quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

aforismos de algeroz (II)

AS CARREIRAS E OS CARREIRISTAS SÃO ( Deus nos perdoe...) DE ABOMINAR. TOME-SE COMO EXCEPÇÃO A LISBOETA CARREIRA Nº 28, entre os Prazeres e a Graça e os Prazeres MAIS, EVIDENTEMENTE, OS RESPECTIVOS guarda-freios.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

escola real (IV)




Tenho os meus alunos em estágio. A escolha das instituições formadoras foi minha, baseada em critérios de proximidade geográfica, de natureza sociológica e, egoisticamente, numa certa concepção do desporto "bom" que eu gosto de transmitir aos jovens cujo percurso escolar se cruza com o meu percurso profissional. Uns deslocam-se diariamente para o Sporting Clube da Reboleira e Damaia , com alma embutida na personalidade do fantástico Sr. Marques, do qual falarei um dia. Outros estão na Associação Cultural Moinho da Juventude, com sede no Bairo da Cova da Moura que é, hoje por hoje, o "must" em bairros problemáticos, o tema de todos os "clichés" quando é para falar em pretos e delinquência. Mas como em tudo entre a ficção e a realidade vai muitas vezes um mundo. Digamos que, a exemplo das duas fotografias acima publicadas, há duas realidades, sempre dinâmicas, na Cova da Moura. Uma, a dos que se perdem; outra, a dos que se encontram e promovem encontros. O Moinho da Juventude é, desde há anos, um promotor de encontros, um farol, um guia, um depósito da esperança. Eu sou daquelas testemunhas que não especula porque anda lá onde as coisas acontecem e percebe que alguma coisa vai mudando, lentamente.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

aforismos de algeroz (I)

TODA A MULHER QUE NADA OU POUCO AMOU EM VIDA O SEU MARIDO, É AO MENOS POUPADA AO PESO INSUPORTÁVEL DA SAUDADE, NA SUA EVENTUAL VIUVEZ.

sábado, 19 de janeiro de 2008

a escola real (III)


alicerces (1)
Leio dois parágrafos muito interessantes na introdução ao livro de Ciências Naturais do 8º ano adoptado pela escola do meu filho:
" (...) a sedentarização implicou a divisão do trabalho e o aparecimento de castas sociais. Algumas tornaram-se dominantes, mais ricas e detentoras de bens para lá das suas necessidades. Este foi, provavelmente, o facto que mais contribuiu para a intensificação da exploração dos recursos naturais.

Depois, sobretudo a partir da revolução industrial, o progresso técnico e cintífico e os avanços da medicina conduziram a um crescimento ainda maior, quer da população humana, quer da tendência crescente para acumulação de bens, desquilibrada, ou seja, mal distribuída, se consideradas as necessidades. Neste contexto a sobreexploração dos recursos naturais tornou-se ainda mais marcante (...)".
Como os alunos nada ligam à introdução dos seus manuais escolares e os professores pouco fazem para os estimular ao facto de qualquer texto, para ser entendido, vir munido de um cenário introdutório, o que transcrevi não será mais que uma excrescência - como todas as excrescências - dispensável, no conjunto de conteúdos que o meu filho tem que dominar para transitar de ano.
É pena, porque há no texto uma substância de que são feitos os alicerces: ausentes da vista imediata; construídos a montante daquilo que é o aparente bem-estar; fundos, perenes e pensados para resistir.
Exigir tudo da escola ou pensar em mudá-la radicalmente, lançando o ónus da mudança sobre os seus actores sem ter em conta as condições de in-put dos aprendizados e dos projectos é "meter a cabeça de baixo da areia". Eu , como já dei para este filme, vou tentando não me enterrar.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

cantinho do piroso que nunca deixei de ser...(X)



