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BALZAQUIANA -A expressão foi cunhada após a publicação de um livro do francês Honoré de Balzac. Em As Mulheres de 30 Anos, o escritor realiza uma análise do destino das jovens na primeira metade do século XIX, em particular dentro do casamento. E faz uma apologia às mulheres de mais idade, que, amadurecidas, podem viver o amor com maior plenitude. É o que acontece à heroína da narrativa, Júlia. Ela se casa com um oficial do exército, mas depois descobre que a relação está longe de ser o que imaginava. Vê-se, então, presa a um matrimônio infeliz. Quando se torna uma trintona, porém, a moça consegue encontrar o amor nos braços de Carlos Vandenesse. (Retirado daqui )
Há tempos, num jantar com amigos, alguém referiu as "...balzaquianas". A referência integrou um contexto particular que agora não vem ao caso. Fiquei estrategicamente calado e fui deixando que os outros falassem mas também não deixei transparecer a dúvida que há muito transporto comigo.
" Pourra, afinal o que é uma balzaquiana ?". Pensava eu, por formação académica ( fui educado, pelos meus professores, na negação , feroz, do dualismo corpo-espírito) que balzaquiana era a eterna sonhadora, a que se apaixonava pela imagem do homem que nunca possuíria, que idealizava um amor perfeito a aparecer num amanhã perpétuo.
A definição que reproduzo não anda, talvez, muito longe daquilo que eu pensava. Mas tem o mérito de repôr a verdade histórica, objectivando aquilo que parece ser um conceito vago no tempo e nas motivações. Há , no entanto umas diferenças.
A verdadeira balzaquiana sonha com o amor perfeito mas tem todas as condições para o encontrar, mesmo sem ter os olhos fechados e mesmo sem navegar num conto de fadas. A idade pouco importa - hoje, por via do fantástico aumento da esperança de vida, estou convicto que a potencial balzaquiana há muito passou os trinta...os quarenta...os cinquenta... ( as ilusões vão-se cada mais mais tarde e que bom assim ser!). A balzaquiana não rejeita o sexo, pelo contrário, pratica-o com furor mas na condição do primado do afecto; de ele se sobrepôr ao instinto (deseja a virilidade e a santidade nas doses certas). A balzaquiana quer o mimo e quer também o olhar marejado de gratidão e ternura. A balzaquiana exige o poema e a flor ao fim do dia. A balzaquiana espera, mais que tudo, a carícia como promessa renovada.
Por isso cultiva a dúvida; a crítica; a exigência; a queixa; o amuo; a chamada de atenção; a lágrima sempre pronta a escorrer - como método. Por isso conjuga os verbos no condicional e no conjuntivo. Por isso espera e desespera...e assim vai pulando de relação em relação, na busca louca de respostas.
Dedico esta canção dos ibero - americanos Sin Bandera à balzaquiana ( e ao balzaquiano) que há em vós. E espero, também, da vossa parte, uma resposta criativa à pergunta deles ..." sera qué el tiempo fue minguando nuestras ganas???"
3 comentários:
Oh, Miguel... francamente, não te sabia tão amigo de rótulos!
Fazes mal: é por causa deles que as sociedades (e o nosso quintal português é um excelente exemplo disso) crucificam quem não se encaixa no baralho, e é por causa deles, também, que não conseguem evoluir saudavelmente.
O conceito de "balzaquiana" passou à história há muito tempo, está completamente datado. Faz sentido na época em que foi criado (por excelência, a época de todas as hipocrisias), mas não acho que seja aplicável aos dias de hoje (mesmo actualizado, como propões, com sexo e independência financeira...). A verdade é que as mulheres, hoje em dia, sabem muuuuuuito antes dos 30 anos que a probabilidade de encontrarem um príncipe encantado é remota. Que los hay, los hay, mas são muito poucos. Os sapos, pelo contrário, abundam. Saltam-nos ao caminho todos os dias, exibindo as coroas de papelão...
Outra coisa, que nada tem a ver com ser-se ou não balzaquiana (seja lá isso o que for) é a capacidade que algumas pessoas (homens ou mulheres, tanto faz) conseguem conservar, às vezes uma vida inteira, malgré tout, de se encantarem. De acreditarem que o sonho não morre se não o deixarem morrer, de o cultivarem, até, para não se tornarem amargas e secas como as balzaquianas do Honoré, depois das primeiras desilusões. De resistirem à tentação de medir todos os outros pela mesma bitola. E isso é precioso, meu amigo. Aconselho a todos o exercício, que vale a pena.
Mas... "a lágrima sempre pronta a escorrer, como método"??? Please, Miguel. Estamos no séc. XXI... remember? O Homem até já anda pelo cosmos...
No entanto, tenho que admitir que, ao contrário do conceito de balzaquiana, o da solidariedade masculina continua intacto. E é sempre um exemplo para nós, mulheres, mesmo quando comporta alguma ingenuidade...
Será que a minha resposta foi suficientemente criativa?
Bjs
Ana
Ana: adorável comentário,interessante, bem escrito e cheio de inteligência.
É claro que a entrada pretende provocar...comentários como o teu. Apenas isso. E isto de escrever um diário da net tem que se lhe diga...temas novos, tanto quanto possível, interessantes,com algum humor, textos cuidados, fuga aos "lugares comuns" etc.Este das "balzaquianas" foi mais uma dessas tentativas.
Tem uma certa piada ou interesse, penso,lembrar ou relembrar o conceito de "balzaquiana".Eu tinha uma ideia distorcida. Clarifiquei. Não etiquetei casos particulares. Etiquetei o universo feminino em geral! É o meu machismo ( que o tenho) a fazer-se publicado.
Mas transcrevo, reconhecendo-me nele, esta parte do teu comentário:
"Outra coisa, que nada tem a ver com ser-se ou não balzaquiana (seja lá isso o que for) é a capacidade que algumas pessoas (homens ou mulheres, tanto faz) conseguem conservar, às vezes uma vida inteira, malgré tout, de se encantarem. De acreditarem que o sonho não morre se não o deixarem morrer, de o cultivarem, até, para não se tornarem amargas e secas como as balzaquianas do Honoré, depois das primeiras desilusões. De resistirem à tentação de medir todos os outros pela mesma bitola. E isso é precioso, meu amigo. Aconselho a todos o exercício, que vale a pena." ( assino por baixo, se deixares ...)
É com comentários destes que sinto o meu blogue a enriquecer! Pena seres quase uma excepção. E obrigado por seres excepção.
Deste muito bem a volta ao texto, Miguel. Não será a primeira vez que te digo que falhaste uma promissora carreira diplomática...
Mas se é despique que queres, conta comigo. Sabes que vou a jogo, normalmente. Porque lhe acho graça, como tu.
Beijo
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