foto diferente, de um baleal diferente, retirada daqui, através do talento de uma tal Teresa.
Parabéns Teresa!
nota - O texto que se segue é da autoria de um balealense e amigo ( o da primeira foto) . Espero que ele corresponda apenas uma das muitas colaborações "externas" que desejo, mais que tudo, para este diário. O texto é um documento de memória: além da referência a pessoas, que eventualmente, digam pouco ao leitor desprevenido, ele é acima de tudo o retrato de um Baleal que já foi e não é mais, despojado de alguns sinais de modernidade que o têm descaracterizado. É também um exercício de escrita, como lugar de saudade.
“ A noite no Baleal – parte 1 “ (por José Manuel Bela Morais)
Jantavam em casa . Com os meninos postos na cama , e o jantar terminado , o que fazer ? Sem electricidade e sem televisão , restava o rádio a pilhas e o petromax . O tempo passava-se na conversa em nossa casa , no número 34 , ali para os lados da rua principal , entre a casa dos Mendonças e dos Bonnefonts . Aí se combinava ou “ congeminava “o que fazer até às uma ou duas da madrugada . Eram os anos cinquenta do século passado, e os protagonistas os nossos pais .
Se queriam dançar , ou iam para o Casino das Caldas ou era no café do Acácio e a música debitada saía duma concertina ou da sanfona do Virgílio . A esplanada do Acácio era protegida de vários lados com serapilheira , por causa do frio ....bem sabem como é . Quando não iam dançar , os pais jogavam cartas – começaram pelo Whist – e as mamãs cortavam na casaca .Quando não havia uma coisa nem outra , começavam a conjecturar qual a casa que iria fornecer sem saber a ceia que se seguiria . E o caldo entornava-se . Era a fase dos “ assaltos “ , no bom sentido do termo , se é que isso pode existir .Numa próxima oportunidade falarei sobre este aspecto da nossa vida , mais obscura e “ out law “ . Não se assustem , vocês , os mais novos .
Esta fase dos nossos pais , durou até aos anos 66 ou 67 . Depois começámos nós , a geração que se segue , a ocupar o espaço da nossa casa , mais precisamente na sala , para conviver e dançar . Obviamente já com electricidade e com um gravador “ Grundig “ de fita magnética que era o nosso disk-jockey automático . Durante o ano , gravávamos – eu e o meu irmão – música , em cinco ou seis bobines , para o mês de Agosto . Durante trinta dias , ouvíamos e dançávamos sempre a mesma coisa : Beatles , Aznavour , Stones , Richard Antony , Sinatra , Silvie Vartan .... muito slow , era o que a malta queria !
O espaço , se virem agora ( é a casa dos “Sabonetes” ) dá para perceber que não tinha mais de 18 m2 , e cabíamos lá dentro todos e mais alguns . No quarto contíguo à sala , e que dava acesso aos restantes quartos da nossa mansão , dormiam as nossas duas empregadas ( vulgo creadas ), que nem umas anjinhas ...não davam por nada e ainda por cima ressonavam . Elas trabalhavam de facto bastante durante o dia , por conseguinte mereciam o descanso , e isso estava garantido , apesar da barulheira infernal que se fazia sentir .
A propósito da família Parreira , a quem envio as minhas saudações , normalmente conhecida por família “ sabonete “ , não resisto a contar uma pequena história . Não vem no seguimento desta crónica , mas aguentem lá .
Os “ sabonetes “ aterraram no Baleal , creio eu por volta de 1976 ou 1977 , e foram habitar a nossa antiga casa na ilha . Ao fim de uma semana , os meus pais convidaram os pais sabonetes e as três filhas mais velhas para irem jantar a nossa casa . Apesar de ser no Baleal , havia um mínimo de cerimónia . Ninguém de nós conhecia os senhores . Os meus pais muito menos . Aceite o convite e combinada a hora , lá apareceram os Parreiras . Olá tá bom , viva Milocas , como é que tem passado o Sr. Parreira ?.... acabadas as cerimoniosas saudações iniciais , entraram para a sala e verificaram que havia duas mesas para jantar . A principal onde ficaram os meus pais , filhos , genros e um ou dois amigos . Éramos talvez uns dez ou onze . Outra mesa com cinco lugares , num canto da sala , onde se sentaram os Parreiras ! Uma vergonha .... e o jantar foi servido pelo nosso pessoal devidamente fardado , sem nós ligarmos nenhuma à mesa do fundo . A minha mãe esteve aflitíssima o tempo todo , mas não deu parte fraca . Nós perdidos de riso , e a conversarmos , como se não estivesse mais ninguém na sala . Eles , o inimigo , idem . Não nos passaram cartão nenhum . Entraram bem no jogo .
