segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

te llaman...

Espécie de graffiti, algures em Madrid, com poema de Ángel González . ( retirado deste blogue )

De qualquer modo, ANO NOVO, VIDA NOVA. E, por isso, desejo a todos os que cheguem a ler esta entrada, o máximo de coisas boas para o novo ano e que os bons projectos que estarão já a ser, por vós, congeminados, se concretizem, para alegria dos seus autores e para usufruto do mundo!

domingo, 30 de dezembro de 2007

na neve...dezembro de 2007


Testemunhas do mais belo dia de todos os dias do alto da Serra da Estrela, que pensamentos ouso imaginar no enigmático olhar dos meus filhos?

- a descoberta da poesia no reflexo alvíssimo da neve?

- a busca de horizontes escondidos na paisagem infinda?

- projectos de futuro?

- ou simplesmente, a avaliação inicial das condições , técnicas e logísticas, para o início de uma vertiginosa descida em sku ?

sábado, 29 de dezembro de 2007

restos do Natal de 2007...


É possivel parar o ritmo diário de um diário da net, mesmo dispondo de net? É, sim. Aconteceu comigo, nestes dias. Sentado numa cadeira que não é a minha, em frente de um computador que não é o meu ,ocupando um espaço sofisticado que não tenho aqui e envolto num silêncio (que passa os dias e as noites na placidez do local onde vivi mais alguns dos meus dias ) não me faltaram sequer oportunidades de folhear este e outros diários, de actualizá-los e de comentá-los. Mas mais forte que a vontade de o fazer, é este "não consigo"que traz consigo muita coisa que não quero: a modorra dos dias sem projecto definido; uma inércia que impede operações simples do pensamento em acção; o adiamento das tarefas de aprender e partilhar... pelo menos neste particular dos blogues, que, no resto, não dei o tempo por mal empregue .
E como o Natal se foi, mas também foi , sim, farto de coisas boas e de outras novas, retorno a ele com uma fotografia recente do presépio da povoação de Cabanas de Torres, onde o telúrico tem expressão nas vides que o contornam e o aconhegam; no chumbo ( como se fora o céu deste inverno ) de que a Serra , em fundo, parece vestir; no húmido invernal da calçada rústica ; das telhas, quase vãs, das casas térreas e onde apenas destoa um carro, deslocado, quanto baste, do contexto. E lá está o enorme tronco da faia que tem uma história engraçada de contar que é também uma história de sobrevivência às mãos do engenho - por vezes - louco, dos homens que com ela cresceram. Em tempos, e até hoje, julgava-a morta . Um mal, desconhecido, carcomia, esburacando aquele tronco. Não sei bem porquê, mas o certo é que o meu julgamento roçou a verdade. Ela esteve quase morta e nessa agonia, o povo, precoupado, meteu mãos à tarefa de remediar o que parecia sem remédio. E há remédios que desfeiam ; desfiguram - mas são santos. No caso, e como é possível observar, trataram os homens, sem ciência mas com desespero , de encher o tronco de cimento e pedras. E foi, por via deste bruxedo improvável, sentir de novo a seiva mãe galgar aquelas gravidades todas e tornar mais perenes as pequenas e abundantes folhas da faia., para que ela continue a proteger este presépio anualmente renascido. Não me souberam explicar tamanho milagre, e muitas foram as minhas tentativas. E, reconheçamos, os milagres não se explicam ...

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

porreiro, pá!


Dizer que hoje estou feliz, é dizer que ontem estava, porventura, menos feliz ou que o estar feliz é um estado que varia com o dia, ou com a hora . Será assim, talvez , mas isso tem a ver com os desígnios insondáveis dessa entidade desconhecida que é o nosso cérebro. Ora se o cérebro é uma entidade desconhecida, porquê tentarmos que os outros a tentem explicar em vez de nós próprios? É injusto para os outros porque os oneramos com perguntas que não têm resposta. E é injusto, também, porque os centramos, egoisticamente, na nossa própria pessoa quando o mundo tem outros infinitos centros de muito maior interesse.
Portanto,direi que estou estou feliz, sim, como sempre, mas hoje estou especialmente satisfeito. Porquê?
Porque tive uma valente consoada em família e porque recebi dois valentes presentes: um fantástico relógio GPS Forerunner 305, comprado em New York - USA e uma não menos fantástica máquina de café Krups Nespresso , ... passe, em claro, a publicidade.
E os motivos de satisfação não ficam por aqui: tenho já as malas preparadas para, com a família, passar uns dias neste fantástico hotel, obra do melhor arquitecto do mundo. Quero lá saber se o homem é um artista datado ou serviu como ícone da arquitectura do estado novo (mesmo tendo sido detido pela Pide ), ou se há outros arquitectos melhores . É, para mim, o melhor do mundo e ponto final !
No entanto, mesmo longe da civilização vou tentar actualizar diariamente o meu diário, ou não seja ele um diário! Dá sempre gozo e não custa tanto assim. Haja , para tanto, um computador ligado à internet porque temas de interesse ou sem ele, não faltam para serem expostos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

O Natal na minha terra ... (VIII)


O centro da minha terra-mãe, é simbólica e quase geograficamente, o Chiado. Fui lá no sábado passado com a família e fui porque os membros que a compõem me obrigaram. Percebi que queriam sentir-se aquecidos pelo frio da época e por esse aquecimento menos contraditório e mais objectivo , igualmente poético, que é um passeio natalício em família. Os mais miúdos foram também movidos pelo impulso consumista e especificamente pela perspectiva da aquisição, por mim prometida , de uns jogos electrónicos para nintendo, playstation e computador.
Entrámos pela Rua do Carmo, infinitas vezes imortalizada,e das imortalizações que me lembro, por exemplo, através da inspiração - discutível - do António Manuel Ribeiro, líder do agrupamento musical UHF. O destino era a loja FNAC.
Em mim, então, e pelo meu corpo, nasceram sensações que me fizeram sentir bem: o Chiado, renascido das cinzas, tornou-se agora um sítio ao qual o cliché "...de artistas e designers", se aplica, sem que para isso tenhamos que ser benevolentes. A multidão , qual maré viva, desce e sobe em magotes, agrupada em sub-grupos familiares, respirando equlíbrio e bem-estar.
E, claro, onde há consumo e família , há, certamente , mulheres. Estou em crer, aliás, que acabei de cair na enésima redundância da minha vida. É das mulheres do Chiado que quero falar. Para elas gosto de olhar, pelas razões óbvias e outras menos óbvias. Para elas olho, especialmente no Verão e para elas olho especialmente no inverno. Pelas razões óbvias e outras menos óbvias. No Verão despem-se de preconceitos e no Verão quase se despem de roupas...quase, e ainda bem. No Inverno encarnam o preconceito e quase se tapam com roupas, compondo o corpo de cores e geometrias quadradas, que lhes realçam o gosto e a originalidade fazendo esquecer, porque ausente, a carne de que são feitas.
Tudo nas mulheres é sabedoria: tudo conduzem, mesmo quando parecem que são conduzidas. São o esteio que estrutura o espírito familiar; são atentas, activas e audazes na forma, a maior parte das vezes, discreta como equilibram o barco frágil das relações intra-familiares.
Neste quadro de referência que descrevi, a realidade - sazonal - das mulheres do Chiado, torna-se , assim, a metáfora da própria realidade: enquanto no Verão, - mostrando, generosamente, os contornos quase desnudos, de rabo e seios e pernas , apelando, deste modo, ao desejo contido - as mulheres parecem chamar a atenção para o facto de família ser , também, intimidade conjugal, no Inverno, escondendo a carne - impedindo ou mitigando o desejo - remetem para um conceito de família una, um colectivo que consustancia um projecto qu se projecta no futuro.
Não quero armar num Derrida ou num Savater - que alíás devem olhar tanto para mulheres como eu - mas esta é uma reflexão a que eu me impus, depois da visita a esse Chiado Lisboeta onde se está bem nesta época.

