quarta-feira, 19 de março de 2008

"The Five Pennies"


Há propostas que são verdadeiro apelo à memória adormecida. The Five Pennies é um filme estreado em 1959, estava eu a ensaiar os primeiros passos e estavam os meus pais a perceber que este seu então novel andarilho prenunciava já aquilo que viria a ser por muito tempo : um língua de trapos. Meio tolo, também. E incrivelmente sensivel: chorava à mínima emoção forjada no mundo que me povoava os sentidos, como quando, por exemplo, ouvia as músicas de The Five Pennies . Tinha o costume de ficar, deliciado, em frente ao gira-discos a ver o LP rodar enquanto trauteava as melodias às quais Danny Kaye e também Louis Armstrong deram tão terna voz. E, claro, ficcionava a própria ficção como uma tragédia feita de dramas e separações até porque da história fazia parte uma linda criança que sofria com as desventuras do pai. Chorava, então, a bom chorar. Enredo imaginado, está bem de ver , porque nunca vi o filme do príncipio ao fim. Das suas músicas e daquele tempo bom da minha tenra infância lembro-me, no entanto, muito bem. Recordei-os agora, via novo desafio do Manel.
Obrigado mais uma vez, Manel . Fiquem com " Little Pennie" e deliciem-se.


3 comentários:

Mário disse...

O Dannie Kaye ficará célebre por ter, dos estúdios da RTP Porto, interrompido o major Duran Clemente, quando este se discursava na televisão a justificar a necessidade do 25 de Novembro e da via "socialista" (uma ova!) para a democracia.

A cara do Duran quando percebe (por segundos, que depois desaparece no éter) que estava a ser "perturbado", é de antologia.

Memórias de quem viveu um período em que a guerra civil era uma hipótese plausível - não dá para sentir apenas lendo, só vendo e vivendo!

Felizmente estive no lado certo, em cima do palco na Fonte Luminosa, e nesse dia 25 de Novembro, contra a UDP, Otelo, o PCP, mas entendendo as afirmações de Melo Antunes.

Que tempos!

miguel disse...

Lembro-me perfeitamente do episódio do Duran Clemente mas não me lembro da "entrada" do Danny Kaye. Eu nessa altura estava ( e vá-se lá saber porquê) do lado do Duran. Na minha ingenuidade , eu nem sabia bem o que queria dizer guerra civil. Percebi-o, uns anos mais tarde, aqui mesmo , no coração da europa. Percebo , agora, que a entrada do Danny Kaye acabou por ser histórica.

ana v. disse...

Uma ternura, esta tua evocação de infância. Gostei muito, Miguel.
Um beijinho