segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

...na morte de António Alçada Baptista



Ele próprio, Bethânia, O´Neill , Pessoa e a exaltação da lusofonia.

AINDA O CHERNE
23/03/2002 | Vasco Graça Moura

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De repente, Alexandre O"Neill foi recordado. Referências ao seu poema "Sigamos o cherne!" saltaram para tudo o que é comunicação social, mas provavelmente houve muita gente que não se preocupou com a sua releitura.

É pena. O cherne de O"Neill foi escrito, segundo a própria epígrafe do poema, "depois de ver o filme "O Mundo do Silêncio" de Jacques-Yves Cousteau", contextualização que aponta logo para uma dimensão ligada às profundezas que dá o sentido ao poema.

Trata-se de um poema de amor, de um convite à viagem íntima, como resulta logo dos dois primeiros versos: "Sigamos o cherne, minha Amiga! / Desçamos ao fundo do desejo".

O cherne é uma metáfora daquilo que há no mais fundo de nós ("Em cada um de nós circula o cherne, / Quase sempre mentido e olvidado"). Uma metáfora daquilo que em nós se arrisca a ser traído, recalcado e frustrado. E por isso devemos segui-lo, sob pena de o perdermos e de nos perdermos: "mentido o cherne a vida inteira / Não somos mais que solidão e mágoa".

A estupidez bronca das reacções que a citação feita por Margarida Sousa Uva suscitou, torna ainda mais actuais outros versos de O"Neill: "Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo, / golpe até ao osso, fome sem entretém, / rocim engraxado, / feira cabisbaixa, / meu remorso, / meu remorso de todos nós..."

2 comentários:

MariaV disse...

Olá, Miguel,

O António Alçada Baptista é talvez o mais feminino dos nossos escritores. E isto não tem nada de depreciativo. Pelo contrário, é a maneira como consigo definir a sua enorme sensibilidade. E vou começar hoje a reler o Riso de Deus.

miguel disse...

Olá Maria: sê muito bem vinda ao cantiho de comentários do Algeroz!