Recebido por mail, via proposta do meu amigo Manel, este poema do Mário Quintana faz relevar duas realidades eventualmente pouco cogitadas: a mestria do seu autor ( cujo centenário se comemora) e a pluridisciplinaridade presente na concepção e na construção deste referencial anatómico, comum a meio mundo e expressão de desejo objectivo do outro meio. Ou como da arte de uns tantos se faz um caminho que leva à vida e tantas vezes parece tornar próximo e sensível o celestial, para lá das nuvens e do céu azul.
Sete bons homens de fino saber/Criaram a xoxota, como pode se ver:/ Chegando na frente, veio um açougueiro/Com faca afiada deu talho certeiro/ Um bom marceneiro, com dedicação/ Fez furo no centro com malho e formão. / Em terceiro o alfaiate, capaz e moderno/Forrou com veludo o lado interno./ Um bom caçador, chegando na hora/ Forrou com raposa, a parte de fora./Em quinto chegou, sagaz pescador/ Esfregando um peixe, deu-lhe o odor./ Em sexto, o bom padre da igreja daqui./ Benzeu-a dizendo: "É só pra xixi!"./ Por fim o marujo, zarolho e perneta.Chupou-a, fodeu-a e chamou-a... buceta!
Nota do Editor - Forjado com alguma arte e com alguma graça, este poeminha parece-me ostensivamente incompleto: abre , vendo bem, a porta ao bom gosto que dele se encontra ausente.
8 comentários:
Já que ninguém tem a coragem de comentar este teu post, aqui estou eu, Miguel.
Vamos ao poema: como poesia erótica acho esta muito fraquinha, e o Mário Quintana escreveu poemas memoráveis. Mas suponho que todos os escritores, mesmo os mais geniais, terão os seus momentos menos inspirados. Ou, talvez, mais gágás...
Mas tiro o chapéu à tua "pluridisciplinaridade"... ufa!, a palavra é quase tão difícil como a da Mary Poppins!!
Bjs
eheheh.( em vez de pluri disc(...) deveria ter escrito multidisc(...). É desta maneira que se costuma dizer e escrever.
Bem, não sou um especialista em poesia erótica. Acho, no entanto, que o poeminha está bem esgalhado. E encerra em si alguma poesia...ou não fosse poema.
Quanto ao Mário Quintana nem o conhecia. Vamos a ver se a partir de agora passo a conhecê-lo melhor.
um abraço
Deixo-te aqui um poeminha do Mário Quintana, este delicioso:
POEMINHA DO CONTRA
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Bjs
Engraçadíssimo!
Desculpem lá mas continuo a achar o Poeminha da Xoxota uma verdadeira delícia, e desculpem lá também, mas não sei muito bem o que é 'bom gosto' e 'mau gosto' em poesia. Sorry.
O Poeminha do Contra também tem graça. Mas menos.
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CUIDADO
A poesia não se entrega a quem a define.
Mario Quintana (Caderno H)
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Manel, eu nunca disse que o poema era de mau gosto. Os gostos são sempre discutíveis, sei isso muito bem. O que eu disse foi que, como poesia erótica, PARA MIM era fraquinha. E mantenho.
E sobre o mesmíssimo tema, já agora, deixo aqui um poema de altíssima qualidade, uma canção do Leo Ferré.
Cette blessure
Cette blessure
Où meurt la mer comme un chagrin de chair
Où va la vie germer dans le désert
Qui fait de sang la blancheur des berceaux
Qui se referme au marbre du tombeau
Cette blessure d'où je viens
Cette blessure
Où va ma lèvre à l'aube de l'amour
Où bat ta fièvre un peu comme un tambour
D'où part ta vigne en y pressant des doigts
D'où vient le cri le même chaque fois
Cette blessure d'où tu viens
Cette blessure
Qui se referme à l'orée de l'ennui
Comme une cicatrice de la nuit
Et qui n'en finit pas de se rouvrir
Sous des larmes qu'affile le désir
Cette blessure
Comme un soleil sur la mélancolie
Comme un jardin qu'on n'ouvre que la nuit
Comme un parfum qui traîne à la marée
Comme un sourire sur ma destinée
Cette blessure d'où je viens
Cette blessure
Drapée de soie sous son triangle noir
Où vont des géomètres de hasard
Bâtir de rien des chagrins assistés
En y creusant parfois pour le péché
Cette blessure d'où tu viens
Cette blessure
Qu'on voudrait coudre au milieu du désir
Comme une couture sur le plaisir
Qu'on voudrait voir se fermer à jamais
Comme une porte ouverte sur la mort
Cette blessure dont je meurs
A poesia erótica tem mais que se lhe diga...
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