sexta-feira, 30 de novembro de 2007

um sorriso novo...


Enquanto que para alguns um fim de semana perfeito tem como representação possível a ingestão de um valente travesseiro de Sintra, para os homens do clube do Stress - que é o clube de atletismo a cujas cores eu dou brilho - o início de um sábado e de um domingo só se torna significativo se fôr vivido a correr. Desta maneira - seja por montes , ou por vales , nas ruas da cidade ou roçando os pés pelo o húmido do rio com o qual convivemos - é feita uma poesia estranha , escrita, geralmente, em percursos de ida e volta, percorridos pelo esforço e por suores e em que tudo rima com a exaltação de uma actividade na qual a rotina dos gestos cria sorrisos improvaveis, como aquele que o José, companheiro de lides neste nosso clube, exibe na foto que encima a entrada.
É o testemunho do José acerca da prática da corrida contínua que , este domingo,irá ser publicado no El País . Tive acesso em primeira mão ao artigo, num daqueles golpes de privilégio com que o destino raramente premeia gente vulgar como eu. Transcrevo de seguida parte daquilo que poderá ser lido:
(...)"Antes de llegar a este hito, que Sócrates prefiere atribuir al “fantástico coraje de Angela Merkel” y que todavía debe ser refrendado por cada país de los 27, el primer ministro portugués ha corrido una larga carrera de fondo. Una carrera sudada, trabajada y masticada paso a paso, en la que se adivina vocación, dinamismo, habilidad para moverse entre bambalinas y un prodigioso sentido comercial.
Quizá por eso, la imagen que mejor define al Sócrates reciente es esa foto que ha salido en los periódicos portugueses tantas veces desde marzo de 2005, cuando llegó al poder. En cada país que visita, pero también si está en Lisboa –vive solo en un edificio estupendo en pleno centro, muy cerca de Marqués de Pombal–, a Sócrates le gusta salir a correr por las calles de buena mañana y ponerse a sudar la camiseta. Le da lo mismo Luanda, Moscú o Washington. A 40 grados o a cinco bajo cero. Nada detiene al fondista solitario, empeñado quizá en mandar un mensaje de energía y optimismo a sus melancólicos y sosegados compatriotas.
¿De dónde le viene esa afición por correr? Comencé en 1999. Había dejado de fumar, empecé a engordar y me apunté a un club deportivo llamado Stress, donde hacen jogging y organizan maratones benéficos. Entrené durante seis meses, empecé corriendo 20 minutos y acabé haciendo una hora. Ahora corro media maratón.
¿Y presume de marcas, como Aznar? No, no. Correr es un ejercicio fantástico, lo puedes hacer en cualquier sitio y viene muy bien para visitar las ciudades. Mejor que en coche, porque tienes más visibilidad…
Pero si la escolta no está fina, los dejará atrás. No, no, están muy bien entrenados..."

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Cantinho do piroso que nunca deixei de ser...

Tive dificuldades em classificar a minha proposta musical de hoje. A melodia tem salero e rumba em doses equilibradas, envolve-nos numa ambiência que até parece que estamos no sul de Espanha e os rapazes cantam bem. O António, além de ter uma valente penca, é gitano. O Alejandro não o é, portanto é um gajó. Pero és Alejandro qué tiene una voz vibrante, llena de gitanidad. A letra é mais impressiva cantada do que lida, por isso transcrevo-a, apenas, em parte. O video clip, além de ter uns figurantes enigmáticos que aparecem de vez em quando, meio a despropósito, está longe de me comover: aquele olhar do António para a camera não me convence, o play back é fracote e o Alejandro ri demasiado, tendo em conta que se canta a desgraçada dos emigrantes.

A balança descai, enfim, para o lado do piroso, mas gosto.



Se fue con las arenas del mar
buscando su destino
palpito entre las sombras sin mas
y nado en el vacío
reina el silencio en este oscuro lugar
nada es eterno todo llega al final.
Tan solo sé que busqué que busqué
lo que este mundo me duele y me da.
Para que tu no llores así...lla la la la....

coincidências...ainda ontem falava do Eros Ramazotti


"Há uns anos atrás, na noite em que deu um concerto no Restelo, o Eros Ramazotti mandou um segurança convidar-me para cear com ele, numa discoteca em Lisboa onde eu estava por acaso. E eu fui, claro."

