quarta-feira, 25 de junho de 2008

a escola real (X)


Nunca é demais avisar os Professores que, juram a pés juntos, têm sempre a cabeça no seu lugar : NUNCA PERCAM A CABEÇA ! Perder a cabeça é relativamente fácil, facilidade essa que nem sempre é óbvia, mas não sai barato e pode custar até milhões de coisas más, tão más que um tipo vai lamentar-se a vida toda.

"Il y a cinq mois, José Laboureur, professeur du collège Gilles-de-Chin de Berlaimont, dans le Nord, avait poussé contre une porte puis giflé un élève de 11 ans qui l'avait traité de "connard". Le père du mineur, gendarme, avait déposé plainte. Le professeur de technologie avait été placé en garde à vue pendant 24 heures, puis cité à comparaître pour "violences aggravées sur mineur". Son procès s'ouvre, mercredi 25 juin, devant le tribunal correctionnel d'Avesnes-sur-Helpe. "

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sábado, 21 de junho de 2008

desporto (IV)


Os sonhos são para mim um mistério absolutamente fascinante. Falo, claro, dos sonhos que temos a dormir, não daqueles, globalmente patetas, que a maioria das pessoas têm, acordadas, como por exemplo, conseguir a adivinhação dos números do euromilhões ou que poucas têm, como verem-se, um dia, a festejar a proibição da circulação automóvel na praia do Baleal, perto de Peniche.

Sonho muito pouco. E , do ponto de vista qualitativo, os meus sonhos deixam a desejar: contam-se, pelos dedos, os sonhos eróticos que tive , nos últimos anos. Mas sonho de vez em quando; como hoje. Foi um sonho que tem a ver com o tempo que vivemos. ( é engraçado como nos sonhos, sendo eles tão inexplicáveis, a respectiva narrativa, espaço e personagens contêm em si, geralmente factos e fenómenos plenos de contemporaneidade). Associei, desta vez, desporto - espectáculo, na sua componente de execução técnica com uma trama, que, parece-me, se desenvolveu numa fracção de segundo. Descobri isto depois de acordar, ou , talvez, concomitantemente com a consequência do sonho, não sei bem.

Explico: Dei, hoje, por mim ( já acordado?, ainda a sonhar?) descrevendo uma trajectória elíptica pelo espaço aéreo que envolve a minha cama e o chão, ao mesmo tempo que levava à prática um daqueles pontapés acrobáticos ( veja-se a imagem) em que um jogador pontapeia a bola, lateralmente, com as duas pernas no ar e acerta com ela dentro da baliza, com estrondo e arte. A arte não sei se aconteceu. O estrondo sim, porque foi testemunhado pela minha mulher: bati , ruidosamente com o joelho no chão ( e também com o corpo todo) e senti logo, bem acordado, uma violenta dor que ainda agora me faz hesitar entre ir ou não ir ao centro de saúde para que os profissionais digam de sua justiça.

Sou mais adepto do desporto-prática do que desporto-espectáculo. Muito mais. Mas parece-me que aquele Portugal – Alemanha de um dia de Junho em Basileia se constituiu como um selo no meu inconsciente ou no meu sub-consciente. O que, se assim fôr, atesta bem a força, enorme, que o fenómeno desportivo tem e toda a magia inerente ao quadro, aparentemente vulgar, em que vinte e dois jovens correm, desenfreadamente, atrás duma bola em busca de a colocar dentro de uma baliza.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

a morte saiu à rua...


Morreu um homem no meio da rua. Quis a Paula que eu me cruzasse com a morte do homem; quer dizer, sugeriu que eu aparasse a barba às 9H00 da manhã daquele dia porquanto já levava mais de outros quinze sem o fazer e o meu rosto evoluía já , do ponto de vista da expressão, do ar duro do Chuck Norris para a bonomia do Capitão Igloo.

Está bem de ver que o homem morreu bem perto da barbearia. Percebi-lhe, de imediato, o fim. E percebi-lhe também de imediato a causa do fim: um AVC dito hemorrágico; tinha o rosto cor de vinho. A multidão guardava já um silêncio inusual para um episódio de meio da rua, manhã cedo: o fascínio da morte instalara-se naquela gente.

Decidi fazer aquilo que constituía o motivo da minha presença ali. Entrei na barbearia , depois de me informarem que o INEM estava a caminho. Garanto que esqueci por minutos o episódio raro daquela morte em directo. Relembrei-o quando ouvi a sirene da ambulância. Imaginei então a cena. Confirmei o que imaginava , pouco depois. Os socorristas tinham arrastado o homem para o local exacto por onde eu teria de passar para poder sair da barbearia e procediam a manobras de reanimação, inúteis, como eles e nós bem o sabíamos. Saltei por cima do aparato e fixei então , primeiro, o rosto do defunto: quanta serenidade no rosto , quanta poesia naquele olhar fixo para lá do infinito. Um meio sorriso, belíssimo, completava o quadro. Fiz, depois, escorrer o olhar pelo resto do corpo do homem. E em resposta à massagem cardíaca que lhe era aplicada , o enorme volume do abdómen ganhava uma animação rítmica como se fosse uma gelatina, grande e alva.

