sábado, 29 de novembro de 2008

29 de novembro 2008...

Não obstante ter já ultrapassado, seguramente, metade do tempo que disponho para viver, há emoções, ligadas a determinadas expectativas e acontecimentos, que não controlo. Torno-me então no mais pueril dos cinquentões.
Eu sou assim, com a neve. Tive, já, o incrível - por raro e improvável - privilégio de subir a serra de Sintra debaixo de um nevão, no decorrer de uma prova de atletismo. Doutra vez, assisti, de onde estou neste momento – o escritório da minha casa em Lisboa – à transformação das gotas de um chuvisco em levíssimos flocos brancos que me entraram pela janela e me lavaram, como nunca, este rosto tão carente de purificação. Gritei, então, saltei , telefonei a meio-mundo , anunciei o facto como se fora eu o único a dele tomar conhecimento. Obriguei os meus filhos a largar afazeres e brincadeiras, e invadir a rua e gritar e brincar. Debalde, aliás, para meu enorme espanto.
Eu sou assim. Hoje, dia 29 de Novembro, estou na expectativa. Consulto, avidamente, o boletim meteorológico. Metade do país encontra-se debaixo de um manto de neve. Lisboa está, apenas molhada e fria. Mas faço contas: menos 2 ou 3 graus e… Fixo a cor das nuvens, concentro-me nas características da água que cai do céu. Interpreto, a meu gosto, as imagens de satélite. E sonho com o milagre repetido.
Eu sou assim. Metade do país está sobre um manto branco de neve e eu ,regressado à infância, suspenso de um capricho da natureza. Para mim, o presente que me desculpe, vai ter que esperar um pouco.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Graciliano Ramos



Texto do escritor brasileiro Graciliano Ramos retirado do meu fornecedor habitual onde pode ser encontrada muita coisa sobre ele. Parece-me que Graciliano é nome a fixar e a descobrir.

“Liberdade completa ninguém desfruta: começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a delegacia de ordem política e social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer”.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

desporto (V)

A promoção de “ ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEIS” é, nos dias que correm, um must : não há autarquia que não tenha programas desportivos para crianças ou para a terceira idade; não há congresso médico que não enfatize os benefícios da actividade física para a saúde; não há marca de material desportivo que deixe de se posicionar , já, na tentativa de ser o melhor patrocinador de caminhadas ou provas atléticas dirigidas aos atletas de fim-de-semana.

Ora o conceito é muito mais antigo do que eu julgava. Descobri-o, por acaso, nas minhas pesquisas pela net. Os conselhos que transcrevo de seguida não deixam de ser curiosos naquilo que têm de incrivelmente actuais e deliciosos na sua formulação. Recomendo, vivamente, que se leia a página na sua totalidade.

Fonseca Henriques, médico da corte de D. João V, "cita os princípios que a Escola de Salerno indicava para conservar a saúde e as seis coisas que era preciso ter em conta para o seu bom uso e administração:

Ar, ambiente;
O comer e beber;
O sono e a vigília;
O movimento e o descanso;

Os excretos e os retentos;
As paixões da alma
.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

escola real (XVI)

O simples enunciado de que a escolaridade é obrigatória e para todos, por um número de anos que é cada vez mais longo, atribui à escola e aos professores uma missão que é uma missão de uma enorme dificuldade.

A frase foi proferida, hoje, no Porto por ocasião da entrega do Prémio Nacional do Professor.

Quem a proferiu, quem foi?

A auto-crítica mesmo que com a forma de reconhecimento daquilo que nunca se reconheceu cai sempre bem.

sábado, 22 de novembro de 2008

leitura de fim-de-semana


"
Entretanto, ontem foi o aniversário da aprovação da Convenção sobre os Direitos da Criança, da ONU, e decorreu em Lisboa o I Congresso Internacional sobre Adopção
."
imagem retirada daqui

A informação , quase toda está, com a internet, à distância de um clique. Não mais é necessário rebuscar o mundo perverso da burocracia para, como tantas vezes acontece, desesperar por aquilo que, nem com pesquisa aturada, conseguimos encontrar.

Por isso propus-me ler e reler, com atenção, durante o fim de semana A CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA . como quem pára um momento o que está fazer para reflectir sobre o que tem sido feito.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Pável


Estão-se a celebrar os 100 anos do nascimento de Francisco Paula de Oliveira (Pável), militante do PCP, sobre o qual eu pouco ou nada sabia. A talhe de foice da efeméride foram escritos alguns artigos e crónicas que me estimularam a vontade de saber mais sobre esta figura .

