Acredito que o convívio prolongado com o sítio em que nascemos, cria em nós uma matriz cultural que se enraiza e nos marca muito. Basta que lá vivamos os tempos da meninice e esse seja o local das primeiras amizades, dos primeiros estudos e da família , com a qual aprendemos códigos e valores.
Se o abandonamos por causa dos caminhos que a vida toma, surge outra forma de ligação que permanece como um ferrete cravado que, simultâneamente, faz sofrer e sonhar: a nostalgia. Confesso que fico fascinado com a maneira como os outros falam da sua "terra". Adivinho-lhes a alegria de a reencontrar nas épocas festivas e nas férias; julgo perceber-lhes a tristeza do retorno ao dia- a -dia da sua condição de migrantes .
Ser de Lisboa, como eu sou, remete, no entanto, para a ideia de pertencer a uma "não terra": dela se diz tudo aquilo que não se deve dizer de um local para viver; nela se faz confluir toda a sombra da natureza humana. Parece que em Lisboa não se vive; sobrevive- se.
E no entanto Lisboa é a minha terra e dela me orgulho. É tão grande que terá sempre uma esquina escondida por descobrir.
A fotografia que hoje coloquei foi tirada da janela da minha casa e o local não está a uma distância muito maior que o record mundial de salto em comprimento. A tonalidade sombria é a de uma manhã típica de Dezembro (hoje) mas no quadro descobrimos também outras tonalidades e ambiências...ou como parece também haver um Natal belo em Lisboa.
4 comentários:
O Natal na minha terra está bem pertinho do mar, acordar e saber que ali ao lado as ondas vêm e vão, em terra de Baleias! A minha terra é metade ali, metade aqui, em Lisboa... que de Natal tem os passeios para ver as iluminações, o friozinho de andar de cachecol e o acordar deserto do dia 25!
Hoje de manhã vi, da minha janela, pairar um nevoeiro maravilhoso, lembrando-me as manhãs de verão no nosso Baleal em que, da minha, não vejo a tua casa! Como gosto destas manhãs e do meio dia em que se levanta o nevoeiro!
beijinhos
E a família Cordeiro continua na linha da frente no apoio à elaboração do meu diário como que a lembrar que andam por aí. Rica família...
O Natal da minha terra cheira a fumo de lareira e sabe a frio muito frio e eu gosto dele assim.
Sem lareira e com calor também gostaria.
O Natal da minha terra é quente no convívio familiar que nos esforçamos por manter e eu gosto dele assim.
O Natal da minha terra não tem mar mas gosto dele assim. Gostaria que tivesse e assim dele também gostaria.
Caro Miguel, também eu sou lisboeta e, apesar de ter uma "minha terra" onde não nasci, lá para as bandas do oeste, o meu Natal tem sido sempre na cidade. Este ano, o Natal alfacinha teve a novidade de uma árvore de Natal em casa própria, à roda da qual amigos e familiares se reuniram (e outros estiveram presentes no coração e na mente) para umas horas de calor adventício.
Mas 2007 vai ser também um ano, o primeiro, de "ir passar o Natal à terra", ou parte dele. À terra de baleias de que fala a Sofia e à qual me conduz a aventura difícil de juntar destinos, de ganhar mais uma família, desse "tens prá troca?" incessante e nem sempre verbalizado (graças!) que é o amor.
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