segunda-feira, 29 de setembro de 2008

poesia (1)


A blogosfera é uma descoberta sempre renovada.Todos os dias nela reinvento a minha sensibilidade poética e por via disso, construo novas cumplicidades. A poesia espanta ou não espanta. Se espanta, estamos falados mas mais que isso, responsabilizados na sua divulgação como se fôra uma bola de neve, insaciável.

A que se segue, descobri-a neste blogue, retirada destoutro e diz assim:

C I R C A D I A N A

***

Circulam em mim sete humores
sabores, cheiros e cores


Tem um redondo, doce e cor-de-rosa
que sabe cantigas de ninar
sacia-se na pele macia das crianças
dorme pesado
queima-se ao sol, ri de qualquer besteira
é generoso
leite de peito, florada, saúde.


Tem um que é vinagre e fel
Vendetta



Tem um que é muito bem comportado
supermercado, trânsito
bons dias!, gentilezas
me ajuda a ganhar a vida
(trottoir da alma)



Tem um que é pura luxúria
língua, tesão, gemido
(e que fica guardado
numa caixinha de veludo vermelho
no fundo da gaveta
no meio de calcinhas cor de champanhe)

***

Circulam em mim sete humores
mandam em mim, fazem lei.
Uns conheço. Uns se escondem.
Sobre estes uns nada sei.

4 comentários:

Anónimo disse...

Olá:
Antes de mais, estou feliz que tenha descoberto.

A consideração que faz -por ser tão visceral -tem um valor acrescentado e torna a interlocução com o poema, seja, ela mesma causadora também de espanto*.
Aliás, devo dizer que ESPANTO é a palavra poetico-filosófico de que mais gosto.
Um abraço
Meg

Anónimo disse...

Errata:
"...torna a interlocução com o poema, ela mesma causadora também de *espanto*."

miguel disse...

Meg:

Há muito que a descobri e ao seu blogue. Houve até uma comoção que se apoderou de mim , quando você " morreu", lembra-se?

E espantado fiquei eu com a celeridade que demonstrou em chegar assim, bem rápido, ao meu blogue.

um abraço para si.

Unknown disse...

Miguel, querido,

fico muito honrada e comovida pela publicação do meu poema no teu blog. Mais uma das incontáveis alegrias que fico devendo à generosidade e delicadeza da Meg.

Grande abraço lusófono

Etel Frota