Deixo a transcrição de parte da entrada que, a propósito de Pável, foi feita por um bloguista cujos testemunhos - nada distanciados, aliás, em relação ao PCP - me habituei a respeitar. O título da entrada é " NÃO DEIXAR MORRER A MEMÓRIA, LEMBRAR PÁVEL" e começa assim:

"Já nos próximos dias 20 e 22 deste mês, evocando os cem anos passados desde o nascimento de Francisco Paula de Oliveira (Pável), vão realizar-se dois colóquios evocativos desta figura mítica, misteriosa e enorme de operário tornado intelectual esteta e de combatente comunista.

A Pável restou, no memorial do PCP (a quem deu o melhor da sua vida e de que foi dirigente máximo), o direito ao silêncio selectivo que lhe é prestado pelos Iejovs que gostam de cuspir desdém sobre os Zinovievs varridos pelos tiros na nuca disparados pela amnésia dos banquetes da dogmática servida na mesa deste Comité Central. E o que é, hoje, o CC do PCP, depurado até à santa unanimidade do pensamento único? - Uma salada "renovada" de arrivistas, fanáticos, sectários, funcionários e sindicalistas vitalícios, temperada pelo azeite e vinagre de uma liderança sombra de estalinistas serôdios (*) e que gerem um corpo respeitável de militantes socialmente generosos mas castrados politicamente de tudo aquilo que ultrapasse as tarefas e o cumprimento do calendário das lutas. Lutas estas, lutas e mais lutas até á revolução final, que sobretudo enfeitam os discursos anarco-sindicalistas de Jerónimo, que a marxismo nem sequer cheiram, mas a que o PCP adiciona, para completar o paradigma de dinossauro partidário, os cultos decrépitos pelos defuntos da URSS e pelas paranóias políticas dos comunismos degenerados e sobreviventes em Cuba, na China e na Coreia do Norte."

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

outras músicas... (2)

Ciganos da Eslováquia: música belíssima, única e universal, nostálgica e divertida, pungente e delirante. Do leste longínquo, do qual tantos muros ainda nos separam , os sons e as vozes de um grupo de virtuosos.



umas horas depois de editar a entrada: acabo de receber um telefonema de um amigo que me dá conta que as notícias que eu aqui veiculei, saídas da minha própria sensibilidade e que dão estes homens como " uns virtuosos" são francamente exageradas. Utilizando expressões como "...mas o que é aquilo?" e "...uns gajos aos berros" o meu amigo reforçou, com veemência, o seu desacordo com a minha escolha como que a dizer que ela tem uma natureza demasiado solitária para ser válida. Será assim?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

esquerda e direita...


«A banalização do adjectivo “utópico” num sentido pejorativo não deveria impressionar nem complexar a Esquerda; foi a Direita que, ao pretender-se realista e pragmática, lhe lançou essa armadilha. (…) A Esquerda será sempre um “campo de tensão”, a tensão do inventor antes da invenção, do descobridor antes da descoberta, do poeta antes do poema - enfim, do criador antes da criação. É esse “antes” que necessariamente gera a tensão: a Esquerda sabe que nunca chegará à sociedade perfeita, um pouco como Zenão no paradoxo da tartaruga.»

João Martins Pereira in Pensar Portugal hoje ( D.Quixote 1971 ), transcrito deste blogue , referido por este.

Acerca dos paradoxos de Zenão:

"Imagine um atleta querendo correr uma distância de 60m, para chegar no final do percurso ele primeiro terá que passar no ponto que corresponde a 1/2 (metade) do percurso, depois no próximo ponto que corresponde a 2/3 do percurso, depois 3/4 do percurso, para assim chegar a 4/5 do percurso e depois 5/6 do percurso e depois 30/31 do percurso ao ponto correspondente a 199/200 e depois ao ponto 5647/5648 do percurso (que numericamente corresponderia a 59.9893798 metros), tendendo assim a ser um número infinito de pontos antes que o corredor chegue ao final.

Como o infinito é uma abstração matemática que significa algo que não tem limite, o atleta jamais conseguiria chegar ao final do percurso (60 metros), pois ele teria que percorrer infinitos pontos para chegar a um final, se ele chegasse ao fim depois de percorrer o infinito, significaria que este infinito tem um fim, como isto não é possivel, gera assim o paradoxo"


Interessante...


escola real (XV - a)

O momento da Educação em Portugal é daqueles assuntos para cuja clarificação nenhum comentário ou opinião ou ponto de vista são demais. Por isso, VIRGÍNIA E ANÓNIMO (ilustres comentadores da entrada anterior) venham muitos mais, seja ou não este blogue um cais onde afluem multidões - e claro que não é.