domingo, 23 de dezembro de 2007

sábado, 22 de dezembro de 2007

Padre António Lopes SJ (1926-2007)

Soube-o hoje pelo jornal "Público". Morreu, recentemente, o Padre António Lopes, Jesuíta e meu antigo professor no Colégio de São João de Brito. O artigo, extenso - de página inteira - é plenamente merecido porque notabiliza a figura de um homem maior. Dos muitos padres que comigo se cruzaram, no meu percurso de vida , este foi, seguramente, o que mais me marcou. O facto, acredito, esteve o Padre Lopes, em vida, muito longe de imaginar (agora , que a sua imaginação transbordará na vida eterna em que acreditou e na certeza da qual viveu, nela guardará um cantinho para o descobrir e reconhecer ) . Disso não duvido. Penso até que não me tinha na conta nem de um aluno meritório , nem de uma personalidade de excepção. A última vez que conversei com ele foi há 32 anos e eu exultava, então, por ter obtido a nota mais alta no exame nacional de francês, à frente dos "craques" do costume. E o Padre Lopes, genuíno e frontal como sempre , atirou-me com esta:
- Ó rapaz , isto é o que dá quando os correctores não conhecem aqueles que estão a avaliar!
Disse-mo com aquele seu olhar directo, profundo, brilhante, amigo ( o olhar que recordo ainda hoje) como que a dizer que há convicções que não se escondem .
Era um homem entusiasta e de entusiasmos vários, livre, inquieto, de esperança sempre renovada. Era também dotado de uma dimensão intelectual notável mas enrolada num manto transparente, leve e perene de uma extraordinária humanidade, pleno de afecto e apaixonado pelas coisas e factos do seu tempo, nos quais sempre via um sinal da presença de Deus. Um Deus novo e próximo, que ele me revelou um dia, quando , no meio da tensão pós 25 de Abril ( que também aconteceu no colégio ) tentou, como sempre, tentar tirar partido do potencial ( que ele como ninguém, conseguia antever) da mudança que estava em curso.
A fotografia que acompanha o artigo do jornal ( sentado, em posição de Lótus, junto à estátua do Marquês de Pombal, cuja personalidade e obra, na sua relação com os jesuítas, estudou nos últimos anos de vida ) é reveladora do carácter subversivo e do sentido de humor de um homem que pensou à frente do seu tempo.
Estará. agora, a viver o seu Natal desejado, na presença de Deus e na companhia de Jesus Cristo, a quem dedicou toda a vida. Por isso lhe dedico o tema Have your self a merry litlle Christmas, que foi popularizado por Judy Garland.

O Natal na minha terra ... (VII)


KITSCH- O kitsch é um termo de origem alemã (verkitschen) que é usado para categorizar objetos de valor estético distorcidos e/ou exagerados, que são considerados inferiores à sua cópia existente. São freqüentemente associados à predileção do gosto mediano e pela pretensão de, fazendo uso de estereótipos e chavões que não são autênticos, tomar para si valores de uma tradição cultural privilegiada. A definição foi retirada daqui, onde , aliás, podem saber um pouco mais sobre o conceito.


A definição peca, do meu ponto de vista, por uma abrangência excessiva e, sendo abrangente, torna-se objectiva e excessivamente violenta e injusta para todo e qualquer objecto , situação ou pessoa que , pelas sua características, classifiquemos de kitsch. Para mim, há kitsch e kitsch, ou, para me fazer entendido, há piroso e piroso. Há um kitsch ou um piroso em mim que emerge quando menos espero ou quando menos quero esperar ( e com a idade tendo a reagir,, ao kitsch ,como e quando bem me apetece, sem disso fazer motivo de grandes constrangimentos pessoais).


O folheto cor-de-rosa que ilustra a entrada foi feito pelo ZL, que é o Professor de Educação Moral e Religião Católica na minha escola. O ZL é um jovem inteligente, tem uma licenciatura em Teologia pela Universidade Católica de Lisboa e é vítima , no local de trabalho, da indiferença, do paternalismo e mesmo do escárnio por parte dos restantes colegas. Esta, é , aliás, digamos, a sina ( que deriva de um anátema misterioso) reservada a todos os professores de EMRC que, por razões de destino, desembarcam, vindos do paraíso, na Escola Sec. D. João V.


O folheto destina-se aos alunos e todo ele é, aparentemente, de um kitsch sem mácula: uma côr criteriosamente escolhida de entre as mais kitsch; um grafismo do estilo "pior é impossível "de onde se destacam uns "barroquismos" pretenciosos; e palavras vulgares associadas numa sintaxe ainda mais vulgar.


Falei-lhe disso mesmo. Perguntei-lhe se sabia o que era kitsch ( disse-me que não ) e expus-lhe aquilo que acabei de escrever. Concordou, em parte. MAS ACABÁMOS, EU E O ZL, DE ACORDAR NO SEGUINTE:


As palavras do folheto são simples, vulgares, sim, como simples e grandiosa é a mensagem que elas encerram: naquelas tarefas ( no Verbo, que é acção) está consubstanciada a essência do bem agir; o princípio do amor ao próximo; as sementes da concórdia. Tudo aparentemente simples; tudo tão diariamente esquecido.

nota - Esta entrada foi comentada na hora pelo, para mim, desconhecido NETMITO. É um comentário siginificativo por duas razões: foi o primeiro internauta a comentar uma entrada minha , entre os milhares que desconheço, facto que , desde já, agradeço; e o seu blogue - pelo menos um deles - consubstancia , do ponto de vista estético, mas também no estilo de comunicação, aquilo que poderemos classificar de kitsch. O que não o impede, de, a cada entrada, ficar submergido em comentários. E ainda bem. Prometo lá voltar mais vezes e descobrir a beleza das propostas que não consigo subscrevo com toda a minha sinceridade.




sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

delícias desenterradas ...(II)

Aproveitando o impulso de erudição do Pedro, eis as belíssimas Danças Romenas saídas da memória popular e também da inspiração desse génio que foi Béla Bártok, aqui numa versão para violino e piano. Toquei-as dezenas de vezes, numa adaptação para pequena orquestra de câmara e , enquanto tocava, pasmava sempre com tanta beleza, tanta força e tanta alma. Para os iniciados este é um exemplo - curtinho - de que vale a pena descobrir sonoridades novas.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

PROJECTO 2008...


Para 2008 só quero saúde, para mim e para os que me rodeiam, porque, tendo-a, temos também em nossa posse a ferramenta fundamental com a qual tudo o resto, por mais problemático que se apresente, tem grandes hipóteses de resolução.

Mas a ver se também exercito um pouco a auto-disciplina que me falta. Por isso, vou investir em projectos. Este chama-se " PÔR O PESSOAL DOS BLOGUES A CORRER".

