É possivel parar o ritmo diário de um diário da net, mesmo dispondo de net? É, sim. Aconteceu comigo, nestes dias. Sentado numa cadeira que não é a minha, em frente de um computador que não é o meu ,ocupando um espaço sofisticado que não tenho aqui e envolto num silêncio (que passa os dias e as noites na placidez do local onde vivi mais alguns dos meus dias ) não me faltaram sequer oportunidades de folhear este e outros diários, de actualizá-los e de comentá-los. Mas mais forte que a vontade de o fazer, é este "não consigo"que traz consigo muita coisa que não quero: a modorra dos dias sem projecto definido; uma inércia que impede operações simples do pensamento em acção; o adiamento das tarefas de aprender e partilhar... pelo menos neste particular dos blogues, que, no resto, não dei o tempo por mal empregue .
E como o Natal se foi, mas também foi , sim, farto de coisas boas e de outras novas, retorno a ele com uma fotografia recente do presépio da povoação de Cabanas de Torres, onde o telúrico tem expressão nas vides que o contornam e o aconhegam; no chumbo ( como se fora o céu deste inverno ) de que a Serra , em fundo, parece vestir; no húmido invernal da calçada rústica ; das telhas, quase vãs, das casas térreas e onde apenas destoa um carro, deslocado, quanto baste, do contexto. E lá está o enorme tronco da faia que tem uma história engraçada de contar que é também uma história de sobrevivência às mãos do engenho - por vezes - louco, dos homens que com ela cresceram. Em tempos, e até hoje, julgava-a morta . Um mal, desconhecido, carcomia, esburacando aquele tronco. Não sei bem porquê, mas o certo é que o meu julgamento roçou a verdade. Ela esteve quase morta e nessa agonia, o povo, precoupado, meteu mãos à tarefa de remediar o que parecia sem remédio. E há remédios que desfeiam ; desfiguram - mas são santos. No caso, e como é possível observar, trataram os homens, sem ciência mas com desespero , de encher o tronco de cimento e pedras. E foi, por via deste bruxedo improvável, sentir de novo a seiva mãe galgar aquelas gravidades todas e tornar mais perenes as pequenas e abundantes folhas da faia., para que ela continue a proteger este presépio anualmente renascido. Não me souberam explicar tamanho milagre, e muitas foram as minhas tentativas. E, reconheçamos, os milagres não se explicam ...
3 comentários:
Tenho o privilégio de conhecer Cabanas, graças ao nosso algerogista-mor.
E ainda sinto o sabor do coelho e do vinho tinto, antecedendo o passeio o cume da serra, e a visão súbita do ar, da terra abaixo, da montanha e do verde, abençoada por um moínho calmo e dolente.
Bom Ano, Miguel. Para ti e para todos os teus.
Igualmente, Mário. E , também, para os teus, fisicamente falando, e para o teu, bloguisticamente falando. O " Espaço Azul entre Nuvens" é já companhia que não dispenso .
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