Não obstante ter já ultrapassado, seguramente, metade do tempo que disponho para viver, há emoções, ligadas a determinadas expectativas e acontecimentos, que não controlo. Torno-me então no mais pueril dos cinquentões.
Eu sou assim, com a neve. Tive, já, o incrível - por raro e improvável - privilégio de subir a serra de Sintra debaixo de um nevão, no decorrer de uma prova de atletismo. Doutra vez, assisti, de onde estou neste momento – o escritório da minha casa em Lisboa – à transformação das gotas de um chuvisco em levíssimos flocos brancos que me entraram pela janela e me lavaram, como nunca, este rosto tão carente de purificação. Gritei, então, saltei , telefonei a meio-mundo , anunciei o facto como se fora eu o único a dele tomar conhecimento. Obriguei os meus filhos a largar afazeres e brincadeiras, e invadir a rua e gritar e brincar. Debalde, aliás, para meu enorme espanto.
Eu sou assim. Hoje, dia 29 de Novembro, estou na expectativa. Consulto, avidamente, o boletim meteorológico. Metade do país encontra-se debaixo de um manto de neve. Lisboa está, apenas molhada e fria. Mas faço contas: menos 2 ou 3 graus e… Fixo a cor das nuvens, concentro-me nas características da água que cai do céu. Interpreto, a meu gosto, as imagens de satélite. E sonho com o milagre repetido.
Eu sou assim. Metade do país está sobre um manto branco de neve e eu ,regressado à infância, suspenso de um capricho da natureza. Para mim, o presente que me desculpe, vai ter que esperar um pouco.
Concerto FCG
Há 2 dias
3 comentários:
Compreendo, Miguel. Lembro-me da primeira vez que fui a Munique com a universidade e começou a nevar em pleno castelo das Ninfas. Pusemo-nos todos aos saltos, alunos finalistas, radiantes pois não víamos neve há anos largos, desde 1954, quando nevou muito em Lx e a Outra Banda ficou toda branca...acreditas?
Aqui no Porto só vi nevar uma vez, mas estive em Chaves dois anos e na Beira Baixa onde nevava perto e era lindo, íamos todos para os bosques e montes.
Ainda hoje gosto, adoro as paisagens puras e as árvores vestidas de branco. è lindo.
Hoje, fui correr e a água da chuva estava gelada, parecia pregos a cairem em cima da minha cabeça. Eu tinha as mãos geladas e dizia para o meu parceiro de treino: é agora!
Não foi. Mas pelo andar da carruagem falta pouco. Amanhã e depois desce a temperatura...
e o meu pai tem fotos de Lisboa em 54... O adro da Igreja Santo Condestável ( Campo de Ourique )todo branco, 4 anos antes de eu nascer.
Mas já tenho que contar porque, há dois anos, a neve chegou a " pegar" , em montinhos,aqui, na serra de Monsanto a 1200 da minha casa. A serra de Montejunto estava totalmente coberta de neve. Cabanas de Torres, no sopé, ficou com um manto de 40 cm.
Enfim, a região de Lisboa quase parecia o Alasca :
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