Não obstante ter já ultrapassado, seguramente, metade do tempo que disponho para viver, há emoções, ligadas a determinadas expectativas e acontecimentos, que não controlo. Torno-me então no mais pueril dos cinquentões.
Eu sou assim, com a neve. Tive, já, o incrível - por raro e improvável - privilégio de subir a serra de Sintra debaixo de um nevão, no decorrer de uma prova de atletismo. Doutra vez, assisti, de onde estou neste momento – o escritório da minha casa em Lisboa – à transformação das gotas de um chuvisco em levíssimos flocos brancos que me entraram pela janela e me lavaram, como nunca, este rosto tão carente de purificação. Gritei, então, saltei , telefonei a meio-mundo , anunciei o facto como se fora eu o único a dele tomar conhecimento. Obriguei os meus filhos a largar afazeres e brincadeiras, e invadir a rua e gritar e brincar. Debalde, aliás, para meu enorme espanto.
Eu sou assim. Hoje, dia 29 de Novembro, estou na expectativa. Consulto, avidamente, o boletim meteorológico. Metade do país encontra-se debaixo de um manto de neve. Lisboa está, apenas molhada e fria. Mas faço contas: menos 2 ou 3 graus e… Fixo a cor das nuvens, concentro-me nas características da água que cai do céu. Interpreto, a meu gosto, as imagens de satélite. E sonho com o milagre repetido.
Eu sou assim. Metade do país está sobre um manto branco de neve e eu ,regressado à infância, suspenso de um capricho da natureza. Para mim, o presente que me desculpe, vai ter que esperar um pouco.
A praia no Inverno
Há 8 horas