Passa-se comigo um fenómeno à escala pessoal ( por isso de ínfimo impacto na problemática mundial ) mas que passo a explicar: desde que iniciei a saga diária do meu "Algeroz!" leio muito menos blogues do que aqueles - muitos - que lia e concentro-me quase exclusivamente na leitura dos blogues dos amigos - aqueles para quem eu faço uma hiperligação na coluna da direita. Assim, o que perco em abrangência de propostas e sensibilidades, vou ganhando em acréscimo de ligação afectiva a um conjunto de pessoas que escrevem, diga-se de passagem, todas elas muito bem, que é, aliás, a primeirissima condição para eu me apegar a um blogue. Encaro hoje a blogosfera numa dimensão mais intimista do que a encarava antes, sem o querer.
É por isso que dedico esta reposição de uma canção do EROS ( desta vez ao vivo e a cores ) a uma amiga - quase - virtual e a um amigo ainda mais virtual , de cujo nome e algumas características pessoais tomei conhecimento recentemente através dos testemunhos de amigos comuns. Eles vivem juntos, estão longe fisicamente, reencontrar-se- ão, tanto quanto sei, em breve e têm o seu poiso nas margens de um delta longínquo e , para mim, inacessível do qual constroiem a vida e no qual, imagino, convivem diariamente com a vida toda, onde o luar será mais branco reflectido na água e nos pântanos; o verde terá tantos tons quantos os imaginados e não imaginados; e, à falta de pessoas, mil e uma outras espécies de seres vivos tecem um quotidiano sempre renovado.
A canção , na sua piroseira, tem uma mensagenzinha que recomenda força nessa saga, por vezes complicada, que é viver. Que a cantem a solo ou a duo, e também a cantem nas margens do rio, à laia de sermão, aos peixinhos e aos mariscos para que eles ganhem um impulso reprodutor que vos deixe descansados e se transformem numa quantidade tal que comecem a invadir o oceano e assim vão construindo uma ponte entre esse horizonte e esta margem europeia na qual vocês, seguramente, repousam muitas vezes o pensamento.
Eis, então, o Eros, sempre cheio de maneirismos e careca tapada, mas com o estilo que arrasta multidões!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

... não há outro que conhece tudo o que acontece em mim

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Ao contrário da maioria das pessoas, não me interessa saber se Deus existe, mas interessa-me , sim, o que é Deus , do ponto de vista da teologia. Eu sei que é quase impossível deixar de O ver como um Homem relativamente velho e barbudo - mas saudável e clarividente - quase só constituído por cabeça e tronco e que nos olha, ora ternamente, ora com censura, algures na esfera celeste, um pouco acima do azul atmosférico e não demasiado longe da terra como se esta fosse o centro do universo.

Estes detalhes anatómicos remetem, no entanto, para a mais redutora e infantilizada perspectiva do transcendente que imaginamos, longe de uma outra ideia de Deus que consiste numa imagem inacabada porque implica uma procura constante e uma descoberta gradual, apontadas ambas para os outros e para as coisas. Uma vez entendida a Sua essência, abre-se um novo caminho balizado pelo amor, pela alegria e pela liberdade interior. E, convenhamos, esta perspectiva de Deus - de projecto, de descoberta - pode tornar-se realista , reconfortante, e, antes de mais, pode-se constituir como projecto abrangente de uma vida, acredite-se ou não na Sua existência.

Sinto,então, por vezes , também, a necessidade de Deus como um juíz. Preocupa-me esta deriva em que costumamos caminhar - este farol ausente - que nos leva a interpretar o outro, geralmente pela negativa, criando cifras constantes para aquilo que é o indecifrável - os estados de alma; as razões do coração; a medida do olhar. Porque neste particular dos juízos de valor e quando me colocam ou coloco os outros em patamares da santidade ou no calor infernal da casa de lúcifer, tenho de perceber que a resposta certeira é uma impossibilidade ou como diz o povo na sua imensa sabedoria ... " só Deus sabe".

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

a escola real...(II)




Numa das fotografias - a óbvia - estão os alunos da minha escola, numa manhã relativamente fria de Dezembro de 2007, prestes a iniciar o corta-mato de Natal. Do ponto de vista formal, o momento é de concentração competitiva(?)

Há todo um mundo que separa os dois quadros. Um deles consubstancia a regra comum a todos os tempos: a luta contra o relógio; a superação; o esforço; "o fazer pela vida"; a competição regulamentada. O outro é a expressão do peso próprio da idade tenra mas também a ausência de motivo; a inexistência de horizontes; o desconhecimento do norte; a deriva.

