette/ Il est trop tard/ Sur son chemin/ Rien ne l'arrête/ On ne peut garder sans cesse/ Sa jeunesse...

Aznavour...


Desde que me conheço que nutro, do ponto de vista musical, duas paixões raramente esmorecidas. Essas paixões têm como objecto dois nomes afastados no tempo e no estilo: João Sebastião Bach e Charles Aznavour. Não se pode dizer, de um e de outro, que correspondam a descobertas que eu fiz, dada a tenra idade que as pessoas têm quando se conhecem a elas próprias. Terá havido coincidência, sim, na própria circunstância ( uma circunstância felizmente precoce). E a circunstância faz o homem. Não fora a paixão potenciada em pequeno e estou convicto que , de qualquer modo, cedo ou tarde ela sairia do adormecimento. A modos que uma marca do destino.
Vem isto a propósito duma interessante entrevista que o compositor francês deu ontem a uma jornalista da RTP1, tendo como pretexto a sua vinda, próxima, a Portugal. O interesse da entrevista teve a ver com a excelente forma física do entrevistado ( prestes a completar 84 anos) - facto susceptível de nos fazer duvidar, por um momento, da lei da vida - e também por ser uma oportunidade de conhecer a personalidade de alguém capaz de compôr melodias tão belas.
Deixo para mim as ilusões e desilusões que a entrevista me provocou mas proponho ficarmos todos com " Sa Jeunesse"( a música preferida de Aznavour, como ele próprio referiu) e "Hier Encore" ( uma das minhas preferidas, facto que passa a ser público). Apenas duas das cerca de 850 canções (!) , incluíndo poemas que aquele profícuo talento já compôs.
Que seja longa a vida que te resta , Charles!


nota do editor: entrada com sugestões enviadas de Macau, as quais subscrevo de olhos fechados e ouvido atento!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

o adorável machismo...

Navego com frequência numa deriva machista. O machismo , aliás, pode ser adorável. Não me refiro, obviamente, ao machismo boçal, violento, apascentado pelo hábito de gerações e empedernido no lado mais negro daquilo a que se chama cultura.
Refiro-me ao machismo "divertido", o que radica no bilhete de identidade de géneros, exercitado por um deles e, bem lá no fundo, aceite com muita, muita condescendência pelo outro. É o tipo de machismo que cedo ou tarde emerge , algures num ponto do caminho que leva à maturidade mas que vai dando sinais, logo, nos bancos da escola mais pueril. Entendo a existência desta variante do machismo segundo o princípio de que não há estímulo sem reacção, sendo ele, obviamente, o elemento reactivo da lei.
Tudo isto a propósito de mais uma anedota que me foi enviado pelo Manel e que faz sorrir, até porque é assim a modos que um espectro de algo que já foi por demais visto ou sentido ou desejado, num momento ou num impulso.
Aí vai, e salvo seja:
Receita: Bacalhau com Broa
Ingredientes: Esposa, bacalhau, espinafres, broa de milho, azeite, alho, cebola, batata e sal. Modo de preparação: meta a esposa na cozinha com os ingredientes e feche a porta. Espere duas horas e seja servido.
Bom apetite.
Nota do Editor : bom, a anedota, vendo bem, está a meio caminho entre o machismo boçal e o adorável mas é , apesarde tudo, editável.

alvorada...


A foto não é simbólica porque a foto é, simplesmente, sem predicativo. Ela corresponde ao momento exacto, (material; sensível) em que o Algeroz! passou a ter o nome que tem. A raiz árabe da palavra remete ,agora sim, desta vez e neste caso, simbolicamente, para um mundo sem fronteiras que me é tão caro: porque os artifícies da foto são portugueses mas beberam muito de outras culturas por razões de sangue ou da própria vida. Um deles foi buscar quase tudo daquilo que é hoje ao fascinante universo anglo-saxónico e ao período louco dos anos 60 do século passado. O outro tem as artérias e as veias percorridas por sangue eslavo - limpo, obreiro e orgulhoso.

Descrevo: o homem da esquerda escreve, num pequeno papel, a palavra Algeroz ! assim mesmo, em jeito de interjeicão, e esboça um plano do qual não estão ausentes os mais pequenos pormenores. O homem da direita vai sendo tomado por uma expressão, atenta e grave. A solenidade invade o momento. Dir-se-ia que um deles apela ao sentido de responsabilidade do outro; dir-se-ia que este outro sabe que corporiza o poder e cogita já sobre as soluções que operacionalizem o plano. Concentrados, ignoram a proximidade do varão : ignora-lo-iam, estou certo, mesmo que estivesse ali uma bailarina contorcendo-se, sensual, em torno do eixo que do chão nasce e no chão se fixa. E atentai : a hora é tão exacta que é quase impossível não ver nessa exactidão uma coincidência.