Ontem, num debate na SIC , José Luís Saldanha Sanches, opinou, serena e telegraficamente, sobre a avaliação dos professores chamando a atenção para a natureza do impulso reformista da ministra ( a própria avaliação; a consolidação de uma ideia de hierarquia; a atribuição de mais trabalho aos professores, na perspectiva de " uma escola a tempo inteiro" ; etc) e a resistência dos professores a esse impulso. Entende Saldanha Sanches que esta resistência radica no carácter quase auto-gestionário da actividade docente nos últimos 20 anos, num contexto em que os afectos , a criatividade, a improvisação e o trabalho solitário se sobrepuseram ao primado da lei e de uma certa ordem ( hierárquica, de competências , etc).

Sendo parte de uma verdade que é, ela própria, um complicado puzzle, a opinião de Saldanha Sanches merece , talvez, uma abordagem séria, daquelas que repousam na auto-crítica que os professores sabem, como ninguém, exercitar.

domingo, 16 de novembro de 2008

escola real ( XV)

Este é o decreto-regulamentar 2/2008 que trás os professores e respectiva tutela desavindos e , pior que isso, é a gota que está quase a transformar o espectro da desobediência civil em pura realidade.

Dos milhentos pormenores que compõem este ramalhete explosivo há um curioso: os professores têm a progressão na carreira congelada há pelos menos 3 anos. Da aplicação deste decreto regulamentar depende, entre outras coisas, o descongelamento das carreiras. Ora,nesta questão, ninguém fala de carreiras. O que parece é que, basicamente, está-se tudo a borrifar para as carreiras.(e, no entanto, a perda do poder de compra tem sido galopante para a classe dos professores - para eles a crise chegou, há muito...). A minha convicção é que os professores não estão preparados para a descriminação, seja ela positiva ou negativa. Acho que a natureza da actividade docente rejeita a competição inter-pares como o organismo humano rejeita um orgão que não é o seu. Os professores excelentes ( que os há) sabem que as razões para a não excelência são tantas e tão difusas na sua profissão que, instintivamente, engrossam, também eles, o número daqueles que não querem esta avaliação e prescindem da divulgação pública do seu próprio mérito . Os docentes sentem que têm mais em que pensar e mais do que fazer.

nota para reflexão - que outro grupo socio-profissional concluiria que o seu sucesso ( subida das classificações em exames nacionais) não é , afinal fruto das boas práticas de quem o compõem mas de estratégias habilidosas da tutela para mostrarao país o sucesso que ainda não existe?

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

blogosfera (1)


Os blogues activos são talvez vítimas do desassossego criativo que está na sua própria natureza. As entradas de grande qualidade que são produzidas na blogosfera são rapidamente envoltas num manto quase opaco que se vai enrolando sobre si próprio como se estivessem inscritas num rolo de papel de cozinha mas que , ao contrário de se abrirem às necessidades, fecham-se sobre si prórios, caindo numa espécie de esquecimento.

Quando o blogue acaba por decisão do autor, começa, no entanto, um período, menos frenético, que concede ao leitor um outro tempo, menos voraz - o tempo da revisitação.

É isso que tenho feito, regularmente com o blogue de uma jovem e talentosa amiga, que aportou recentemente ao cais, belo, da maternidade.Para trás ficaram memórias serenas e textos de enorme qualidade.E poemas novos de poetas antigos, como este, de António Ramos Rosa cuja introdução , feita pela própria Sofia, também transcrevo:

" (...)Assim, lembrei-me de uma coisa que estou há muito para pôr aqui - uma homenagem, em vida, a António Ramos Rosa. Um poeta que me é especial, por ter o privilégio de o conhecer pessoalmente, de ter privado com ele, no lar de artistas onde está. Mas mais especial do que isso, o poder ter sabido dos seus poemas logo no dia em que os escrevia e reconhecer a sua calma, na beleza da sua poesia. Por isso aqui fica a minha homenagem e o meu sorriso de que tanto gosta, porque não esquecerei um poema que me dedicou. Mas hoje, deixo aqui um poema que dedicou aos alunos da Professora Raquel Andrade, que o souberam ouvir, atentos, como nunca ninguém nos fez estar.