Quando falha a construção de pontes entre estas margens é a escola que falha também. Mesmo assim há contrastes que fazem rir a bom rir.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

poeminhas que vou descobrindo...


Se Acaso Você Chegasse...
Se acaso você chegasse/ No meu chatô e encontrasse/ Aquela mulher/Que você gostou,/ Será que tinha coragem/ De trocar nossa amizade/Por ela que já lhe abandonou?

Eu falo porque essa dona/Já mora no meu barraco/ À beira de um regato/ E de um bosque em flor/ De dia, me lava a roupa,/ De noite, me beija a boca/ E assim, Nós vamos vivendo de amor.

Lupicínio Rodrigues

domingo, 13 de janeiro de 2008

Ángel González ( 1925 -2008)


Morreu o poeta espanhol Ángel González. A notícia não teria significado nenhum para mim há 15 dias atrás, simplesmente porque González era, então, para mim, um desconhecido. Acontece que me servi de um poema dele para entrar o ano, aqui, no Algeroz !, servindo-me da reprodução de uma imagem do Prohibido Fijar Carteles. E, neste período de tempo tão curto, torno, assim, a falar deste poeta recém-descoberto, como se fora um espécie de obituário. Ou como nunca é tarde para descobrir pessoas em vida, mesmo que a vida dessas pessoas se tenha tornado tão curta depois do momento da descoberta. Morreu um poeta do pessimismo do qual reproduzo mais um poema e outro:

Narración breve ( 1971)

La niña movió el aire con los labios.
Detrás de los cristales nadie supo
lo que dijo. Era triste
mirar a aquella gente
intentando aclarar una sonrisa.
Y sin embargo estaba todo claro:
la niña
había sonreído simplemente
Muerte en el olvido
Yo sé que existo porque tú me imaginas./ Soy alto porque tú me crees alto/, y limpio porque tú me miras con buenos ojos,con mirada limpia.
Tu pensamiento me hace inteligente,/ y en tu sencilla ternura, yo soy también sencillo y bondadoso.
Pero si tú me olvidas/ quedaré muerto sin que nadie lo sepa. /Verán viva mi carne, pero será otro hombre/-oscuro, torpe, malo- el que la habita…

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

"a escola real" (I)






Esta rúbrica " escola real " ( que eu pretendo ir actualizando, pelo menos enquanto me expuser no éter) é o ponto de vista, absolutamente íntimo, de quem vive a escola por dentro. Pretende-se que constitua um contraponto ao clima de fantasia que ocorre noutros locais onde a escola se desenha e se discute , locais esses que têm uma característica comum - são, sempre, exteriores à escola.
As fotos de hoje dizem-me muito: não pelo facto de serem da minha escola nem por serem das instalações desportivas da minha escola mas por terem sido pensadas e feitas pelos meus alunos do curso tecnológico de Desporto. O curso tecnológico de Desporto (CTD) é de carácter profissionalizante e tem equivalência ao 12º ano. Decorre em 3 anos e tem uma forte componente prática. Esta componente prática pouco tem a ver com a prática de desportos mas antes, por exemplo, com a organização de actividades ( animação, competição, etc.), estatística aplicada, registo e observação em contextos variados, saídas para o exterior para contactar o fenómeno desportivo nas suas várias vertentes, domínio das tecnologias de informação, video e fotografia e mais uma imensidade de competências que se pretende que os alunos adquiram. O último ano - aquele que agora ministro - é de consolidação e aplicação dessas competências, também em contexto real de trabalho ( estágio).
Os alunos que frequentam estes cursos têm geralmente um perfil idêntico entre eles: são jovens "difíceis", vítimas dos outros e, muitas vezes, deles próprios. Os meus alunos não fogem à regra, pelo contrário, confirma-na com todo o requinte e pormenor. Estou com eles há 3 anos e dou todas as disciplinas de carácter tecnológico que compõem o CTD e portanto tenho um capital de experiência acumulada que me dá legitimidade para o afirmar.
Neste dia - o dia em que as fotos foram feitas - ordenei-lhes que fossem fazer a reportagem fotográfica do equipamento e das instalações desportivas e informei-os que os melhores registos seriam afixados no site da escola. Pedi-lhes - utilizando um vocabulário adequado - que fossem criativos, que fugissem a uma estética vulgar feita de lugares - comuns e que se servissem do objecto a fotografar apenas como pretexto. Não esperei, naturalmente, grande coisa da tarefa que llhes impus mas o que saiu foi, na minha opinião, grande coisa, como se pode observar nos exemplos, até porque foram utilizados, também, telemóveis com câmera . E exulto com esta grande coisa porque "grandes coisas" é desiderato muito, muito dificil de atingir com estes jovens...garanto-vos. Fiquei mesmo satisfeito!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

