quarta-feira, 12 de novembro de 2008

blogosfera (1)


Os blogues activos são talvez vítimas do desassossego criativo que está na sua própria natureza. As entradas de grande qualidade que são produzidas na blogosfera são rapidamente envoltas num manto quase opaco que se vai enrolando sobre si próprio como se estivessem inscritas num rolo de papel de cozinha mas que , ao contrário de se abrirem às necessidades, fecham-se sobre si prórios, caindo numa espécie de esquecimento.

Quando o blogue acaba por decisão do autor, começa, no entanto, um período, menos frenético, que concede ao leitor um outro tempo, menos voraz - o tempo da revisitação.

É isso que tenho feito, regularmente com o blogue de uma jovem e talentosa amiga, que aportou recentemente ao cais, belo, da maternidade.Para trás ficaram memórias serenas e textos de enorme qualidade.E poemas novos de poetas antigos, como este, de António Ramos Rosa cuja introdução , feita pela própria Sofia, também transcrevo:

" (...)Assim, lembrei-me de uma coisa que estou há muito para pôr aqui - uma homenagem, em vida, a António Ramos Rosa. Um poeta que me é especial, por ter o privilégio de o conhecer pessoalmente, de ter privado com ele, no lar de artistas onde está. Mas mais especial do que isso, o poder ter sabido dos seus poemas logo no dia em que os escrevia e reconhecer a sua calma, na beleza da sua poesia. Por isso aqui fica a minha homenagem e o meu sorriso de que tanto gosta, porque não esquecerei um poema que me dedicou. Mas hoje, deixo aqui um poema que dedicou aos alunos da Professora Raquel Andrade, que o souberam ouvir, atentos, como nunca ninguém nos fez estar.

Se eu não conhecesse o amor nem a inocência
nem a maravilhosa juventude
se eu não reconhecesse o rosto da vida
se eu fosse opaco
se eu estivesse empedernido
se eu não confiasse em nada
se eu fosse incapaz de u,m gesto de ternura
se tivesse perdido a inteligência da dança
e o meu saber não tivesse a sabedoria do saber
e do sangue
se eu tivesse perdido o dom da atenção ao ardor obscuro
da vida animada pelo desejo
eu teria renascido quando vos vi
eu teria respirado a pureza dos vossos rostos~eu teria renascido
eu teria entrado no adorável país
da juventude do sol.
(27 de Fevereiro de 2002)

1 comentário:

Sofia K. disse...

obrigada, querido amigo, por esta entrada! Quem sabe, em Fevereiro, não volte com novos ventos e marés??? Talvez. Por agora vou-me dedicando a contemplar outras poesias.

beijinhos