Um projecto é, por natureza, limitado no tempo. Tem destinatários. Para ele formulam-se objectivos. Decorre, durante a fase de operacionalização, num local específico. No seu desenvolvimento, sucedem-se tarefas que têm entre si, uma relação temporal e causal.

A ideia é: levar a malta a perceber que "Correr faz melhor qu'ó que se pinta "; reunir um conjunto de pessoas que fazem blogues ( aqueles que eu conheço e aqueles que aqueles que eu conheço, conhecem, desde que morem ou estejam na área geográfica de referência - Lisboa ); garantir pelo menos 3 ( três ) encontros anuais, sendo o primeiro já em Janeiro; aproveitar a brisa fluvial ou o cheiro da serra urbana para correr; começar por correr 20 minutos bem contadinhos; acabar a sessão com um café ou um sumo, colectivos, na esplanada mais próxima, nem que a neve caia ou o céu vomite raios e coriscos; definir como critérios de êxito a presença de , pelo menos, 3 ( três ) atletas por encontro, e realizar os 3 ( três ) encontros; dar como concluído o projecto no dia 31 de Dezembro de 2008.

Na próxima entrada DO PROJECTO serão definidos o dia e local do primeiro encontro.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O Natal na minha terra...(V)





Cabanas de Torres é uma povoação, que repousa, como um presépio de todo o ano, ali, bem pegadinha à Serra de Montejunto. Ela é, agora, e já, mais uma terra minha, porque foi ali que nasceram e cresceram os meus sogros. Não a escolhi, tal como ela não me escolheu nesta relação que se vai mantendo , está bem de ver. Mas enquanto a sua beleza e o seu apelo se mantiveram intactos , houve um período em que eu me entretinha em não os ver, negá-los mesmo. A primeira vez que fui a Cabanas de Torres, alcunhei-a , despeitado, de "Monte dos Vendavais"- o vento assobiava na escuridão do fim de um dia de inverno e no deserto, triste, das ruas. Vi, em cada habitante, um insulto feito à minha pessoa - é que eu sou um filho da cidade, andei em colégios particulares e até conheço gente fina - e julguei ser, portanto, na altura, o protagonista de um choque de civilizações, mas vivendo-o eu, no papel da vítima. Nasceram os filhos e , para mim, nasceram também, sucessivamente, mais uma, duas e , finalmente, três vítimas desse choque de civilizações.
Hoje, com o tempo justiceiro a fazer do juíz que, neste particular, eu nunca consegui fazer de mim próprio, tudo mudou. Descobri um rosto novo e poético para o vento que é catapultado pelo relevo suave da Serra; apaixonei-me pelo cheiro a terra e a verde que ali nos envolve, vindo dos arredores, trazido pelo ar, ; adoro, mais que tudo, passear, só, pelo silêncio das rampas rodeadas de pinheiros e sentar-me na velha mó, de olhos postos nas fazendas que, lá em baixo, dotam a paisagem de uma geometria bela e natural . Sinto-me, agora, cúmplice das gentes: escassas, curiosas, genuínas e acolhedoras. Não dispenso a presença próxima e tutelar da Serra. E gosto também do presépio que é montado no "lugar", aproveitando, para abrigo do Menino, um velho tronco de uma árvore há muito morta mas que renasce, deste modo, em cada Natal. São já 19 ( lembravam-me há pouco), os cabritos no forno de que são feitos os meus almoços de 25 de Dezembro.

E , por lá corro, muito; por montes e vales ,por estradas, atalhos e carreiros; a correr sou perseguido por cães e até, nesta paixão, faço incursões pelas povoações limítrofes que de Cabanas de Torres são rivais - e vá lá eu entender porquê. Esta e outras idiosincrasias , aliás, continuam a constranger-me um pouco. Por exemplo, habituado que estou ao anonimato de Lisboa constrange-me o facto, de - enquanto me treino, e se me cruzo com alguém que observa na janela ou descansa a uma esquina - esse anonimato parecer transmutar-se nos espinhos que a fama tem, porque me sinto intensamente observado: fixam-me e depois é um crescendo de atitudes inspectivas; parecem medir, criteriosamente, as minhas passadas, avaliam o meu perfil de alto a baixo e acredito que aos meus costumes, imaginados, digam não ou os critiquem. O gelo , por mim sentido, sou eu, geralmente, que o quebro com um sonoro BOM DIA!!! ou BOA TARDE!!! acompanhados de um olhar assaz impressivo na direcção do observador, como se o conhecesse de há muito. E é remédio santo para desfazer equívocos , afastar mal entendidos e tornar a sentir-me o anónimo que estou habituado a ser.

nota: as fotos foram feitas em 2006 quando nevou intensamente em Cabanas de Torres. E como estamos na época dela...

em diálogo com os dinossauros...




1 -“Não é o ângulo recto que me atrai. Nem a linha recta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro (...) no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o Universo. O Universo curvo de Einstein.”

Oscar Niemeyer, o judeu que concebeu a capital do Brasil (99 anos),in Eine Legende Der Moderne / A Legend of Modernism, de P. Andreas, M. Bill, L. Cavalcanti, E. Kossel, C. Krohn, N. Maak, J.C. Sussekind, Paul Andreas (Editor), Ingeborg Flagge (Editor), Deutsches Architektur Museum; p. 41 citado pelo Nuno Josué.

Pois. ó Oscar, percebo-o bem. Eu também me sinto atraído pelas curvas que refere Mas , nessa nossa obsessão comum há uma diferença fundamental: enquanto você se sente atraído pelas curvas da mulher preferida, eu sinto-me atraído pelas curvas da mulher preferida, mas também pelas curvas de outras mulheres ...não de todas, mas de uma percentagem significativa delas. Admiro-lhe a exclussividade , mais do que a obsessão que partilhamos)

2 -" O que me preocupa são os filmes que quero fazer e que não vou conseguir fazer "

Manoel de Oliveira , realizador de cinema ( 99 anos)
Amigo Manoel: por este andar você terá tempo para fazer todos os filmes que quer fazer e mesmo os filmes que não quer fazer. Mas, na sua longevidade preocupa-me uma coisa: que vai ser de si quando os seus famiiares próximos ( filhos, netos, bisnetos) morrerem?

nota: a última vez que vi Manoel de Oliveira num filme, foi como figurante em " A canção de Lisboa " . Juro. Procurem-no entre os estudantes que, na esplanada do Retiro do Alexandrino, ouvem o Vasquinho brilhar com aquele fado eterno.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

gotas que ficam retidas no algeroz sem entupir...(I)

Acho que não há nem um dos milhares de blogues que por aí andam na rede do qual não seja possível retirar pelo menos uma pérola, um momento, uma inspiração ( comentário, texto, citação, seja o que fôr... ), dignas de, quase, eternizar. A minha intenção , ao publicitar essas gotas que vão caindo na minha atenção, é provar isso mesmo.

Estas DUAS , fui apanhá-las num comentário a uma entrada da Sofia, a partir do qual cheguei ao blogue e à autora; uma tal Sammia, que não sei quem seja, mas que está na escrita que é brasileira. E que bons são os blogues dos brasileiros.

Olá querida, Ando sumida né? Como você está? Tuas linhas apaixonadas me deixam à beira mar, nauseante de tristeza, desejosa de rocobrar a alegria de um amor assim. Um beijo.