sé que me quieres !

" Sé eh eh que me quieres/ no lo puedes negar ah ah/yo sé bien que me quieres/y ahora nada es igual. Sé eh eh que me quieres/ no me vas a engañar ah ah/aunque tú me lo ocultas/ lo puedo adivinar. "

nota - queridos Presuntos Implicados: Será que me apaixonei por vós? Sei que não podem dar-me respostas, mas retornar à vossa música e aos vossos poeminhas tão ligeiros e agradáveis, assim, em duas entradas seguidas, é prenúncio duma paixão- essa obsessão do diabo; essa euforia falaciosa; esse ignorar temporário deste mundo real , tão rico e tão farto de outras coisas tão boas . Não sei... A terceira, diz-se, que é
de vez. Vamos a ver se me controlo!

E sei que me queres, sim. Mas não me rio, num riso tão ligeiro como o riso da letra. A maior parte das vezes nem sorrio. Fico aliás confuso, não o entendo ; não o entendo quando o devo entender - aquele momento que é mensagem tua de que me queres. É que mo dás a entender às vezes com uma insolência; um descaro; uma silêncio;uma indiferença (um olhar com que dizes e eu não percebo)...Não sei mesmo, às vezes. É tarefa minha, sim, responder, rápido, ao desafio que me fazes nesses códigos tão estranhos de me dizeres que me queres , que precisas de mim nessa tua tarefa de crescer, seguro e livre. (Tu, sim, e os outros dois ). Tarefa de Pai, tarefa de Mãe. Tarefa entre outras de interpretar o amor que não se explica...













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terça-feira, 8 de janeiro de 2008

GENTE

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Gente que se despierta cuando aún es de noche/ y cocina cuando cae el sol/ gente que acompaña gente en hospitales, parques/ gente que despide, o que recibe a gente en los andenes/ gente que va de frente/que no esquiva tu mirada/ y que percibe en el viento cómo será el verano/cómo será el invierno ...

GENTE...a minha explicação

Estamos rodeados de gente por todos os lados mesmo quando procuramos refúgio na solidão do silêncio tenebroso das pedras. Que seria de cada um de nós sem o outro? Existiriamos? Somos aquilo que os outros dizem que nós somos. Fazemos ou não fazemos o quotidiano que os outros nos ensinaram. Haverá o eu sem o tu? Haverá humana tarefa que não se conjuge , de algum modo, no nós? Não serão o apelo do mar e a nostalgia da terra a metáfora do chamamento que fazemos ao outro, ausente, para que venha ao nosso encontro , renovado e puro?
Há gente extraordinária; porventura toda a gente. É no olhar que diariamente por nós lançado aos outros que a resposta é dada: eles são aquilo - extraordinário - que nós, neles, somos capazes de ver e vendo, querer : e querer implica o esforço e a vontade do olhar.
Os presuntos implicados ( intérpretes desta bonita gente ) passam a estar na galeria dos favoritos deste bloguista que não gosta de fronteiras, ainda por cima, edificadas por irmãos . Por esta e por outras, , vai dizendo , como o Pedro, que se sente também como gente da 18º comunidade autónoma.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Luiz Pacheco (1925-2007)