Se eu não conhecesse o amor nem a inocência
nem a maravilhosa juventude
se eu não reconhecesse o rosto da vida
se eu fosse opaco
se eu estivesse empedernido
se eu não confiasse em nada
se eu fosse incapaz de u,m gesto de ternura
se tivesse perdido a inteligência da dança
e o meu saber não tivesse a sabedoria do saber
e do sangue
se eu tivesse perdido o dom da atenção ao ardor obscuro
da vida animada pelo desejo
eu teria renascido quando vos vi
eu teria respirado a pureza dos vossos rostos~eu teria renascido
eu teria entrado no adorável país
da juventude do sol.
(27 de Fevereiro de 2002)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Dia de São Martinho



imagem retirada daqui

Martinho, cujo dia se celebra hoje, é aquele santo a que dedico algo que os prosélitos de imediato definiriam como devoção. O seu lendário cometimento remete para os valores que eu mais gostaria de encarnar: humildade; generosidade; despojamento. A sua imagem que é a de um guerreiro garboso com um pobre a seus pés constitui-se, paradoxalmente, como uma brevíssima alegoria da mensagem mais simples do evangelho. Daí que, levado pela lenda, há quem veja no homem que partilhou as suas vestes com quem delas precisava o rosto do próprio Cristo. Sem necessidade de rebuscados exercícios teológicos...

O que têm o vinho e o porquinho a ver com São Martinho é uma relação que desconheço. Mas se isso significar, por exemplo, que a terra fecunda é local de regresso e purificação, então subscrevo.

sábado, 8 de novembro de 2008

U.S.A (3)


" Um homem não chora, claro. Um homem não chora diante da televisão apenas por estar emocionado com as imagens da vitória de Barack Obama. Um homem morde os lábios, engole em seco e sustém as lágrimas para que não o vejam torrencialmente feliz por estar vivo para asssistir ao dia em que um negro vence as eleições presidenciais num país que, não há muito tempo, praticava oficialmente a segregação racial e onde ainda existe uma coisa atroz, absurda, como o Ku Klux Klan. Um homem não chora nem admite que, às vezes, muito de vez em quando, ainda sonha. Um homem não chora, claro, mas, que diabo!, todos temos direito a um momento de fraqueza, a ser ridículos e lamechas, a tomar a sério uma variação actualizada daquela frase mais que batida: não esperes por aquilo que Obama pode fazer pelo mundo; pensa no que podes tu fazer para ajudar a mudá-lo. "


do blogue do jornalista Manuel Jorge Marmelo .

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

U.S.A (2)


Obama promete. E o que promete , promete. Segue a primeira cena do primeiro capítulo da promessa. Barack Obama escolheu o seu chefe de gabinete. A nota biográfica do homem é tão curiosa, que , como era natural, promete:

" Emanuel was born in Chicago, Illinois. His father, the Jerusalem-born Benjamin M. Emanuel, is a pediatrician and was a member of the Irgun, a militant Zionist group active during the British Mandate of Palestine. His mother, Martha Smulevitz, worked as an X-ray technician and was the daughter of a local union organizer.[1] She became a civil rights activist; she was also once the owner of a Chicago-area rock and roll club.[5] The two met in Chicago in the 1950s.[6] Emanuel's older brother, Ezekiel, is a noted oncologist and bioethicist, and his brother, Ari, is a talent agent in Los Angeles and inspired Jeremy Piven's character Ari Gold on the HBO series Entourage.[1] Emanuel himself is also the inspiration for the character Josh Lyman on The West Wing.[1] He also has a younger sister named Shoshanna, 14 years his junior.[1]

When his family lived in Chicago, he attended Bernard Zell Anshe Emet Day School, a Jewish day school. After his family moved to Wilmette, he attended public school: Romona School, Wilmette Junior High School, and New Trier High School.[6] Emanuel was encouraged by his mother to take ballet lessons as a boy and is a graduate of the Evanston School of Ballet. He won a scholarship to the Joffrey Ballet but turned it down to attend Sarah Lawrence College, a liberal arts school with a strong dance program.[1][7]He graduated from college in 1981, and went on to receive a master's degree in Speech and Communication from Northwestern University in 1985. While still a student at Sarah Lawrence, he joined the congressional campaign of David Robinson of Chicago."

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

U.S.A.


Reconheço. Sou dos poucos europeus que não dizem mal do Presidente Bush e que não têm uma percepção negativa da sua administração. Acho que já não vou a tempo de arrepiar caminho porque a caminho está um novo presidente. É assim, ninguém é perfeito e eu também não.
De qualquer modo, e até porque sou um bocadinho teimoso, não ficaria bem comigo próprio se não propusesse aos leitores que ouvissem, com atenção, uma declaração a propósito da eleição de Barack Obama.