Não me detive mais com o olhar e regressei pelo caminho de onde tinha vindo Fui o único. a multidão permanecia, certamente cogitante, claramente fascinada, respeitosamente silenciosa, como personagens de um grande exército como aquele que o chineses construíram e cujas figuras são feitas de terracota.

Mas a coreografia do abdómen volumoso do homem morto induziu em mim, desde esse momento e por largas horas, a reflexão abrangente sobre estilos de vida, sobre auto-destruição, sobre cozinha tradicional e aquela mais requintada, sobre sedentarismo e também lembrei os teóricos do vinho e da cerveja e a importância destes produtos na economia nacional e por fim a temática, ainda mais abrangente e muito filosófica sobre o morrer com saúde, tarde, do que sem ela. , cedo. Lembrei que corro que me farto e lembrei-me de fazer o elogio da magreza saudável que é a minha. À noite, com os filhos, fiz uma deriva científica sobre causas e efeitos dos AVC, acabando por fazer a pedagogia da alimentação racional e da actividade física regular.

E ia concluíndo pela evitabilidade da morte. Não cheguei a tanto.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

a escola real (IX)


O sol ilumina agora aquela árvore, verdíssima, que posso ver para lá das molduras em PVC, também elas verdes, que suportam as vidraças sobre cuja transparência me dou ao luxo quase pela primeira vez, este ano, de reflectir.

O sol ilumina a árvore, sim , mas interessa-me mais a metáfora desta iluminação; como metáfora é dizer que o sol ilumina os rostos, outrora tensos, outrora provocadores, do João e da Joana mas também do Tóni e da Indira Ghandi ( assim mesmo, no B.I.).

E hoje descobri sem esforço a estética inerente à simulação quase perfeita com que o Wilson se tem vindo a transformar em Lenny Kravitz; quer dizer, ele descobriu a descoberta que fiz e a cumplicidade entre nós escorreu com a facilidade que devia acontecer todos os dias.

Os sorrisos andam por ali, na versão menos forçada, isto é, naquela outra em tudo diferente da sorriso, versão do desencanto, ou da ironia ou até do cinismo que tem em si o timbre da precocidade.

Pudera.

As aulas acabaram por este ano, e a trégua – o desiderato essencial da nossa curta viagem – instalou-se para ficar, apenas enquanto a escola se vai esvaziando e as nuvens do Outono não se fizerem ouvir de novo.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

AS MINHAS 6 ( ALIÁS 7) CARACTERÍSTICAS


Pede-me a talentosíssima Ana ( agora em parceria com o polemista PSB ) que eu me defina em 6 palavras. Cruel desafio. Na solidão das minhas noites, nos diálogos em surdina que estabeleço com os meus botões, na intimidade do WC ( nu, em frente ao espelho ) tenho a melhor impressão de mim próprio e a pior das impressões do mundo todo, inteligível.No entanto, no palco em que ando todos os dias dou como inconfessáveis os defeitos com que me defino. E piores eles tendem a tornar-se , quanto mais a plateia - que as minhas confissões incompletas testemunha - se verga ao peso da admiração com que parece absorver o tamanho desamor que demonstro por mim próprio.

Por não querer fugir ao desafio pus-me a pensar um pouco sobre a questão e decidi abordá-la empreendendo uma fuga para a frente, buscando aquilo que é universal, em desfavor do pormenor que entroniza o santo ou lança o crápula nas profundezas do desprezo dos outros.

E foi assim que cheguei aos 7 ( mais um que 6 )pecados capitais que constitui uma crudelíssima classificação de vícios com a qual a Igreja pretende educar e proteger os seus cruéis crentes , no sentido de os afastar da hipótese de habitar, um dia, a cruel canícula do fogo eterno.

EIS OS PECADOS CAPITAIS:

VAIDADE
INVEJA
IRA
PREGUIÇA
AVAREZA
GULA
LUXÚRIA

E concluí o seguinte, não sem espanto : no deve e no haver dos pecados capitais que é uma espécie de orçamento infinito que vai sendo elaborado ao centésimo de segundo, e fazendo a prospectiva do julgamento final, em que numa escala de 0 a 20, o pecador terá de pelo menos conseguir a classificação de 10 para se livrar já sabemos do quê, eu diria, em relação à minha pessoa que:

Andarei provavelmente por um suficiente ( 10-13) . Ficaria negativo no item preguiça, pelo que teria de me sujeitar a provas suplementares .

Antes que me lixe, já estou a tratar de subir a nota. Por isso, voltei!