Somos cinco numa cama. Para a cabeceira, eu, a rapariga, o bebé de dias; para os pés, o miúdo e a miúda mais pequena. Toco com o pé numa rosca de carne meiga e macia: é a pernita da Lina, que dorme à minha frente. Apago a luz, cansado de ler parvoíces que só em português é possível ler, e viro-me para o lado esquerdo: é um hálito levemente soprado, pedindo beijos no escuro que me embala até adormecer. Voltamo-nos, remexemos, tomados pelo medo de estarmos vivos, pela alegria dos sonhos, quem sabe!, e encontramos, chocamos carne, carne que não é nossa, que é um exagero, um a-mais do nosso corpo mas aqui, tão perto e tão quente, é como se fosse nossa carne também: agarrada (palpitante, latejando) pelos nossos dedos; calada (dormindo, confiante) encostada ao nosso suor.”
“Comunidade”, Contraponto, 1964 -transcrito daqui

Não lhe conheço a obra, li-lhe ( e esqueci-os) textos dispersos e, claro, li agora - e vou lendo o que chegar - tudo aquilo que se escreveu a respeito da sua morte. Lembro-me dele a deambular por Campo de Ourique, há muitos anos, com a barba por fazer, uns óculos muito graduados, olhos esbugalhados e lembro-me dele no café Raiano - que era, então, o meu poiso e local das minhas tertúlias - com ar de quem já tinha bebido uns valentes copos de vinho e também com um ar de pessoa pouco asseada , a perguntar aos empregados onde é que era a casa de banho.E lembro-me de o ver, várias vezes, a sair da casa de banho, ainda a fechar a braguilha ( as calças talvez salpicadas de urina), de expressão aérea e de andar cambaleante. Lembro-me também da complacência dos empregados perante o quadro: " sabe? Ele é um escritor conhecido..."

Ele foi o protagonista de muitas das minhas cogitações ao longo destes anos: mas o homem, naqueles preparos, nunca mais morre? Hei-de comprar um livro dele. A sua iconoclastia fascina-me... identifico-me um pouco ( ou até muito ) com essa atitude. Onde é que ele andará hoje, agora?

É isso: admirei-lhe o desapego, a recusa de tudo e de nada, a dignidade própria rastejante e também pasmou-me a sua longevidade. Depois do belo texto que acima transcrevi , fico muito, muito curioso de o ler mais vezes e de o tornar conhecido de outras pessoas.


Bem, e se todos fossemos como ele, se os nossos ascendentes lhe tivessem seguido o exemplo, nem o Luiz saberia o que quer que fosse de alguma coisa porque nem escrita talvez houvesse. E o mundo talvez não fosse feito de tragédia e hipocrisia mas sim de muita poesia e de um regalo constante.

domingo, 6 de janeiro de 2008

solenes embirrações... (III)

Passadas as Santas festividades, cuja porta se fechou no dia 6 de Janeiro, até, mais ou menos, daqui a 365 dias menos um mês e qualquer coisa, é altura apropriada para descermos ao mundo real e com ele nos divertirmos. Portanto, aqui vão mais solenes embirrações, minhas, neste caso:

- Embirro com o futebolista do Sporting, Miguel Veloso, porque herdou (sem culpa) a expressão pouco brilhante do pai; porque exibe (com culpa) penteados ridículos, sem cair no ridículo; e porque é parecido (sem culpa ) com o mais xaroposo de todos os pianistas de salão que é o Richard Clayderman ( quando novo ) parodiado, aliás, pelo genial Herman José com o nome de "Richard Peiderman ".
- E já que falamos em Herman José, embirro com aqueles que dizem que o homem está ultrapassado e que não sabe fazer talk-shows, esquecendo ou fazendo querer esquecer a sua genialidade ( tout-court) e a sua habilidade fantástica para fazer humor e talk-shows.
- E embirro também, por antecipação, com aqueles que vão dizer um dia ( já faltou mais ) que os geniais "Gato Fedorento" , estão aqui, estão a exagerar e a perder a piada.
- Embirro com todo e qualquer produto televisivo com a chancela, directa ou indirecta, da TVI, a começar pelos apresentadores dos telejornais.
- Embirro com os pequeno-burgueses ( do jargão ideológico pós 25 de Abril ) a lavar e a enxaguar carros aos fins-de-semana nas máquinas "lava carros" manuais - cheios de esmero e atentos a todos os pormenores -e que reagem ao olhar de ódio e fascínio de quem embirra com eles com outro olhar como que a dizer "tens inveja do meu carro, ó palhaço????"
E espero de vós outras embirrações! ( a Vanessa não fica sem resposta )

sábado, 5 de janeiro de 2008

cantinho do piroso que nunca deixei de ser ...(VIII)