Acerca de mim:
É mega neuras mas super pra frentex como já antes definida. Já cursou cênicas, circo, fez fotografia, dançou a vida toda; mas como diria uma pessoa especial: "Não se formou em nada disso". Segue sempre sonhando com as formas mais realistas de tornar os
ideais públicos e pessoais em pão de queijo para mastigar todas as informações com maior facilidade... ( PERFIL DA AUTORA)
E, já agora, no mesmo blogue, uma cena deliciosa com um falar delicioso:
" - Intaum (1:20 de ligação)...cumé seu nome mermo? - Fabiana Ferreira senhor!!! - Intaum Adriana...c tá falanu di ondi mermo? - São Paulo senhor, S-Ã-O P-A-U-L-O! - Ixxxi coitada, aí chuve que uma dirgraça né não? Tá chuvenu num tá? - Não senhor, está sol! (sábado às 15:40 da tarde!!!) - Oxxeentiii mai aí já uma mintira rapá, meu fio qui mora ai trabaia numa obra nu centro e disse qui ta uma chuva du demonho...Oí Cristiana cumê que eu vô cunfia num bancu qui nem o Bradesquio que trabaia cu genti mintirosa?"

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

5 filmes para a vida...


Para além das qualidades pessoais ao nível dos valores universais que alguns me apontam e que a família, furiosamente, questiona, tenho déficits vários, nomeadamente de âmbito cultural. Assim, pego em muitos livros, mas contam-se pelos dedos aqueles cuja leitura consigo fazer chegar ao fim. Também, no que diz respeito à música, os meus conhecimentos cristalizaram algures entre os finais dos anos 70 e princípios dos anos 80 do século passado - por exemplo, as minha referências no violoncelo são o Maurice Gendron e o Janos Starker (conhecem-nos?). E quanto a filmes - aqui é que a porca torce o rabo - vejo muito poucos e o que é mais, deles, depois de vistos, a minha memória esmorece passado 24 horas e restam impressões, de resto ( vá lá) bem significativas e que me vão acompanhando e vindo à superfície muitas vezes.


É neste quadro que a Ana desconhece , que também ela, simpaticamente, me propôs um desafio, habitual na blogosfera e que consiste em fazermos, aqui, referência a alguém ou alguma coisa que nos marcou em vida e depois propôr o mesmo desafio a quem quisermos. Chamam-lhe corrente mas eu prefiro chamar-lhe torrente. Corrente e torrente estão, na minha opinião, uma para a outra, como servil está para livres. Além de que, a concretizar-se o desiderato do desafio, a progressão dos resultados não é aritmética mas exponencial .

O desafio é o seguinte: quais os 5 filmes que mais me marcaram?

Musical - Adoro musicais , por isso o meu coração balança. Vi, há pouco tempo, uma versão do Oliver Twist com a qualidade a que os ingleses nos habituaram e que me marcou muito. Nunca esqueci West Side Story, com a Nathalie Wood , entre outros, que é uma versão moderna do "Romeu e Julieta" com música, inesquecível, do Leonard Bernstein. E não esqueço também uma versão americana de Hair, datada e muito velhinha, mas que vi, na altura, 4 ou 5 vezes de seguida em estado de verdadeira obsessão para além de ter comprado o disco que ouvia, furiosamente, tardes a fio. Mas a minha escolha é Música no Coração porque tem uma característica engraçada: vê-se, repetidamente, sem fartar ( e já vi mais de vinte vezes ). Consegue juntar lamechice, ternura e thriller num bolo improvavel; a música é fantástica; faz da Áustria um lindíssimo cartão de visita que a realidade, em parte, desmente; é um filme que se vai transmitindo de geração em geração , como os livros da nossa infância. É , por isso, já, um clássico.

Comédia - Definitivamente, Amarcord , de Fellini. Vi-o duas vezes: a primeira há muitos anos, a segunda há pouco tempo. Gostei muito menos do filme da última vez que o vi. Pouco importa. Muito da maneira como me olho e olho o mundo devo-o a Fellini e especificamente a Amarcord. É um retrato intemporal porque reproduções daquela aldeia italiana e daquela gente do tempo de Mussolini encontro-as, ainda hoje, nas cidades e nas aldeias, nas pessoas ricas e pobres, a qualquer hora ou momento. O filme é uma figura de estilo, mais que uma metáfora. É uma ironia pegada e que me foi pegada de maneira definitiva, há muitos anos atrás.

Documentário - Belo, comovente , imprescindível, é o mínimo que se pode dizer de Être et Avoir ou Ser e Ter. A sinopse, procurem-na na net, porque há várias. Mas a emoção senti-a eu, em mim e nas outras pessoas. Querem provas? Nunca presenciei eu um silêncio tão gradual e profundo como aquele que se instalou na sala de cinema, como quando vi este filme. No final, e enquanto passavam , já, no ecrã, as referências habituais aos profissionais que o ajudaram a fazer, toda a gente ficou no lugar, como se algo fosse impeditivo de iniciar a tarefa óbvia naquela altura, que é a de abandonar o local do espectáculo e retomar a vida. Já para não falar da "fungadeira" colectiva, quase descontrolada, que foi interrompendo o silêncio, sem no entanto, nunca, o descaracterizar. E tudo isto, numa história sem história, num enredo sem enredo, numa trama sem trama. A beleza, o drama e a comédia da vida real, no seu estado mais que puro. Como dizem os críticos, a não perder!!

Drama - Já não me lembro porquê, resta-me, como disse, a impressão. E essa revela-me um filme apaixonante, genial: Citizen Cane ou o Mundo a seus pés de e com Orson Wells.

Outra comédia - Italiano para Principiantes, ou como é bom ver cinema feito por europeus nesta Europa que é decidididamente o meu enorme país;que é a minha gente, aquela com quem me identifico nos valores e no futuro que quero para os meus.

E aí está. São estes e alguns outros, fora os que não vi ou já esqueci.
Passo agora a bola, claro, para o jovem, culto e inteligente Pedro, para o pedagógico, amigo , institucional e cívico Mário, para o outro Pedro, melómano e amigo da natureza, para a interessante, ibérica e talentosa Rita, se acaso me chegar a ler e também para o João Tunes, com quem eu mantive excelente relação nos tempos idos do meu anterior blogue (Frutos Maduros, era assim que se chamava ).

domingo, 16 de dezembro de 2007

Cantinho do piroso que nunca deixei de ser... (V)

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Esta lindíssima balada é um original da cantautora Canária Rosana, interpretado por uns tais Sin Bandera , sul- americanos, pirosos q.b, mas que cantam bem que se fartam. A letra é um longo eufemismo para distância ( provavelmente geográfica, porque o amor parece andar por ali ). E digam lá se não gostam...

solenes embirrações (I)

Disse eu, há uns dias atrás: embirro com a Catarina Furtado, quando apresenta programas de entretenimento.


