terça-feira, 21 de outubro de 2008

erudição e senso comum...


Sou, no pouco que leio, todo pormenores e minúcia. Ligo mais ao sortilégio da sintaxe que, numa frase ou num parágrafo, me transporta para um mundo real ou ilusório a partir da postura clássica de quem tem um livro na mão e nele está concentrado. Daí que me interesse menos o final da trama quando ela existe e me fixe mais naquele momento, ou no outro, a páginas tantas do capítulo tal que se constitui como base do impulso que me leva a transcrevê-lo , ou recitá-lo ou fazê-lo passar por meu ( involuntariamente) quando me entrego a exercícios de estilo.
Gosto , também, de sínteses e de aforismos. Prefiro os inteligentes e sofisticados. Mas deliro , no entanto, quando a erudição inverte o rumo habitual e desagua no vulgar e no senso-comum. E penso: “ afinal eles não são seres de outro mundo”.
É o caso deste escrito, atribuído ao teólogo alemão Martinho Lutero, ontem transcrito pelo “ Público”:

Quem não for belo aos 20 anos, forte aos 30, esperto aos 40 e rico aos 50 não pode esperar ser tudo isso depois. “

…deliro sim, mesmo que o escrito seja a reprodução de algo num espelho que não é o meu!

2 comentários:

Mário disse...

Miguel
Há sempre a hipótese de fazer um pacto com o Diabo, qual doutor Fausto - ou não viveu ele uma vida "faustosa"?

Depois, conheço velhos, aliás Velhos (com maiúscula) lindos, fortes, sabedores e afortunados, porque souberam viver a idade que tinham, fosse qual ela fosse, com a medida exacta do hiato entre o sonho e a realidade.

Com a máxima humilade, permito-me discordar de Lutero, e só aceito a sua frase porque, naquele tempo, a esperança média de vida era bem inferior aos 50 - quem lá chegasse já estava com os dois pés no caixão!

miguel disse...

Bom, Mário, tens razão. Tendo em conta a esperança de vida à época este escrito afigura-se profético.

Mas s sua vulgaridade e tendo em conta a biografia do homem, faz-me crer que o homem terá, ele próprio feito um pacto com o diabo e a frase corresponde ao período em que, submerso no prazer e no fausto, o homem já não dizia coisa com coisa e tinha já caído na armadilha que " o homem do país do quente" lhe tinha montado.