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BALZAQUIANA -A expressão foi cunhada após a publicação de um livro do francês Honoré de Balzac. Em As Mulheres de 30 Anos, o escritor realiza uma análise do destino das jovens na primeira metade do século XIX, em particular dentro do casamento. E faz uma apologia às mulheres de mais idade, que, amadurecidas, podem viver o amor com maior plenitude. É o que acontece à heroína da narrativa, Júlia. Ela se casa com um oficial do exército, mas depois descobre que a relação está longe de ser o que imaginava. Vê-se, então, presa a um matrimônio infeliz. Quando se torna uma trintona, porém, a moça consegue encontrar o amor nos braços de Carlos Vandenesse. (Retirado daqui )

Há tempos, num jantar com amigos, alguém referiu as "...balzaquianas". A referência integrou um contexto particular que agora não vem ao caso. Fiquei estrategicamente calado e fui deixando que os outros falassem mas também não deixei transparecer a dúvida que há muito transporto comigo.

" Pourra, afinal o que é uma balzaquiana ?". Pensava eu, por formação académica ( fui educado, pelos meus professores, na negação , feroz, do dualismo corpo-espírito) que balzaquiana era a eterna sonhadora, a que se apaixonava pela imagem do homem que nunca possuíria, que idealizava um amor perfeito a aparecer num amanhã perpétuo.

A definição que reproduzo não anda, talvez, muito longe daquilo que eu pensava. Mas tem o mérito de repôr a verdade histórica, objectivando aquilo que parece ser um conceito vago no tempo e nas motivações. Há , no entanto umas diferenças.

A verdadeira balzaquiana sonha com o amor perfeito mas tem todas as condições para o encontrar, mesmo sem ter os olhos fechados e mesmo sem navegar num conto de fadas. A idade pouco importa - hoje, por via do fantástico aumento da esperança de vida, estou convicto que a potencial balzaquiana há muito passou os trinta...os quarenta...os cinquenta... ( as ilusões vão-se cada mais mais tarde e que bom assim ser!). A balzaquiana não rejeita o sexo, pelo contrário, pratica-o com furor mas na condição do primado do afecto; de ele se sobrepôr ao instinto (deseja a virilidade e a santidade nas doses certas). A balzaquiana quer o mimo e quer também o olhar marejado de gratidão e ternura. A balzaquiana exige o poema e a flor ao fim do dia. A balzaquiana espera, mais que tudo, a carícia como promessa renovada.

Por isso cultiva a dúvida; a crítica; a exigência; a queixa; o amuo; a chamada de atenção; a lágrima sempre pronta a escorrer - como método. Por isso conjuga os verbos no condicional e no conjuntivo. Por isso espera e desespera...e assim vai pulando de relação em relação, na busca louca de respostas.

Dedico esta canção dos ibero - americanos Sin Bandera à balzaquiana ( e ao balzaquiano) que há em vós. E espero, também, da vossa parte, uma resposta criativa à pergunta deles ..." sera qué el tiempo fue minguando nuestras ganas???"

