terça-feira, 11 de dezembro de 2007

o cantinho do Manel...(I) (por Manuel Teixeira)




Um dia, um homem chegou tarde a casa, cansado e irritado após um dia de trabalho e encontrou, esperando por si à porta, o seu filho de 5 anos.
- Papá, posso fazer-te uma pergunta?
- Claro que sim. O que é?
- Quanto ganhas numa hora?
- Isso não é da tua conta. Porque me perguntas isso?! - respondeu o homem, zangado.
- Só para saber. Por favor... diz lá... quanto ganhas numa hora? - perguntou novamente o miúdo.
- Bom... já que queres tanto saber, ganho 10 euros por hora.
- Oh! - suspirou o rapazinho, baixando a cabeça.
Passado um pouco, olhando para cima para o Pai, perguntou:
- Papá, emprestas-me 5 euros?
O pai, furioso, respondeu:
- Se a razão de tu me teres perguntado isso, foi para me pedires dinheiro para brinquedos caros ou outro disparate qualquer, a resposta é não! E, de castigo, vais já para a cama. Vai pensando no menino egoísta que estás a ser. A minha vida de trabalho é dura demais para eu perder tempo com os teus caprichos!
O rapazinho, cabisbaixo, dirigiu-se silenciosamente para o seu quarto e fechou a porta.
Sentado na sala, o homem ficou a meditar sobre o comportamento do filho e ainda se irritou mais. Como se atrevia ele a fazer-lhe perguntas daquelas? Como é que, ainda tão novo, já se preocupava em arranjar dinheiro?
Passada mais ou menos uma hora, já mais calmo, o homem começou a ficar com remorsos da sua reacção. Talvez o filho precisasse mesmo de comprar qualquer coisa com os 5 euros. Afinal, nem era costume o miúdo pedir-lhe dinheiro.
Dirigiu-se ao quarto do filho e abriu devagarinho a porta.
- Já estás a dormir? - perguntou.- Não, papá, ainda estou acordado. - respondeu o miúdo.
- Estive a pensar... Talvez tenha sido severo demais contigo? - disse o pai. -Tive um longo e exaustivo dia e acabei por desabafar contigo. Toma lá os 5 euros que me pediste.
O rapazinho endireitou-se imediatamente na cama, sorrindo:- Oh, papá! Obrigado! - e levantando a almofada, pegou num frasco cheio de moedas.
O pai, vendo que o rapaz afinal tinha dinheiro, começou novamente a ficar zangado. O filho começou lentamente a contar o dinheiro, até que olhou para o pai.
- Para que queres mais dinheiro se já tens aí esse? - resmungou o pai.-
Porque não tinha o suficiente.
Agora já tenho! - respondeu o miúdo - Papá, agora já tenho 10 euros! Já posso comprar uma hora do teu tempo, não posso? Por favor, vem uma hora mais cedo amanhã. Gostava tanto de jantar contigo.




4 comentários:

miguel disse...

A infância e a juventude são períodos estruturantes. As razões para uma eventual desestruturação deve ser encontrada nos primeiríssimos responsáveis: os pais e a maneira como não souberam ou não quiseram tratar dos alicereces da super-estrutura familiar.

Sofia K. disse...

Esta é uma questão muito comum nos dias de hoje e eu conheço uma bem de perto, até porque sou quem fica com a criança até os pais chegarem, às vezes já estamos as duas a dormir, ou quando ela está doente e quer mimos, sou eu quem lá está para dar... E já me disse:'gosto muito de ti, mas és só a minha baby-sister!' Ela compraria muitas horas aos pais, eu sei que sim!

Ainda bem que o Manel voltou... já que não tens um blogue, vais pondo aqui no do Miguel, pois parece-me muitíssmo bem! Até, pelo que sei, o algeroz que deu origem a este nome é o teu! ;)

Beijinhos aos dois

miguel disse...

Abolutamnete, Sofia. " Algeroz!" estava escrito pela mão do Manuel , presumo que como lembrete para um certo Presidente de uma Junta de Freguesia Lisboeta!

ana v. disse...

Entras a matar, Manel! Um post muito oportuno, que põe o dedo na ferida: li algures que Portugal está na cauda da Europa (também nisto...) dos pais com menos tempo para dar aos seus filhos. Triste, não é?