segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

5 filmes para a vida...


Para além das qualidades pessoais ao nível dos valores universais que alguns me apontam e que a família, furiosamente, questiona, tenho déficits vários, nomeadamente de âmbito cultural. Assim, pego em muitos livros, mas contam-se pelos dedos aqueles cuja leitura consigo fazer chegar ao fim. Também, no que diz respeito à música, os meus conhecimentos cristalizaram algures entre os finais dos anos 70 e princípios dos anos 80 do século passado - por exemplo, as minha referências no violoncelo são o Maurice Gendron e o Janos Starker (conhecem-nos?). E quanto a filmes - aqui é que a porca torce o rabo - vejo muito poucos e o que é mais, deles, depois de vistos, a minha memória esmorece passado 24 horas e restam impressões, de resto ( vá lá) bem significativas e que me vão acompanhando e vindo à superfície muitas vezes.


É neste quadro que a Ana desconhece , que também ela, simpaticamente, me propôs um desafio, habitual na blogosfera e que consiste em fazermos, aqui, referência a alguém ou alguma coisa que nos marcou em vida e depois propôr o mesmo desafio a quem quisermos. Chamam-lhe corrente mas eu prefiro chamar-lhe torrente. Corrente e torrente estão, na minha opinião, uma para a outra, como servil está para livres. Além de que, a concretizar-se o desiderato do desafio, a progressão dos resultados não é aritmética mas exponencial .

O desafio é o seguinte: quais os 5 filmes que mais me marcaram?

Musical - Adoro musicais , por isso o meu coração balança. Vi, há pouco tempo, uma versão do Oliver Twist com a qualidade a que os ingleses nos habituaram e que me marcou muito. Nunca esqueci West Side Story, com a Nathalie Wood , entre outros, que é uma versão moderna do "Romeu e Julieta" com música, inesquecível, do Leonard Bernstein. E não esqueço também uma versão americana de Hair, datada e muito velhinha, mas que vi, na altura, 4 ou 5 vezes de seguida em estado de verdadeira obsessão para além de ter comprado o disco que ouvia, furiosamente, tardes a fio. Mas a minha escolha é Música no Coração porque tem uma característica engraçada: vê-se, repetidamente, sem fartar ( e já vi mais de vinte vezes ). Consegue juntar lamechice, ternura e thriller num bolo improvavel; a música é fantástica; faz da Áustria um lindíssimo cartão de visita que a realidade, em parte, desmente; é um filme que se vai transmitindo de geração em geração , como os livros da nossa infância. É , por isso, já, um clássico.

Comédia - Definitivamente, Amarcord , de Fellini. Vi-o duas vezes: a primeira há muitos anos, a segunda há pouco tempo. Gostei muito menos do filme da última vez que o vi. Pouco importa. Muito da maneira como me olho e olho o mundo devo-o a Fellini e especificamente a Amarcord. É um retrato intemporal porque reproduções daquela aldeia italiana e daquela gente do tempo de Mussolini encontro-as, ainda hoje, nas cidades e nas aldeias, nas pessoas ricas e pobres, a qualquer hora ou momento. O filme é uma figura de estilo, mais que uma metáfora. É uma ironia pegada e que me foi pegada de maneira definitiva, há muitos anos atrás.

Documentário - Belo, comovente , imprescindível, é o mínimo que se pode dizer de Être et Avoir ou Ser e Ter. A sinopse, procurem-na na net, porque há várias. Mas a emoção senti-a eu, em mim e nas outras pessoas. Querem provas? Nunca presenciei eu um silêncio tão gradual e profundo como aquele que se instalou na sala de cinema, como quando vi este filme. No final, e enquanto passavam , já, no ecrã, as referências habituais aos profissionais que o ajudaram a fazer, toda a gente ficou no lugar, como se algo fosse impeditivo de iniciar a tarefa óbvia naquela altura, que é a de abandonar o local do espectáculo e retomar a vida. Já para não falar da "fungadeira" colectiva, quase descontrolada, que foi interrompendo o silêncio, sem no entanto, nunca, o descaracterizar. E tudo isto, numa história sem história, num enredo sem enredo, numa trama sem trama. A beleza, o drama e a comédia da vida real, no seu estado mais que puro. Como dizem os críticos, a não perder!!

Drama - Já não me lembro porquê, resta-me, como disse, a impressão. E essa revela-me um filme apaixonante, genial: Citizen Cane ou o Mundo a seus pés de e com Orson Wells.

Outra comédia - Italiano para Principiantes, ou como é bom ver cinema feito por europeus nesta Europa que é decidididamente o meu enorme país;que é a minha gente, aquela com quem me identifico nos valores e no futuro que quero para os meus.

E aí está. São estes e alguns outros, fora os que não vi ou já esqueci.
Passo agora a bola, claro, para o jovem, culto e inteligente Pedro, para o pedagógico, amigo , institucional e cívico Mário, para o outro Pedro, melómano e amigo da natureza, para a interessante, ibérica e talentosa Rita, se acaso me chegar a ler e também para o João Tunes, com quem eu mantive excelente relação nos tempos idos do meu anterior blogue (Frutos Maduros, era assim que se chamava ).

3 comentários:

ana v. disse...

Olha, olha, Miguel, não sabia que eras um snob! Com que então dizes-te inculto, demodé, esquecido, indiferente ao cinema, e depois sais-te com uma escolha de elite, comentada com a argúcia de um expert...
E perguntas-nos se nos dizem alguma coisa as tuas referências no cello, por estarem desactualizadas??!!
Miguelinho, please...
;)

miguel disse...

Ana: tornei a ler o que escrevi. O mais fantástico é que foi tudo ao "correr dos dedos nas teclas" e é tudo dito com sinceridade. De facto, toquei violoncelo, vi concertos e mais concertos, e as minhas referências eram, entre outros, aqueles dois que referi. Hoje em dia não vou, quase, a concertos
( neste preciso momento estou sozinho em casa porque TODA a família foi ao CCB, a um concerto para.....a família). conheço o Yo Yo ma e o Mishka Maysky e de novos nomes da música clássica é tudo...Antes conhecia tudo. Quase não vou ao cinema. Os livros é como te disse.Gosto de ler, mas perco-me a meio. Fui, literalmente, obrigado a ver Être et Avoir e não me arrependi, como é bem de ver.É como te digo, o que escrevi é mesmo assim.

ana v. disse...

Os verdadeiros snobs são assim... genuínos!
Estou a brincar contigo, Miguel. É claro. Não te acho minimamente snob, mas também não precisas de ser tão modesto!
Um beijinho