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

aveiro...finais de 2007



A fotografia resulta da pretensão do fotógrafo de dotá-la de uma estética diferente, mais ou menos arrojada. Entre o pretendido e o produto final existe muitas vezes um abismo. Terá sido o caso, neste particular. Mas, vejamos: aparecem, sem dúvida, por ali, uns barcos moliceiros. Em primeiro plano,temos um barco moliceiro engalanado, todo festivo. Por detrás, outros dois, ou melhor, um e meio.Há também, claramente, um canal, de águas aparentemente escuras, ou quase azuis, onde estão espelhados os reflexos dos embarcações. À direita, um prédio cinzento, de janelas altas, de fino recorte. Como estamos na cidade, temos também sinais da modernidade a que nenhuma delas escapa. E podemos também imaginar uma criança por detrás da vedação; e então podemos imaginar a vista que ela tem sobre o canal - um mundo limitado; esta será a mensagem, involuntaria, que retiro, por fim, da fotografia.


Aveiro estava , neste dia, muito luminosa, por via dos caprichos de um dia suave de inverno. É uma cidade que acolhe o rio e o mar como nenhuma outra. A sua ria acolhe aves extraordinárias que convivem aparentemente bem com o emaranhado de vias rápidas que a cortam. Aveiro tem os ovos moles e também um centro histórico muito bem tratado onde dá gosto passear.E tem outras duas outras características que realço: em nenhum momento parece ser uma cidade de província; há, na atmosfera e nas pessoas, uma cultura e uma ciência que contrasta com a rusticidade que sobrevive noutras cidades portuguesas. Mas tem em relação a Lisboa uma diferença : a luz invernal de Aveiro é mais esmaecida, menos brilhante; ela transmite uma ideia, difusa, de alguma distância para quem conhece a luz de Lisboa. E falta-lhe também a interioridade, de que tanto gosto. E nem é uma questão de localização geográfica. Lisboa é uma cidade ribeirinha mas tem espaços e recantos onde é possível viver a interioridade , como se fora longe do rio e do mar.



quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

"cuecas-forte"


A primeira vez que "fiz o inter-rail" - que era uma espécie de bilhete de comboio "sem fronteiras" com a validade de um mês , qual espécie de ritual de iniciação à vida adulta que muitos jovens experimentavam - a minha mãe, sempre cautelosa, tratou de me fazer uma bolsinha de pano, muito, muito discreta , com duas pequenas presilhas que enfiavam no cinto das calças,ficando a bolsa escondida, virada para dentro, longe da vista e portanto longe da cobiça alheia. Dentro da bolsa ia todo o dinheiro disponível para a viagem porque na altura não havia caixas multibanco nem cartões de crédito.

Eu estava francamente convencido que este tipo de expedientes de salvaguarda de valores tinha caído em desuso... até este Natal. As cuecas da fotografia - cuja juventude é atestada pela alvura e pelas notas de vinte euros que as compõem - foram dadas como prenda por alguém a uma senhora do meu círculo de afectos. Eu presenciei a cena e quis perpetuá-la.

Penso perceber... depois de se irem a bolsa, a carteira, os cartões, o passe social , as jóias ,os anéis e o telemóvel, há que garantir o regresso em transporte adequado , com eventual paragem para um cafézinho e uma sandes, não vá o assalto ter ocorrido longe de casa.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

cantinho do baleal (1)



foto diferente, de um baleal diferente, retirada daqui, através do talento de uma tal Teresa.
Parabéns Teresa!
nota - O texto que se segue é da autoria de um balealense e amigo ( o da primeira foto) . Espero que ele corresponda apenas uma das muitas colaborações "externas" que desejo, mais que tudo, para este diário. O texto é um documento de memória: além da referência a pessoas, que eventualmente, digam pouco ao leitor desprevenido, ele é acima de tudo o retrato de um Baleal que já foi e não é mais, despojado de alguns sinais de modernidade que o têm descaracterizado. É também um exercício de escrita, como lugar de saudade.
“ A noite no Baleal – parte 1 “ (por José Manuel Bela Morais)

