O centro da minha terra-mãe, é simbólica e quase geograficamente, o Chiado. Fui lá no sábado passado com a família e fui porque os membros que a compõem me obrigaram. Percebi que queriam sentir-se aquecidos pelo frio da época e por esse aquecimento menos contraditório e mais objectivo , igualmente poético, que é um passeio natalício em família. Os mais miúdos foram também movidos pelo impulso consumista e especificamente pela perspectiva da aquisição, por mim prometida , de uns jogos electrónicos para nintendo, playstation e computador.
Entrámos pela Rua do Carmo, infinitas vezes imortalizada,e das imortalizações que me lembro, por exemplo, através da inspiração - discutível - do António Manuel Ribeiro, líder do agrupamento musical UHF. O destino era a loja FNAC.
Em mim, então, e pelo meu corpo, nasceram sensações que me fizeram sentir bem: o Chiado, renascido das cinzas, tornou-se agora um sítio ao qual o cliché "...de artistas e designers", se aplica, sem que para isso tenhamos que ser benevolentes. A multidão , qual maré viva, desce e sobe em magotes, agrupada em sub-grupos familiares, respirando equlíbrio e bem-estar.
E, claro, onde há consumo e família , há, certamente , mulheres. Estou em crer, aliás, que acabei de cair na enésima redundância da minha vida. É das mulheres do Chiado que quero falar. Para elas gosto de olhar, pelas razões óbvias e outras menos óbvias. Para elas olho, especialmente no Verão e para elas olho especialmente no inverno. Pelas razões óbvias e outras menos óbvias. No Verão despem-se de preconceitos e no Verão quase se despem de roupas...quase, e ainda bem. No Inverno encarnam o preconceito e quase se tapam com roupas, compondo o corpo de cores e geometrias quadradas, que lhes realçam o gosto e a originalidade fazendo esquecer, porque ausente, a carne de que são feitas.
Tudo nas mulheres é sabedoria: tudo conduzem, mesmo quando parecem que são conduzidas. São o esteio que estrutura o espírito familiar; são atentas, activas e audazes na forma, a maior parte das vezes, discreta como equilibram o barco frágil das relações intra-familiares.
Neste quadro de referência que descrevi, a realidade - sazonal - das mulheres do Chiado, torna-se , assim, a metáfora da própria realidade: enquanto no Verão, - mostrando, generosamente, os contornos quase desnudos, de rabo e seios e pernas , apelando, deste modo, ao desejo contido - as mulheres parecem chamar a atenção para o facto de família ser , também, intimidade conjugal, no Inverno, escondendo a carne - impedindo ou mitigando o desejo - remetem para um conceito de família una, um colectivo que consustancia um projecto qu se projecta no futuro.
Não quero armar num Derrida ou num Savater - que alíás devem olhar tanto para mulheres como eu - mas esta é uma reflexão a que eu me impus, depois da visita a esse Chiado Lisboeta onde se está bem nesta época.
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