Mas a coincidência existiu mesmo, porque foi assim, exactamente às 18H30 de um fim de dia excepcionalmente cálido do Dezembro Lisboeta, que o meu Algeroz! foi baptizado... até à eternidade.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

aforismos de algeroz (III)

O AMOR FAZ PARTE DA NATUREZA HUMANA...E O DESAMOR TAMBÉM.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

escola real (V)


Acho que nasci com uns anti-corpos que me levam a fugir do corporativismo "como o diabo foge da cruz". Essa característica está em mim , incontrolada, tal como a cor dos meus olhos ou a minha configuração morfológica. Navego de texto em texto e de ideia em ideia ao sabor dos meus gostos e concordâncias pontuais. Não hesito em mudar de opinião, se achar que devo mudar de opinião ou que a minha opinião anterior estava errada, total ou parcialmente. Sou capaz de encontrar plataformas de convergência em textos que veiculam posições absolutamente divergentes sobre o mesmo assunto.
Tudo isto se passa comigo, também, quando se trata de me posicionar sobre a reforma educativa em curso. Tenho , no entanto, uma convicção: a reforma educativa transformou-se menos numa " questão de educação" do que numa "questão de Professores" , talvez porque sem professores não haja reforma que medre e desnvolva.
Por isso vou passar a transcrever, aqui, no Algeroz!, alguns textos que me chegam, via e-mail ou que vou apanhando em blogs, sites institucionais e artigos de jornal. Todos eles têm uma característica: são textos que subscrevo, pelas mais diversas razões, mesmo que veiculem pontos de vista aparentemente antagónicos; mesmo que me doam; mesmo que não sejam peças literárias de mérito. Quero apenas que emitam uma luz que estimulem o receptor que há em vós e se tronem matéria de reflexão ou discussão.
Este foi retirado daqui:
Trabalhar muito, trabalhar pouco
Vemos um homem num banco do jardim a ler o jornal. Estará a trabalhar? Claro que não, está a gozar o seu tempo livre. Pode ser que esteja reformado e a gozar o ócio a que quarenta anos de trabalho lhe deram direito; pode ser que seja Sábado e ele esteja a aproveitar o fim da manhã, enquanto a mulher acaba de cozinhar o almoço; pode ser que estejamos num dia útil e que aquele homem seja um trabalhador que faz uma pausa entre o seu trabalho da manhã e o da tarde. Em todo o caso:aquela leitura de jornal não é o que normalmente se considera tempo de trabalho. É tempo de ócio.Façamos um zoom e olhemos com atenção para o jornal. Não está, como tínhamos imaginado, escrito em português: está em alemão. O título é Die Zeit ou Die Welt. Pela pasta que o homem tem ao seu lado, no banco de jardim, e pelos papéis espalhados ao lado, concluímos que é professor de alemão nalguma escola secundária.
E é aqui que a nossa perspectiva se complica: o homem está a trabalhar ou está a gozar o seu tempo livre? A avaliar pela expressão do rosto,a leitura está a dar-lhe o mesmo gozo que a do Diário de Notícias daria ao reformado da nossa primeira hipótese; mas por outro lado sabemos que, com prazer ou sem ele, está a treinar capacidades que na sala de aula lhe competirá ensinar.
Lembramo-nos dos jogadores de futebol: só estão a trabalhar enquanto jogam? Ou também trabalham quando treinam? A certa altura vemo-lo estender a mão para a pasta, pegar numa esferográfica, descrever um círculo à volta de um artigo:terá encontrado um texto para utilizar mais tarde num teste, ou numa aula? Não sabemos. Só sabemos que não sabemos se o homem está ou não está, naquele momento, a trabalhar. Admitamos agora que o nosso professor de alemão anda a ser seguido porum perito em eficiência ao serviço do Ministério da Educação, que anota todos os seus actos com o fim de apurar a sua utilidade.
Como classificará este inspector taylorista esta actividade a que assistiu? Se ela durou meia hora, será classificada como meia hora deócio, ou como meia hora de trabalho? Ou optará o nosso inspector por distribuir estes trinta minutos pelas duas classificações? E neste caso, em que proporção? Em partes iguais? Dez minutos de trabalho e vinte de ócio? Vinte minutos de trabalho e dez de ócio?
Pela minha parte, confesso que não gostaria de estar na pele deste hipotético inspector.Tudo isto vem a propósito de um comentário feito por um leitor ao meu artigo «Trabalhar menos, ensinar mais»:«É muito difícil para uma pessoa normal compreender que um professor,que trabalhava 22 horas por semana e que tinha montes de férias,trabalha muito.»Com efeito é muito difícil. Se é difícil, como vimos, para um hipotético perito em eficiência, muito mais difícil será para uma «pessoa normal».Para uma pessoa normal, é difícil imaginar que se os testes aparecem elaborados é porque alguém os elaborou, se aparecem corrigidos éporque alguém os corrigiu. Uma pessoa normal não sabe, nem tem que saber, quantas reuniões de Conselho de Turma tem cada professor no fim de cada período. Se essa pessoa normal for um aluno, sabe que o seu professor tem uma turma: a sua. Das outras, tem uma vaga ideia. Emuito menos sabe da existência de reuniões intercalares.Não sabe das reuniões de Área Disciplinar, de Grupo ou de Disciplina.Não sabe da infinidade de actas, obrigatoriamente escritas à mão, a que essas reuniões dão origem. Não sabe das grelhas que é preciso preencher, das matrizes que é preciso elaborar e arquivar, dos relatórios que é preciso redigir, das estatísticas que é preciso entregar já prontas à tutela, das fichas personalizadas (uma por aluno), da informação redundante que é preciso registar, muitas vezes, em meia dúzia de suportes diferentes.Não sabe das centenas de páginas de livros, de revistas, de sites da net que é preciso consultar para elaborar um textinho de meia página para dar aos alunos, textinho este que depois é preciso adaptar,transcrever e fotocopiar na quantidade necessária.Uma pessoa normal não sabe nada disto, porque não vê. Só vê as aulas.
Uma pessoa normal está para os professores como um adepto de futebol que não soubesse o que é um treino e imaginasse que os jogadores trabalham hora e meia por semana, aos domingos, que é o tempo que dura um jogo.Uma pessoa normal acha que quando os alunos estão de férias osprofessores também estão. Nem lhe passa pela cabeça que o mês deJulho seja o mais trabalhoso no calendário de qualquer professor -devido ao pesadelo burocrático que é a época de exames e à logísticaparanóica que os sustenta.E não sabe que, mesmo no tempo já longínquo em que os professorestinham «montes de férias», essas férias eram mais que merecidas.Acreditem-me: eram mais que merecidas.Por serem mais que merecidas é que em todos os países que conheço - econheço bastantes - as férias dos professores são bem mais longas doque em Portugal, para além de serem bem mais longas do que as dosoutros trabalhadores. Não direi que isto não suscita invejas: ainveja é um vício especialmente português, mas não é exclusivamenteportuguês. Mas Portugal é, que eu saiba, o único país em que váriosgovernos ditos responsáveis cederam a essa inveja - mais do que isso,incentivaram-na - em vez de explicar aos cidadãos que essas longas férias são justificadas e úteis, no cômputo geral, para toda a gente. Quem conhece as escolas por dentro sabe há muitos anos que os professores trabalham muito: num país em que geralmente se trabalha demais os professores, caso se resignem a não ensinar ou a ensinar pouco, trabalham mais ou menos o mesmo que as «pessoas normais»; e mais ainda se quiserem ensinar alguma coisa. Sempre foi assim. Os professores nunca protestaram muito contra o excesso de trabalho porque em Portugal protestar contra o excesso de trabalho é mal visto - culturalmente valoriza-se mais o trabalhar muito do que otrabalhar bem - e porque de um modo geral têm suficiente brio na sua profissão para não medirem tempo nem esforço.
O que mudou com esta ministra? Mudou que sobrecarregou de tal maneira os professores com tarefas inúteis que não só lhes tirou o pouco tempo livre que tinham, como lhes roubou o tempo de ensinar. Os ministros anteriores tinham contra si muitos professores; esta tem contra si quase todos, e especialmente os melhores - os que lêem DieZeit, o Time Magazine ou o Nouvel Observateur; os que assinam revistas de Química, de Biologia ou de Informática; os que aproveitam quase todos os momentos de «ócio» para tirar notas mentais do género «isto é-me útil para as aulas, aquilo não».
Durante muitos anos os professores perdoaram aos vários ministros ascentenas ou milhares de horas de trabalho excessivo, burocrático e inútil a que foram obrigados. O que não perdoam nem perdoarão a esta é que, surfando na inveja nacional, esteja a multiplicar este trabalho a tal ponto que impede os professores de ensinar.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

