sábado, 20 de dezembro de 2008

poesia (8)


As carruagens do comboio da poesia que eu gosto são incontáveis. O mérito, claro, é dos poetas , dos poetas escondidos que existem de entre aqueles com quem me cruzo diariamente e também, claro, dos poetas que têm prestígio e reconhecimento público.

Hoje transcrevo mais dois poemas, que habitam categorias diferentes, daquelas que dividem o meu comboio da poesia. O primeiro, foi escrito por uma jovem do 8º ano e que foi premiado no âmbito do " Prémio Literário José Gomes Ferreira" promovido, este ano, pela escola com o mesmo nome. É um poema belíssimo revelador de uma enorme maturidade. O segundo é da autoria de um amigo meu que se inspirou em memórias de infância para construir um texto poético de fundo ligeiramente machista como eu gosto, cheio de um improvável humor, repleto de verdade e ironia e , por tudo isto, muitíssimo bem conseguido.

Aqui vão:

ADEUS À PÁTRIA

Deixo a minha pátria,
minha gente.
Não vou contente...
Deixo família, levo saudade.
E de verdade...
não quero ir!
Faço-o pela minha pátria
e não por mim.
Não quero que seja assim!
Ir e talvez não voltar...
Difícil de imaginar.
Ir pela minha pátria,
e morrer por ela...
Não quero ser mártir...
Adeus meu povo, sou escravo da guerra.
Adeus meu povo,
sou escravo da guerra.
Adeus gente da minha terra,
de meu berço...
Adeus!

( Catarina Monteiro - 8º4 - Escola Secundária José Gomes Ferreira )

HISTORIETA VENEZIANA

Será que alguém sabia
Que o Signor Lucca de Rabia
e o Duque Theo de Manzanares
Se enfrentaram
E lutaram
Num duelo sangrento
Para pedir em casamento
A bela Laura di Stendici

Eram seis e dez em ponto
Quando as armas se voltaram em confronto
E dispararam quase simultaneamente
Lucca morreu com um tiro no peito
Theo ficou agónico, com a bala de Lucca no rim direito

Enquanto isso,
Aquecida pelo belo edredão,
Que ostentava o brasão
dos Manzanares,
Laura fornicava na sua cama
com o irmão de Lucca e primo de Theo,
Enrique de Chirimoya y Olivares

“Ouviste aquele barulho?” – perguntou
Ele inclinou-se, beijou-a e comentou:
“Devem ser Lucca e Theo a discutir quem matou mais narcejas”
“Excitas-me tanto, meu amor, quando gracejas!”
– riu-se a dama.


( Mário Cordeiro )

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