Responderam alguns, como por exemplo: Não, não embirro com a Catarina Furtado...e sou cada vez mais de embirrações...Trabalhei com ela em videos para formação e acho-a uma pessoa que pensa com autonomia, é genuina e muito profissional e já agora......... é de uma beleza luminosa ( o que convém para se estar à frente de câmaras). Acho que fez como ninguem a Chuva de Estrelas e a Operação Triunfo, um programa por muitos considerado lamexas e pífio, mas que vejo e discuto com prazer com filhas e sobrinhos - é um programa que admite e reforça o sonho e a fantasia, promove o investimento e o esforço e dá palco a quem provávelmente nunca conseguiria ter....acho a Catarina F. , a profissional ideal para apresentadora deste tipo de programas. Também acho que a maior parte dos ditos "programas de entretenimento" são de muito má qualidade e - pior ainda -, geram conversas tolas e alienantes. - MR ( género feminino)
e mais: Há algo na Catarina Furtado que também me irrita, eventualmente representado naquele sinal.A classificação (não por culpa dela, sublinhe-se) de "namoradinha de Portugal" sempre me fez urticária.Salve-se o poema de "Solte-se o beijo", cantado pela Sara Tavares e pelo Nuno Guerreiro.Uma vez num programa em que ela andava à caça do tesouro (chamar-se-ia assim?), desceu do helicóptero e encontrou um grupo de meninos. E perguntou: "qual de vocês se chama cisterna?" - andava à procura de uma "cisterna", indicada no mapa do tesouro... - Mário Cordeiro
e ainda mais: Engraçado, mas também eu tenho uma certa embirração para com a Catarina.Acho no entanto que fotografa bemsinho e não é necessàriamente coisinha pra se deitar fora...Até talvez a culpa seja nossa, rapaziada. - Manuel Teixeira
e para acabar com a Catarina : Também não adoro a Catarina e as suas boquinhas possidónias (embora a ache bem bonita), mas a minha embirração de estimação, mesmo, mesmo, é o comendador metralha. O Berardo, claro.- AV ( género feminino )
Mas a embirração inicial, aquela que devia ter sido transcrita para dar início a esta rubrica é a que está aqui, logo abaixo,, que saiu, como desabafo, enquanto um grupo alargado de amigos discutia isso mesmo, "as solenes embirrações". Não a ouvi, garantiram-me que foi mesmo assim , o que, tendo saído de quem saíu , não me custa, um pouco que seja, a acreditar:
Embirro com blogues - FJAB ( género masculino )

E , agora, mais uma das minhas próprias " solenes embirrações"

Embirro com as mulheres - em regra entre os 30 e 40 anos - que conduzem carros de gama alta, geralmente 4X4,principalmente na fase do início das manhãs, quando levam os filhos aos colégios particulares, filhos esses, geralmente os primogénitos , de tenra idade e que, por isso mesmo, elas julgam que são os mais inteligentes, mais bem educados e , por isso, com um estatuto ligeiramente superior aos dos outros filhos - filhos dos outros, bem entendido. E a embirração continua com a maneira como elas se julgam no direito de estacionar o carro onde querem, tirando o lugar aos outros e também a agressividade que demonstram perante a mais pequena contrariedade , seja alguém que estaciona no lugar que elas pensavam ser seu direito ocupar, seja, simplesmente , alguém que as atrasa, enquanto atravessa uma passadeira de peões. Embirro, também, e por fim, com o ar de excessiva pressa delas ,porque as imagino preocupadas com as compras que aí vêem ou com os compromissos inadiáveis de uma carreira de sucesso.

E outras " solenes embirrações" estão já no prelo, esperando eu que o editor não se chateie temporariamente e não cumpra o compromisso que assumiu consigo próprio de actualizar o blogue todos os dias.

sábado, 15 de dezembro de 2007

seremos uns narcisistas...?


A relação que tenho com os meus vários irmãos pode ser caracterizada de "fraternal". Falar em irmãos que nutrem entre si sentimentos de fraternidade parece uma redudância. Acho que não o é: há irmãos cuja relação se carateriza pela indiferença, quando não por uma hostilidade e mesmo comportamentos fraticidas .

Esta informação prévia destina-se a introduzir a referência a um telefonema propositado que, há uns tempos, fiz a um deles:
- Então, que acha do meu novo blogue? - perguntei eu, esquecido da prévia saudação matinal.
- Não tenho muita, como direi, apetência para blogues...nem tempo para os ler.
- Mas...
- Claro que você escreve bem, embora eu prefira o registo da ironia que utiliza cada vez com menos frequência.
-...
- E outra coisa. Acho que vocês , os blogueiros, são uma cambada de narcisistas. E dou-lhe exemplos...

nota: trato-me por você com os meus irmãos desde que me conheço. Assim,durante aquelas disputas juvenis - nas quais,principalmente os machos,exercitam o instinto guerreiro - em vez de " tu és um cabrão" saía um"você é um cabrão" ,forma de comunicar que deixava as mais desatentas testemunhas assaz intrigadas.

Atento à máxima de que de que " não basta ser humilde; é preciso, também, parecê-lo", aparei o golpe como quem, com esmero , apara a barba de 15 em 15 dias para sair bem na fotografia. Saí-me, aparentemente, bem. De facto, saí-me bem mas com uma feridazitas, disfarçadas por um assentimento respeitoso e um estratégico desvio do tema da conversa.
Mas há opiniões que ficam , por aí, para reflexão.

" vocês, os blogueiros, são todos uma cambada de narcisistas"

Serão? Seremos?
p.s. -(...) Outra coisa completamente diferente é a perturbação narcísica da personalidade (com vários graus, até chegar a uma neurose com rasgos psicóticos), que se caracteriza por:- sentimentos de grandiosidade e de enorme auto-importância, atribuindo-se a si próprio talentos e realizações que não correspondem minimamente à realidade;- fantasias de sucesso e de poder ilimitado, beleza ou amor ideal, achando que ele ou ela acertam nestes alvos mas todoo resto do mundo não;- sensação de ser melhor do que os outros e olhar com condescendência tudo o que os outros fazem ou a pessoa dos outros: Exemplo: o meu cabeleireiro é o melhor de Lisboa, só eu é que sei onde se podem comer "realmente" peixe grelhado; a musse que faço é a melhor de Portugal porque tenho o melhor livro de receitas do mundo (ou vice-versa, tanto faz)...- os outros não são "gente como nós";- todos têm que admirar - se necessário, num restaurante em que as conversas começam a derivar para outros pólos, então derruba-se um copo, dão-se puns ou gargalhadas extemporâneas, para que toda a gente volte a centrar-se nele ou nela;- necessita de admiração permanente e excessiva e atribui o sucesso dos outros ao facto de o ou a conhecerem;- tem um sentimento de divindade e de direitos acima dos outros - é horrível estacionar na passadeira, mas EU posso;- tenta conhecer os outros para depois usar as suas (deles) fragilidades para atacar quando necessário;- não tem qualquer espécie de empatia - ajuda os outros enquanto é para se mostrar como a grande ou ou grande amigo, mas não por real interesse humano;- tem inveja dos talentos ou realizações dos outros, diminuindo-os ou arranjando "cenas" para estragar os momentos de glória dos outros;- quando as coisas correm mal torna-se arrogante, agressivo e até maltratante;- no fundo, tem uma consciência clara da sua nulidade, e prefere fugir para a frente em vez de reflectir.Isto é uma DOENÇA, classificada pelos parâmetros acima na DSM IV (classificação internacional das doenças mentais), e tem como base uma matriz genética, a presença de uma mãe que não deu autonomia e foi castradora (crianças que dormem na cama das mães depois do divórcio dos pais), um pai ausente e o não ter ultrapassado a fase de omnipotência infantil que deveria começar a ceder aos 18 meses de idade (esta é parte do comentário do Mário, Médico Pediatra, afixado a propósito da entrada -)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

cantinho do piroso que nunca deixei de ser... (V)