Jantavam em casa . Com os meninos postos na cama , e o jantar terminado , o que fazer ? Sem electricidade e sem televisão , restava o rádio a pilhas e o petromax . O tempo passava-se na conversa em nossa casa , no número 34 , ali para os lados da rua principal , entre a casa dos Mendonças e dos Bonnefonts . Aí se combinava ou “ congeminava “o que fazer até às uma ou duas da madrugada . Eram os anos cinquenta do século passado, e os protagonistas os nossos pais .
Se queriam dançar , ou iam para o Casino das Caldas ou era no café do Acácio e a música debitada saía duma concertina ou da sanfona do Virgílio . A esplanada do Acácio era protegida de vários lados com serapilheira , por causa do frio ....bem sabem como é . Quando não iam dançar , os pais jogavam cartas – começaram pelo Whist – e as mamãs cortavam na casaca .Quando não havia uma coisa nem outra , começavam a conjecturar qual a casa que iria fornecer sem saber a ceia que se seguiria . E o caldo entornava-se . Era a fase dos “ assaltos “ , no bom sentido do termo , se é que isso pode existir .Numa próxima oportunidade falarei sobre este aspecto da nossa vida , mais obscura e “ out law “ . Não se assustem , vocês , os mais novos .
Esta fase dos nossos pais , durou até aos anos 66 ou 67 . Depois começámos nós , a geração que se segue , a ocupar o espaço da nossa casa , mais precisamente na sala , para conviver e dançar . Obviamente já com electricidade e com um gravador “ Grundig “ de fita magnética que era o nosso disk-jockey automático . Durante o ano , gravávamos – eu e o meu irmão – música , em cinco ou seis bobines , para o mês de Agosto . Durante trinta dias , ouvíamos e dançávamos sempre a mesma coisa : Beatles , Aznavour , Stones , Richard Antony , Sinatra , Silvie Vartan .... muito slow , era o que a malta queria !
O espaço , se virem agora ( é a casa dos “Sabonetes” ) dá para perceber que não tinha mais de 18 m2 , e cabíamos lá dentro todos e mais alguns . No quarto contíguo à sala , e que dava acesso aos restantes quartos da nossa mansão , dormiam as nossas duas empregadas ( vulgo creadas ), que nem umas anjinhas ...não davam por nada e ainda por cima ressonavam . Elas trabalhavam de facto bastante durante o dia , por conseguinte mereciam o descanso , e isso estava garantido , apesar da barulheira infernal que se fazia sentir .
A propósito da família Parreira , a quem envio as minhas saudações , normalmente conhecida por família “ sabonete “ , não resisto a contar uma pequena história . Não vem no seguimento desta crónica , mas aguentem lá .
Os “ sabonetes “ aterraram no Baleal , creio eu por volta de 1976 ou 1977 , e foram habitar a nossa antiga casa na ilha . Ao fim de uma semana , os meus pais convidaram os pais sabonetes e as três filhas mais velhas para irem jantar a nossa casa . Apesar de ser no Baleal , havia um mínimo de cerimónia . Ninguém de nós conhecia os senhores . Os meus pais muito menos . Aceite o convite e combinada a hora , lá apareceram os Parreiras . Olá tá bom , viva Milocas , como é que tem passado o Sr. Parreira ?.... acabadas as cerimoniosas saudações iniciais , entraram para a sala e verificaram que havia duas mesas para jantar . A principal onde ficaram os meus pais , filhos , genros e um ou dois amigos . Éramos talvez uns dez ou onze . Outra mesa com cinco lugares , num canto da sala , onde se sentaram os Parreiras ! Uma vergonha .... e o jantar foi servido pelo nosso pessoal devidamente fardado , sem nós ligarmos nenhuma à mesa do fundo . A minha mãe esteve aflitíssima o tempo todo , mas não deu parte fraca . Nós perdidos de riso , e a conversarmos , como se não estivesse mais ninguém na sala . Eles , o inimigo , idem . Não nos passaram cartão nenhum . Entraram bem no jogo .
8 comentários:
Onde é a casa dos sabonetes?
Ó José Manuel, você saiu-me cá um pão! Veja lá se alguma vez gravaram esta, você e o seu irmão, para os tais "trinta dias, muito slow, era o que a malta queria!"
http://www.youtube.com/watch?v=eKiujDWRBAM
E esta, querido? Confesse lá que não era só "slow". Beijos.
http://www.esnips.com/doc/d88ab78e-3974-4633-a095-8b8a4e9c0e83/A-kind-Of-Hush---Hermans-Hermits
Vanessa: continue, que você anima isto.
Balealense: qualquer balealense sabe onde é a casa dos "sabonetes".
Que saudades desses tempos, Maurice!!
Miguel: Boa aquisição, neste algeroz. Quanto é que lhe pagas pelas crónicas, hein? É que uma estrela destas não é de borla, de certeza...
(Ah, é verdade: nós também gostávamos dos slows, ou pensam que eram só vocês????)
beijos aos dois
ana
Olá ana: sê bem vinda. Que tal InsTambul?
Magnífica cidade, Miguel.
e esta fotografia do Baleal é uma beleza!!
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