Jantavam em casa . Com os meninos postos na cama , e o jantar terminado , o que fazer ? Sem electricidade e sem televisão , restava o rádio a pilhas e o petromax . O tempo passava-se na conversa em nossa casa , no número 34 , ali para os lados da rua principal , entre a casa dos Mendonças e dos Bonnefonts . Aí se combinava ou “ congeminava “o que fazer até às uma ou duas da madrugada . Eram os anos cinquenta do século passado, e os protagonistas os nossos pais .
Se queriam dançar , ou iam para o Casino das Caldas ou era no café do Acácio e a música debitada saía duma concertina ou da sanfona do Virgílio . A esplanada do Acácio era protegida de vários lados com serapilheira , por causa do frio ....bem sabem como é . Quando não iam dançar , os pais jogavam cartas – começaram pelo Whist – e as mamãs cortavam na casaca .Quando não havia uma coisa nem outra , começavam a conjecturar qual a casa que iria fornecer sem saber a ceia que se seguiria . E o caldo entornava-se . Era a fase dos “ assaltos “ , no bom sentido do termo , se é que isso pode existir .Numa próxima oportunidade falarei sobre este aspecto da nossa vida , mais obscura e “ out law “ . Não se assustem , vocês , os mais novos .
Esta fase dos nossos pais , durou até aos anos 66 ou 67 . Depois começámos nós , a geração que se segue , a ocupar o espaço da nossa casa , mais precisamente na sala , para conviver e dançar . Obviamente já com electricidade e com um gravador “ Grundig “ de fita magnética que era o nosso disk-jockey automático . Durante o ano , gravávamos – eu e o meu irmão – música , em cinco ou seis bobines , para o mês de Agosto . Durante trinta dias , ouvíamos e dançávamos sempre a mesma coisa : Beatles , Aznavour , Stones , Richard Antony , Sinatra , Silvie Vartan .... muito slow , era o que a malta queria !
O espaço , se virem agora ( é a casa dos “Sabonetes” ) dá para perceber que não tinha mais de 18 m2 , e cabíamos lá dentro todos e mais alguns . No quarto contíguo à sala , e que dava acesso aos restantes quartos da nossa mansão , dormiam as nossas duas empregadas ( vulgo creadas ), que nem umas anjinhas ...não davam por nada e ainda por cima ressonavam . Elas trabalhavam de facto bastante durante o dia , por conseguinte mereciam o descanso , e isso estava garantido , apesar da barulheira infernal que se fazia sentir .
A propósito da família Parreira , a quem envio as minhas saudações , normalmente conhecida por família “ sabonete “ , não resisto a contar uma pequena história . Não vem no seguimento desta crónica , mas aguentem lá .
Os “ sabonetes “ aterraram no Baleal , creio eu por volta de 1976 ou 1977 , e foram habitar a nossa antiga casa na ilha . Ao fim de uma semana , os meus pais convidaram os pais sabonetes e as três filhas mais velhas para irem jantar a nossa casa . Apesar de ser no Baleal , havia um mínimo de cerimónia . Ninguém de nós conhecia os senhores . Os meus pais muito menos . Aceite o convite e combinada a hora , lá apareceram os Parreiras . Olá tá bom , viva Milocas , como é que tem passado o Sr. Parreira ?.... acabadas as cerimoniosas saudações iniciais , entraram para a sala e verificaram que havia duas mesas para jantar . A principal onde ficaram os meus pais , filhos , genros e um ou dois amigos . Éramos talvez uns dez ou onze . Outra mesa com cinco lugares , num canto da sala , onde se sentaram os Parreiras ! Uma vergonha .... e o jantar foi servido pelo nosso pessoal devidamente fardado , sem nós ligarmos nenhuma à mesa do fundo . A minha mãe esteve aflitíssima o tempo todo , mas não deu parte fraca . Nós perdidos de riso , e a conversarmos , como se não estivesse mais ninguém na sala . Eles , o inimigo , idem . Não nos passaram cartão nenhum . Entraram bem no jogo .

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

cantinho do piroso que nunca deixei de ser... (VIII)

Esta é uma lindíssima canção do falecido John Denver. O John partilhava comigo a paixão por aviões. Mas foi muito mais consequente do que eu nessa paixão. Por isso,um dia, acabou por se espatifar, ao levantar voo, e morrer. Ficaram a voz e as canções, devidamente catalogadas e por mim recordadas.
Perhaps love is like a window/Perhaps an open door/ It invites you to come closer/It wants to show you more/ And even if you lose yourself/ And don't know what to do/ The memory of love will see you thru...