poeminhas que vou descobrindo...(II)


Recebido por mail, via proposta do meu amigo Manel, este poema do Mário Quintana faz relevar duas realidades eventualmente pouco cogitadas: a mestria do seu autor ( cujo centenário se comemora) e a pluridisciplinaridade presente na concepção e na construção deste referencial anatómico, comum a meio mundo e expressão de desejo objectivo do outro meio. Ou como da arte de uns tantos se faz um caminho que leva à vida e tantas vezes parece tornar próximo e sensível o celestial, para lá das nuvens e do céu azul.
Sete bons homens de fino saber/Criaram a xoxota, como pode se ver:/ Chegando na frente, veio um açougueiro/Com faca afiada deu talho certeiro/ Um bom marceneiro, com dedicação/ Fez furo no centro com malho e formão. / Em terceiro o alfaiate, capaz e moderno/Forrou com veludo o lado interno./ Um bom caçador, chegando na hora/ Forrou com raposa, a parte de fora./Em quinto chegou, sagaz pescador/ Esfregando um peixe, deu-lhe o odor./ Em sexto, o bom padre da igreja daqui./ Benzeu-a dizendo: "É só pra xixi!"./ Por fim o marujo, zarolho e perneta.Chupou-a, fodeu-a e chamou-a... buceta!
Nota do Editor - Forjado com alguma arte e com alguma graça, este poeminha parece-me ostensivamente incompleto: abre , vendo bem, a porta ao bom gosto que dele se encontra ausente.