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Isto do mundo virtual dá para fantasiar...e eu fantasio,sim. Fantasio com quem transpira criação; com quem trabalha num cockpit; com quem ausculta crianças num consultório; com quem projecta edifícios; com quem goza férias ou a reforma no quentinho da cama; com quem gere um organismo de estado....fantasio com vós todos MAS, isto, no momento em que largarem tudo o que estão a fazer e, então, fantasio-vos, sim, mas A BAMBOLEAR ESSAS ANCAS, A LEVANTAR ESSES BRAÇOS , frenéticos, ao som do contagioso ritmo da batida irresistível que hoje vos proponho. E então farto-me de rir mas fico todo satisfeito.

poetaço...silvino ( ou a queda de um ídolo)

Silvino, era, ao tempo, delas o mais que nós, mais que mestre, era tudo.../ na turma o confidente, o amigo, era quatro, daquela carta do baralho que se chama o Ás./ Mas um dia, para sempre, , foi-se tudo, ficou sisudo, fez-se mudo/ porque , num momento, num silêncio inoportuno, indispôs-se e largou, perante elas, perante nós ... um sonoro, feio e cheiroso gás.

poetaço...narciso

Mais do que o haver, prefiro a dívida, o sombrio espectro do dever/ de vós, recolho um verso e outro e outro, minha gente.../ convosco vou vencendo lentamente/ um troço e outro, daqueles que ainda tenho pr'a viver.

E quando em frente ao espelho me recolho/ e lágrimas ( dó de mim) sentidas caem/ pl'o sentimento de julgar belos, os belos versos que me saem/ mais valia lixar-me como o outro e ( por vaidade desta vez) ficar mesmo sem um olho!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

poetaço...é muito o tempo, mas enfim...

é muito o tempo, eu sei; o tempo que vai do primeiro, e doce , e terno olhar.../ é muito o tempo que vai, de correr,desvairado,para a ter, por seca e meca/ é muito o tempo que vai da paciência do cruel sacrifíco de esperar.../é muito o tempo ao momento - meta e fim -enfim...enfim!...da primeira louca e gostosa queca.

regresso ao baleal (I)


Recebi um mail que me deixou satisfeitíssimo. Trata-se de um amigo balealense, muito activo no antigo blogue do baleal, excelente escrevinhador e com o qual, por via da extinção desse blogue, perdi, por uns tempos, o contacto. Agora reapareceu como forma de reiterar a amizade que nos une, falar de uma "gaja" de quem nós os dois gostamos ( a corrida ) e também dar-me a conhecer a nova campanha internacional de promoção do nosso cantinho ibérico, em que intervêm personalidades que partilham o seu rosto com a costa oeste, designação que tem, aliás, o seu quê de redundante. São uma série de cartazes, esteticamente muito bem conseguidos e, o que é mais, COM O BALEAL (ele mesmo) EM FUNDO. Este é um desses cartazes!

O Natal na minha terra ... (IV)


Volto , nesta entrada, ao local onde consumo os meus dias de profissional medianamente dedicado e onde também me consumo, enquanto formiga que nunca fui e que, pela via do trabalho, me obrigam a ser.
O feed -back da minha entrada de ontem, na qual os leitores do " Algeroz !" foram brindados com uma mensagem de boas -festas em genuíno badiu , foi, do ponto de vista numérico, 0 ( zero ). Estou convicto, no entanto, que contribuí , para, que das profundezas desses corações empedernidos, medrasse um pouco do espírito universalista, caro a Cristo e tão necessário nesta sociedade global em que vivemos.
Por isso, levado por essa convicção, volto hoje à carga. O Stefan é romeno, e como os outros colegas que vieram de leste, é loiro e aprendeu português com uma facilidade incrível, facto que me tem deixado verdadeiramente basbaque.
A mensagem natalícia dele, dirigida a vós, é a seguinte:

Multa dragoste, respect, fericire, si foarte multa sanatate, pentru toate persoanele dragi, si pentru cititorii blogului " Algeroz !". Multumesc !

o que traduzido dá:
Muito amor, respeito, felicidade e muita saúde para todas as pessoas queridas e também para os leitores do " Algeroz! ". Obrigado!
Obrigado eu, amigo Stefan!

p.s.- a leitura deste artigo sobre as origens e composição do actual vocabulário da língua romena é capaz de ser interessante. As influências latinas daquilo que o Stefan escreveu são nítidas.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O Natal na minha terra... (III)


Trabalho nesta Escola. Ela é a uma das minhas terras de adopção porque já por lá ando há uma quantidade apreciável de anos. Assim, a minha sempre dinâmica idiossincrasia, terá, já, sido influenciada pelas experiências que fui tendo e pela comunidade com a qual estou obrigado a negociar a minha sobrevivência profissional.

A escola situa-se, aliás, geograficamente, próxima da minha terra natal. Os alunos fazem dela uma imensa e louca babilónia: há Russos, Moldavos, Georgianos, Ucranianos, Romenos e muitos, muitos miúdos de origem africana, tenham ou não nacionalidade portuguesa. Todos os dias "aterra" mais um jovem, paraquedista involuntário , sem conhecimentos nem preparação para enfrentar os ares agrestes de um típico cenário sub-urbano.
Mas todos se adaptam. Hoje, por exemplo , esteve um lindo dia de sol a convidar a uma actividade que é a preferida de quase todos eles: apanhar sol. É assim que eles estão melhor,e é , aliás nestes preparos que eu gosto mais deles.
A escola serve, também para aprender, claro. Mas esse é outro assunto que eu abordarei noutra ocasião.
Aproveitando o sol e como que a lembrar que o Natal é para todos, pedi a uma aluna minha, a simpatiquíssima Alcídia, que me compusesse uma mensagem de boas festas para os leitores do " Algeroz !", no dialecto que os seus pais lhe ensinaram e que ela utiliza , de vez em quando, para comunicar com os amigos. É um crioulo Cabo - Verdiano chamado Badiu e diz assim :


N'ta deseja um feliz Natal pa tudo nós leitor de " Algeroz !" e um óptimo Ano Novo.
Pa nhor dês danu vida cu saudi pa kel anu ki sa ta ben
que traduzido dá:

Desejamos aos leitores do " Algeroz !" um Feliz Natal e um óptimo Ano Novo.
Que Deus nos dê saúde para o ano que vem.