Ei-la


e obrigado, pela parte que me toca, a quem as ouviu com atenção.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

escola real (XIV)


1-" Quase todos os professores com muita "estrada" vos dirão o mesmo - os críticos mais severos acoitam-se dentro de nós. Porque os anos ensinaram rotinas que maquilham a falta de inspiração e o consequente triste debitar da matéria, sem chama que desperte a curiosidade dos alunos. Mas aula acabada, espelhos íntimos não mentem - fomos medíocres e não medianos."

É um paragráfo que subscrevo e que foi transcrito daqui. Somos bonzinhos, os professores e só quem é bonzinho faz auto-crítica.

2 - A obamamania parece ter chegado a locais mais ou menos improváveis. Hoje, os meus alunos de Desporto ensaiaram em plena aula, sem que nada o fizesse prever, um movimento colectivo de apoio ao candidato democrata consubstanciado numa entoação ritmada do vocábulo: " Obama,Obama". Depois, como se eu fora desinformado, o Adérito justificou-se : " sabe, stôr, ele é negrinho."

nota - A malta lá de cima é a quase totalidade da turma, num destes dias , quando fomos trabalhar para "o terreno".( ai se eles sabem que ando a mostrá-los no "Algeroz!"...)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

correr...(1)


O mundo da corrida tem um lado conservador e outro francamente revolucionário. O lado mais conservador tem a ver com a quantidade de bigodes farfalhudos que ainda hoje se vêm entre aqueles que compõem o enorme pelotão de atletas amadores, não obstante ser esse o estereótipo do jogador de futebol dos anos 80 do século passado. O lado revolucionário é o igualitarismo que o calção de licra e a camisa de alças parecem promover: naqueles preparos e decorridos uns quilómetros é muito difícil distinguir o doutor do trolha.
Encontra-se gente curiosa e agradável, também. O esforço, o sofrimento e a concentração não são incompatíveis com aquilo a que se costuma chamar de “ o encontro com o outro”.
Fiz, este fim-de-semana a “ Corrida pela Saúde “ ( nº 587 ) pelas avenidas e ruas das cidade da Amadora . Foram 14200 metros serpenteantes e cheios de rampas e rampinhas como que a dizer que Lisboa não é a única a ter colinas. Meti conversa com o companheiro de corrida - de bigode farafalhudo - que ora se me colava , ora descolava. Estranhei o facto mas rapidamente percebi que ele estava munido de máquina fotográfica e parava a espaços para fazer a reportagem do evento que ele próprio integrava para depois retomar o seu passo, novamente na minha companhia. Decidia o momento de parar e fotografar conforme o local lhe parecesse mais adequado, do ponto de vista da abrangência do ponto de vista ou da estética. Foi assim no cima duma rampa interminável na Amadora e naquela que dá acesso ao Hospital Amadora – Sintra ou junto ao Palácio de Queluz. Não se fotografava a ele próprio mas aos atletas anónimos com os quais partilhou o esforço.
Não há nada de mais desmotivador do que parar no meio do esforço e depois, de novo, retomar o ritmo, a custo adquirido. Mas para este amigo que arranjei, mais importante do que a solidão do objectivo alcançado é, pelos vistos, a captação do momento, a percepção do belo e a valorização do esforço que é dos outros.
Por estas e por outras, tantas outras, é que costumo dizer que se aprende muito, neste pequeno mundo que é o atletismo amador.

sábado, 1 de novembro de 2008

AC/dc (1)


( ao vivo - 1985)


( ao vivo - 2003)

os AC/CD reinventaram o rock’n roll criando um estilo único e inconfundível que não obstante ser mais do mesmo desde há não sei quantos anos, vai criando e arrastando atrás de si multidões de fiéis entusiastas. Eu , - não obstante estar cheio de cabelos brancos e estar cansado e ter as costas encurvadas, como expressão metafórica e real do peso da idade, tal e qual como os membros da banda que são uns rapazes australianos que terão nascido quando eu nasci – sou um desses entusiastas, quase acríticos, loucamente incondicionais. Editaram recentemente um novo álbum do qual tenciono colocar aqui, em breve, alguns temas.

Hoje o fantástico ALGEROZ! disponibiliza duas versões de Whole Lotta Rosie , ao vivo, distanciadas entre elas por quase 20 anos e por um percurso com poucas quebras, a não ser a notória parcimónia ao nível da expressão corporal que se foi gradual e naturalmente instalando naqueles corpos - vísivel na segunda versão - e que o passar do tempo querem mas não podem ignorar, como parecem fazer os seus donos.