terça-feira, 30 de setembro de 2008

ciganos (2)


Não me parece blogosfericamente correcto fazer uso de estereótipos. De qualquer modo não acho que ilustrar graficamente a entrada com uma imagem de " os ciganos mais honestos " seja um estereótipo. Pelo contrário: meter um qualificativo do estilo "honesto " na questão é, antes, a revolução completa no estereótipo. Passe o eventual mau gosto da piada...

p.s.- e diga-se de passagem, em assuntos polémicos, adoro provocar os amigos .

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

poesia (1)


A blogosfera é uma descoberta sempre renovada.Todos os dias nela reinvento a minha sensibilidade poética e por via disso, construo novas cumplicidades. A poesia espanta ou não espanta. Se espanta, estamos falados mas mais que isso, responsabilizados na sua divulgação como se fôra uma bola de neve, insaciável.

A que se segue, descobri-a neste blogue, retirada destoutro e diz assim:

C I R C A D I A N A

***

Circulam em mim sete humores
sabores, cheiros e cores


Tem um redondo, doce e cor-de-rosa
que sabe cantigas de ninar
sacia-se na pele macia das crianças
dorme pesado
queima-se ao sol, ri de qualquer besteira
é generoso
leite de peito, florada, saúde.


Tem um que é vinagre e fel
Vendetta



Tem um que é muito bem comportado
supermercado, trânsito
bons dias!, gentilezas
me ajuda a ganhar a vida
(trottoir da alma)



Tem um que é pura luxúria
língua, tesão, gemido
(e que fica guardado
numa caixinha de veludo vermelho
no fundo da gaveta
no meio de calcinhas cor de champanhe)

***

Circulam em mim sete humores
mandam em mim, fazem lei.
Uns conheço. Uns se escondem.
Sobre estes uns nada sei.

sábado, 27 de setembro de 2008

baleal 2008 (II)




Esta entrada persegue objectivos diferenciados: fazer inveja; constituir-se como instrumento de criação de atitudes de espanto e admiração nos outros em relação ao autor da entrada; demonstrar o fosso que separa o nascimento dos projectos da sua concretização.

A mão que controla o manche da aeronave não é outra senão a minha própria mão. Isto é, por alguns momentos, naquela manhã de Agosto, algures num espaço de fronteira entre terra e mar, quem olhasse os céus teria a experiência única de ver uma máquina voadora controlada nos seus movimentos por aquele que escreve estas linhas.

Não foi sem constrangimento que decidi editar a fotografia: nela é evidente o contorno irregular da unha do meu polegar esquerdo, próprio de quem não sabe o que é um corta-unhas, antes de quem conjuga com frequência o verbo “roer”.

O botão encarnado, que encima o manche, uma vez premido, põe-nos em contacto com o controlo de tráfego aéreo. Pude comprová-lo. À esquerda, em baixo temos o transponder que se constitui como uma espécie de bilhete de identidade daquele voo, no caso, e se observarem atentamente, com o código 7000. Imaginem o que é levar com um F16 de frente sem sermos avisados. E temos os “switch´s” das luzes do avião: lá estão as “ strobo lights” ON – as “ strobo ligths “ são aquelas luzinhas intermitentes que se vêm a quilómetros de distância.

O avião é lindo com a sua generosa envergadura de asas. Tão generosa que o seu potencial de sustentação torna verdadeiramente difícil a aterragem fazendo com que o piloto tenha literalmente de o atirar para a pista. Anotem o seguinte: o difícil não é levantar voo mas fazer o avião pousar.

Por fim o Baleal tal como eu o vi: repleto de carros. A foto é como a metáfora da letargia do Baleal sem Carros.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

felicidade


O tema da felicidade seduz-me como poucos outros. Há gente que faz da sua divulgação, paixão e sustento. Agora é um espanhol, economista e ex-ministro, cujo nome já escapou à minha desgraçada memória, que, recentemente, lançou um livro em que aborda a felicidade a partir das representações que as pessoas fazem dela, trabalhando os números para, a partir deles, propôr caminhos que, trilhados, conduzam a um fundo o mais parecido possível com essa ideia muito vaga que é a felicidade. A construção de acessibilidades para uma abstração tão cheia de significações como é a felicidade parece-me bem mais complexa do que a fase de conclusão em que o último troço da lisboeta CRIL se encontra.

Da reportagem da TV, donde tomei conhecimento do livro e do espanhol retive a transcrição de um provérbio, daqueles que costumam estar escritos em peças de loiça que decoram as paredes das tabernas e dos cafés. Por sobre aquela loiça, algures, dizia assim:

“ A FELICICIDADE É A ÚNICA COISA QUE SE PODE SEMPRE DAR, MESMO QUE NÃO SE TENHA”

sábado, 20 de setembro de 2008

pés de mulheres...


Será que a fixação que eu julgo nutrir por pés de mulheres corresponde a uma sexualidade excessiva?

Será este um post excessivo naquilo que ele tem de excessivo intimismo?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Baleal 2008 ( 1 )


A imagem foi captada por mim , num ventoso dia de Agosto,a uma altitude aproximada de 600 pés, a bordo de um ultra - ligeiro pilotado pelo meu primo Manel. Não conheço a marca da máquina mas memorizei a matrícula: CS - UHE. E ganhei-lhe o gosto. Voámos no limite das VFR, porque a neblina de oeste aparecia e desaparecia há medida que nos aproximávamos do Baleal. Bem...presumo que chegámos mesmo a infrigir de maneira involuntaria algumas das regras que referi - aqui e ali uma nuvem tratou de ameaçar o cockpit com um beijo traiçoeiro.

Sempre gostei de aviões. Seduz-me a linguagem codificada do ATC .É que no particular do trânsito aéreo não se brinca em serviço. Todas as informações são repetidas pelo recceptor para não haver enganos. Por exemplo, antes da descolagem ,no aeródromo de Santa Cruz, o Manel fez o que devia ter feito e comunicou:

" Daqui Charlie Sierra Uniform hotel Eco, pede autorização descolagem imediata".

Não me foi possível ouvir a autorização. Descolámos mesmo assim. E aterrámos 40 minutos depois. Em segurança e, da minha parte, com uma vontade enorme de voltar lá acima.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

crónicas de Barcelona (1)


Pelo que se me tem dado a ver e, principalmente, sentir, Espanha é, no Verão, um extenso forno natural. Barcelona não foge à regra se bem que beijada por uma banheira de águas quentes e muito pouco animadas para onde os locais convergem em grande número talvez na ilusão de deste modo fazerem praia.

Barcelona é também uma cidade fantástica e muito sedutora. Abundam as pessoas e nestas , a diversidade. Este pormenor não passou pela minha sensibilidade da maneira superficial como a visão daquele nudista idoso com o pénis coberto de tatuagens que se passeava pela Barceloneta . Com efeito pertenço a uma geração de preconceituosos.E talvez por isso achei altamente significativa e eventualmente excessiva a quantidade de hispânicos ( daqueles que remetem para o estereótipo do índio peruano) e também de asiáticos ( na várias versões dos vários sub-continentes em que o grande continente se divide )que comigo se cruzaram no metro, a cada esquina ou vindos do arvoredo espesso de Montjuich.

Vejamos: não é a visão que gera o preconceito; é o preconceito que gera a forma como se vê. E eu via-os sempre mal encarados,num alerta duvidoso, em busca da próxima vítima que podia ser eu. Talvez sem razão, não obstante ter , num desses dias de estada na capital da Catalunha, ficado sem a carteira, facto que, aliás, atribuo à minha distracção crónica que tantos dissabores me tem trazido.