Igualmente para ti, simpática Alcídia.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

SOLENES EMBIRRAÇÕES - o lançamento


embirrar - ter aversão; antipatizar; implicar; (...) - in Dicionário de Língua Portuguesa - Porto Editora

Meus caros:
Com toda a pompa e circunstância declaro lançada a nova rubrica do " Algeroz !" que se chamará " SOLENES EMBIRRAÇÕES ". Consiste num exercício de partilha e conto que todos contribuam com a sua quota-parte de esforço.
Embirramos todos , em algum momento, com alguém , alguma coisa ou alguma situação que envolva pessoas e coisas. Embirramos por vezes, suponho, com nós próprios. Quando as embirrações se esfumam, logo nascem outras com uma força redobrada, impossível de controlar. Tornam-se tão nossas que quase não podemos passar sem elas. Uma embirração é mais fascínio que repulsa ( o objecto da embirração atrai-nos como íman)
Exemplo de embirração : embirro com a Catarina Furtado, quando apresenta programas de entretenimento.
Portanto, toca a partilhar embirrações para que eu as publicite aqui ( podem ser anónimas, com pseudónimo ou inicial ). Mandem-me mails, sms, telefonem-me,coloquem-nas nos comentários que eu faço-as aparecer em local de relevo, este, onde estou a escrevinhar. Certo? Acho que sim.
nota - não valem ressentimentos causados por afectos não correspondidos, clubite desenfreada e vinganças a servir bem frias.

o cantinho do Manel...(I) (por Manuel Teixeira)




Um dia, um homem chegou tarde a casa, cansado e irritado após um dia de trabalho e encontrou, esperando por si à porta, o seu filho de 5 anos.
- Papá, posso fazer-te uma pergunta?
- Claro que sim. O que é?
- Quanto ganhas numa hora?
- Isso não é da tua conta. Porque me perguntas isso?! - respondeu o homem, zangado.
- Só para saber. Por favor... diz lá... quanto ganhas numa hora? - perguntou novamente o miúdo.
- Bom... já que queres tanto saber, ganho 10 euros por hora.
- Oh! - suspirou o rapazinho, baixando a cabeça.
Passado um pouco, olhando para cima para o Pai, perguntou:
- Papá, emprestas-me 5 euros?
O pai, furioso, respondeu:
- Se a razão de tu me teres perguntado isso, foi para me pedires dinheiro para brinquedos caros ou outro disparate qualquer, a resposta é não! E, de castigo, vais já para a cama. Vai pensando no menino egoísta que estás a ser. A minha vida de trabalho é dura demais para eu perder tempo com os teus caprichos!
O rapazinho, cabisbaixo, dirigiu-se silenciosamente para o seu quarto e fechou a porta.
Sentado na sala, o homem ficou a meditar sobre o comportamento do filho e ainda se irritou mais. Como se atrevia ele a fazer-lhe perguntas daquelas? Como é que, ainda tão novo, já se preocupava em arranjar dinheiro?
Passada mais ou menos uma hora, já mais calmo, o homem começou a ficar com remorsos da sua reacção. Talvez o filho precisasse mesmo de comprar qualquer coisa com os 5 euros. Afinal, nem era costume o miúdo pedir-lhe dinheiro.
Dirigiu-se ao quarto do filho e abriu devagarinho a porta.
- Já estás a dormir? - perguntou.- Não, papá, ainda estou acordado. - respondeu o miúdo.
- Estive a pensar... Talvez tenha sido severo demais contigo? - disse o pai. -Tive um longo e exaustivo dia e acabei por desabafar contigo. Toma lá os 5 euros que me pediste.
O rapazinho endireitou-se imediatamente na cama, sorrindo:- Oh, papá! Obrigado! - e levantando a almofada, pegou num frasco cheio de moedas.
O pai, vendo que o rapaz afinal tinha dinheiro, começou novamente a ficar zangado. O filho começou lentamente a contar o dinheiro, até que olhou para o pai.
- Para que queres mais dinheiro se já tens aí esse? - resmungou o pai.-
Porque não tinha o suficiente.
Agora já tenho! - respondeu o miúdo - Papá, agora já tenho 10 euros! Já posso comprar uma hora do teu tempo, não posso? Por favor, vem uma hora mais cedo amanhã. Gostava tanto de jantar contigo.




nota do editor
Nasceram em mim novas amizades, forjadas - com uma forja leve como o ar - na comunidade virtual nascida, por sua vez, no âmbito dos extintos blogues associados à Associação Recreativa dos Amigos da Praia do Baleal. Acabei por conhecer quem nunca tinha conhecido, retomei o diálogo interrompido no tempo, com alguns amigos meus, contemporâneos ( e a contemporaneidade é uma coincidência incrível do destino, no tempo breve de vida de uma pessoa) com os quais palmilhei infância e juventude. Reencontrei outros.
Restou-me, para mais, um gosto muito grande por blogues colectivos , enquanto experiência de comunhão que pode ser a diversidade. Um algeroz é, por natureza, um sistema aberto que não faz sentido sem a interacção de elementos exteriores. Por tudo isto, é com enorme prazer que acolho aqui, a partir de hoje ( espero que num ritmo regular ) o Manuel Maria Orvalho Teixeira e os seus " Estímulo - Reacção" de boa memória, para fazer renascer, de alguma forma, a dinâmica de criação colectiva que me é tão cara.
Mas não para já, porque tenho que ir trabalhar. Até logo!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

cantinho do piroso que eu nunca deixei de ser... (V)

...grita...sente...o meu corpo junto ao teu até morrer!!!


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irra...que de promessas está o mundo cheio. É que as separações, as rupturas - essa espécie de adeus universal que bate fundo , bem dentro de nós e que faz desabar em escombros todo o pequeno mundo que construímos e que é o nosso - invadem todos os dias o meu restrito círculo de relações. São gritos que esmorecem e que eu julguei, erradamente, que só esmoreciam nos outros, naqueles que não conheço. E quantos gritos não foram, já, em vão gritados e quantos sentires não foram, já, em vão sentidos?
Mentimos, pois é. Docemente, mas mentimos que nos fartamos.

Em todo o caso , toca a dançar, agarradinhos, este slow giro.

domingo, 9 de dezembro de 2007

cantinho do piroso que eu nunca deixei de ser...(IV)

Ai, eu já tentei, mandar pintar o céu em tons de azul, para ser original / Só depois notei que azul já ele é ; houve alguém ...que teve ideia igual!
Não sei se hei-de fugir ou morder o anzol / já não há nada de novo aqui, debaixo do sol.
(...) até que me perdi, sozinha, sem saber, até de que côr pintar a minha vida...
JA NÃO HÁ NADA DE NOVO AQUI lá,lá,lá...



Eu, cá, acho que quando o sol nasce ,todos os dias, há qualquer coisa de novo por aí prestes a acontecer. E acho também que há por aí muitos anzóis , de sabores improváveis e pontas arredondadas, a pedir que se lhes mordam. Estou numa dessas, mas deve ser da idade...

ps: ... e a memória já escorre (comentário do jovem e talentoso autor do "Codornizes" , a respeito desta canção )...é que a memória é quem nós somos e quem nós seremos.

"Saudades de ouvir esta e tantas outras pirosices - Telepatia, Sobe sobe balão sobe, várias do José Cid - na voz do Rui Melo e do Mico da Câmara Pereira. Íamos do Baleal à Foz do Arelho (Bibi, Nica, PTD, gémeas Formosinho, Bernardo, Guilherme e sua Sofia...), muitas vezes às escondidas, por não termos autorização para sair de carro. Era no Sítio da Várzea que ouvíamos e cantávamos estas músicas, sempre ao despique com a malta de São Martinho. Um dia trouxemos a banda de volta para Peniche para ir aos bolos quentes. No ano seguinte, fomos nós que lhes levámos bolas de Berlim, para termos o direito de escolher o alinhamento do espectáculo. E até houve, certa vez, uma garrafa de ginjinha que ia sendo servida consoante a qualidade da actuação.De volta à real life lisboeta, o ponto de encontro passou a ser o Xafarix. Apareceram músicas novas, como a do Vili da Abelha Maia, este Anzol que o Miguel aqui pôs e mais qualquer coisa do André Sardet. Havia festas dos chapéus (quase Ascot!) e outras. Também chegámos a ir ao Pátio de Santana e julgo que ao Musicais ouvir estes tipos.Não sei se ainda cantam. O Rui aparece, volta não volta, nas novelas. O Mico, nas revistas do coração. A música, essa, permanece e reencontramo-la hoje aqui, graças ao Miguel e ao seu algeroz por onde a vida vai escorrendo. Um abraço!"

sábado, 8 de dezembro de 2007

MUDEI DE NOME!!


