terça-feira, 18 de novembro de 2008

escola real (XV - a)

O momento da Educação em Portugal é daqueles assuntos para cuja clarificação nenhum comentário ou opinião ou ponto de vista são demais. Por isso, VIRGÍNIA E ANÓNIMO (ilustres comentadores da entrada anterior) venham muitos mais, seja ou não este blogue um cais onde afluem multidões - e claro que não é.

Ontem, num debate na SIC , José Luís Saldanha Sanches, opinou, serena e telegraficamente, sobre a avaliação dos professores chamando a atenção para a natureza do impulso reformista da ministra ( a própria avaliação; a consolidação de uma ideia de hierarquia; a atribuição de mais trabalho aos professores, na perspectiva de " uma escola a tempo inteiro" ; etc) e a resistência dos professores a esse impulso. Entende Saldanha Sanches que esta resistência radica no carácter quase auto-gestionário da actividade docente nos últimos 20 anos, num contexto em que os afectos , a criatividade, a improvisação e o trabalho solitário se sobrepuseram ao primado da lei e de uma certa ordem ( hierárquica, de competências , etc).

Sendo parte de uma verdade que é, ela própria, um complicado puzzle, a opinião de Saldanha Sanches merece , talvez, uma abordagem séria, daquelas que repousam na auto-crítica que os professores sabem, como ninguém, exercitar.

3 comentários:

Anónimo disse...

http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/453083

Aqui está um contributo para esta complexa questão...

miguel disse...

Bem escrito como sempre, susceptivel de ser rebatido em muitos pontos, o que é uma novidade.

Virginia disse...

Não concordo que não tenha havido hierarquias na escola recente.

Mas sei que em tempos idos a escola vivia de muita carolice, imaginação, afectos, improvisação e , mais importante de tudo, vocações para o ensino. Pagava-se mal quando comecei a leccionar e quem pudesse preferiria outra ocupação.

Como já disse algures, nos dois primeiros anos - estágio e primeiro ano, tinha aulas à tarde ao sábado e cinco horas seguidas em quatro dias, o que me deixava extenuada. Mas o resto do tempo era em casa, a preparar aulas e materiais, a ver e fazer testes. Reuniões quase não havia, nunca foi tarefa nossa discutir despachos até à medula, redigir actas em série, intercalares, conselhos pedagógicos, etc. Eram 24 horas lectivas, mas sobrava tempo para sonhar, ler, descansar.

Há uns 20 anos tudo mudou, multiplicaram-se as reuniões para discutir o sexo dos anjos, a arquitectura das salas de aula, a falta de estuque do tecto, os graffiti nas casas de banho , a relva dos jardins ou as cordas do ginásio.Tudo é pretexto para reuniões e ai de quem tiver uma ideia peregrina e resolver levar os alunos ao cinema porque lhe apetece naquele dia fazer algo diferente ( fi-lo por muitas vezes)...tudo é controlado pela hierarquia...que existe sobretudo para cercear as nossas veleidades.

Fui coordenadora do Comenius durante três anos e o trabalho burocrático era tanto que deixavamos de ter vontade de organizar o que quer que fosse - a UE tb vive mergulhada em papelada e discussões de lana caprina à imagem do nosso sistema de ensino. Ninguém confia em ninguém , tudo tem de ser avaliado, como se a Pedagogia obedecesse a leis inexoráveis a a criatividade ou mesmo a responsabilidade dum professor se tornasse perigosa.