O blog mudou de nome. Encontrei, absolutamente por acaso, o nome certo, aquele que merece ser para ficar. Resultou de uma conversa de surdos , entabulada por dois quase cinquentões, um deles,o Rudolfo, na posse, ainda, de uma série de recursos ao nível da saúde mental que fazem a minha inveja . O outro, o grande protagonista, eu, francamente confuso, que interpretei erradamente o significado de "algeroz" , escrito no cartão de visita de outro amigo e que o Rodolfo me passou para que eu nele colocasse o endereço de e-mail. Confusa a história? Exacto. Tão confusa que prometi, então, às testemunhas da ocorrência, que quando eu mudasse o nome ao blogue , ele se chamaria " ALGEROZ !"

Dito e feito !

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

delícias desenterradas...(I)

Ainda não estamos no Natal. Vivemos, antes, um tempo de Advento. Vivêmo-lo de acordo com a sua espiritualidade: numa alegria expectante e vigilante, imbuídos de uma esperança que se renova por esta altura, cheios de um certo impulso de pobreza que nos faz pensar nos fracos mais vezes do que é habitual, e ambicionando a conversão ou a reconversação aos valores dos quais temos consciência de que nos afastámos. Invadimos, estranhamente, capelas e igrejas na busca de um som ou de um cheiro ou de uma atmosfera nova, e procuramos o conforto de um abraço e o aconchego de uma carícia. Queremos transmiti-lo aos que nos são mais queridos.
Nada disto carece de explicações acrescidas: acontece , simplesmente. Não será assim?
A proposta musical de hoje vem a reboque da disponibilidade - que eu pressinto - que todos temos, nesta época, para acolhê-lha. E acolhê-la é também acolher o génio, na sua essência, intemporal e, por isso, divino.
Embora sejam delícias que cabem no ínfimo espaço que separa os dentes, estes dois corais de Bach, são, até por isso mesmo, caminho seguro para um prazer sempre redescoberto e inacabado.

paradoxo...

Ah, meu filho, quanto conforto eu sinto nesse teu conforto aparentemente verdadeiro; que descanso eu te sinto quando cruzas os pés por sobre a arca do Tio Soares;que repouso me dás quando repousas essa nintendo no teu colo e te entregas à contemplação despreocupada do canal Disney; e que bom é retornares ao prazer que te vejo de jogares, mais um vez, com a nintendo;e que privilégio eu sei ser o teu , de te aqueceres nessa almofadinha de estética apurada; e que segurança ver-te assim aconchegado ao prazer mais imediato que a vida que tens, te concede.

Eu sei o momento, a hora, o tempo em que te apanhei nestes preparos - foi ontem. E preocupo-me quando adias um futuro que é teu, que é nosso. Preocupa-me o adulto que vais ser. Preocupam-me as pausas; o olhar que repousa no nada. Preocupa-me a tua despreocupação pelo destino humano que te espera, numa esquina próxima. Preocupas-me , também, porque tenho medo do dia em que eu descanse, para sempre, de ser pai.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O Natal na minha terra...(II)


Este é o Presépio aqui de casa. Temos mais Presépios, claro, arrumados em caixas. Uns, clássicos, como eu gosto, outros, comprados ao talento dos jovens artesãos do século XXI, plenos de arrojo.
Mas este é especial porque as figuras foram feitas por um dos filhos que vão deixando de ser crianças; não sei se pela mais velha, se pelo do meio. Pelo mais novo não foram as figuras feitas , de certeza, porque ele ainda é uma criança.
No Presépio estão dois Meninos: Um , ri desalmadamente, nas palinhas deitado. O Outro dorme no colo, quente, de sua Mãe. Um, feito Cristo por destino; o outro igual a todos os que um dia nasceram; nem Ele, por ser quem é, deixa de ser o Menino de sua Mãe, dois destinos que coincidem, como no poema de Pessoa:

No Plaino abandonado
Que bela brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado-
Jaz morto e arrefece.
___
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, loiro, exangue
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
___
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O Menino de sua Mãe"
(...)
Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo e bem"!
( Malhas que o império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino de sua mãe.

cantinho do piroso que eu nunca deixei de ser... (III)

Dizem os que estão na vanguarda do conhecimento musical e que opinam quanto à estética daquilo que se ouve, que os corais anglicanos trazem muito pouco de novo, quaisquer que sejam os critérios de análise.
No entanto, a minha sensibilidade, relativamente primária, tem tendência a não aprofundar análises, que reconheço necessárias, quando se trata de gostar ou não gostar; em mim reina o primado da emoção. Este " Lord Bless and Keep You " interpretado pelo Westminster Abbey Choir passou o teste caseiro: foi ouvido do princípio ao fim pelo "meu mais pequeno", com indisfarcável enlevo.
Proponho-vos que se concentrem na afinação das vozes e como brinde preparem-se para um fugaz momento " Camila Parker Bowles", logo no início do video.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Natal na minha terra...


Acredito que o convívio prolongado com o sítio em que nascemos, cria em nós uma matriz cultural que se enraiza e nos marca muito. Basta que lá vivamos os tempos da meninice e esse seja o local das primeiras amizades, dos primeiros estudos e da família , com a qual aprendemos códigos e valores.
Se o abandonamos por causa dos caminhos que a vida toma, surge outra forma de ligação que permanece como um ferrete cravado que, simultâneamente, faz sofrer e sonhar: a nostalgia. Confesso que fico fascinado com a maneira como os outros falam da sua "terra". Adivinho-lhes a alegria de a reencontrar nas épocas festivas e nas férias; julgo perceber-lhes a tristeza do retorno ao dia- a -dia da sua condição de migrantes .
Ser de Lisboa, como eu sou, remete, no entanto, para a ideia de pertencer a uma "não terra": dela se diz tudo aquilo que não se deve dizer de um local para viver; nela se faz confluir toda a sombra da natureza humana. Parece que em Lisboa não se vive; sobrevive- se.
E no entanto Lisboa é a minha terra e dela me orgulho. É tão grande que terá sempre uma esquina escondida por descobrir.
A fotografia que hoje coloquei foi tirada da janela da minha casa e o local não está a uma distância muito maior que o record mundial de salto em comprimento. A tonalidade sombria é a de uma manhã típica de Dezembro (hoje) mas no quadro descobrimos também outras tonalidades e ambiências...ou como parece também haver um Natal belo em Lisboa.

privilégio...


Regressado ao meu diário, na posse de um computador quase novo, começo esse regresso com uma proposta visual para pausar, por um momento, o ritmo dos dias e dizer-vos que foi um privilégio ter nascido e que a consciência que tenho desse facto radica, também, nos inúmeros pormenores que a foto consubstancia, o menor dos quais não é , concerteza, o sublime do momento.
Quem tem filhos - mesmo que temporariamente ausentes, quem conhece o cheiro e a côr do mar - mesmo que temporariamente longínquo, e quem sabe descrever o calor de uma carícia, - mesmo que temporariamente envolta na noite, sabe tudo o que um homem precisa de saber para ser feliz.