O episódio não se passou comigo ( a minha condição de heterossexual levar-me-ia a considerar com desconfiança um convite destes) mas passou-se com esta amiga, episódio extraordinário de cuja ocorrência ela nos dá conta aqui .
- Ó Eros, qu'é esta merda? O que é que andas a fazer no palco, meu? Cantas ou escolhes garotas para cear?
De qualquer forma devo dizer que é um privilégio ter como amiga - ainda por cima uma balealense - alguém que já ceou com o Eros Ramazzoti.
A propósito, este personagem - o Eros - é dotado do mistério de todos os paradoxos:
1º - É feio, mas tem a lata de exibir como nome artístico " eros " , muito embora sem cair no ridículo, o que, por si só,é sintomático de que as pessoas ligam o nome com aquilo que ele pretende representar
2º - Tem uma voz estranha, incomodativamente metálica, emite sons como se estivesse com uma crise de sinusite aguda e, no entanto , a mesma voz não deixa de ser agradável.
3º - Canta melodias para essa maioria (silenciosa) de "balzaquianas" que ( já ruidosa) se reune nos seus concertos, e no entanto não há ninguém que não diga que "o gajo até tem umas músicas giras".

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

espanto...


Lido diariamente com muitos jovens. São dias que se foram multiplicando por semanas e estas por anos. Muitos, no contexto da esperança de vida, e então da minha...nem se fala.
Dos jovens, conheço-lhes e desconheço-lhes manhas, sonhos e projectos. Navego em certezas que se convertem noutras, à velocidade da minha disposição ou da disposição deles.
Já nada me espanta ou, às vezes, tudo me espanta.

Transcrevo, entediado, para um formulário online, nomes de jovens inscritos no clube do Desporto Escolar do estabelecimento onde trabalho.
Alguns exemplos :
Arminaldo; Silvano; Rony Edson; Irineu; Leida ; Jaivine; Anycleive; Nádia Horneila; Cinthya; Lenira; Allan; Josimar.
Note-se, mais uma vez que trabalho onde estes jovens estudam; bem perto de Lisboa, capital de Portugal. A dois quilómetros de outra escola onde abundam outros nomes, outras histórias, tão diferentes que parecem nascidos de um planeta diferente.
E o melhor está para contar...

experiência


Fantástico blogueiro este que tão bem me soube ensinar alguns segredos do blogger. Estou-lhe eternamente grato e já agora cumprimentos à sua musa.

cantinho do piroso que nunca deixei de ser....

As propostas musicais que faço - e passarei, doravante, a fazer - nesta rubrica não têm como objectivo que o leitor expresse, publicamente, o agrado que sente em ouvi-las. Não. O agrado é para ser expresso, sim, mas na intimidade , porque acho que todos temos escondido em nós um lugar, obscuro, onde a piroseira reina. As letras consubstanciam o estilo mas podem eventualmente fazer pensar e , quiçá, sonhar.


EROS RAMAZZOTI



Guarir non è possibile la malattia di vivere, sapessi com'è vera questa cosa qui. E se ti fa soffrire un po' ,puniscila vivendola è l'unica maniera sorprenderla così...
Più che puoi, più che puoi, afferra questo istante e stringi più che puoi, più che puoi e non lasciare mai la presa, c'è tutta l'emozione dentro che tu vuoi di vivere la vita più che puoi.
You've got one chance, the gift to feellove's deep est pain, you cannot heal it, shatters every memory that you keep inside.
I tell you this because I know protect what's dear, don't trade your soul' cause there's nothing left around you, there's no place left to go.
All you can, all you can, you gotta take this life and live it, all you can, all you can never let it go'cause there's one thing in this life I understand,
ooh Siamo noi, siamo noi, che abbiamo ancora voglia di stupire noi, siamo noi, che la teniamo sempre accesa quest'ansia leggerissima che abbiamo poi di vivere la vita più che puoi .
Respira profondo, apri le tue braccia al mondo e abbraccia tutto quello che ci sta, tutta l'emozione che ci sta. All you can, all you can, you gotta take this life and live it all you can, all you can, and never let it go' cause there's one thing in this life, I understand,
ooh Più che puoi, più che puoi, afferra questa vita e stringi più che puoi, più che puoi, e non lasciare mai la presa c'è tutta l'emozione dentro che tu vuoi di vivere la vita più che puoi di vivere la vita più che puoi

parecenças


A escola é o lugar onde regresso todos os dias. Num momento, regresso a ela fisicamente e, regra geral, não é uma experiência extraordinariamente agradável, porque há que reinventar a rotina e esse é um exercício com o qual me dou relativamente mal.
Em outro momento regresso a ela em pensamentos ( quando chego a casa, quando as férias decorrem...), e esse constitui a maioria dos momentos: nele está presente, quase sempre, a dúvida. Torna-se chato conviver 25 anos com a dúvida, porque causa desconforto, mas é assim.
Quem anda por aí, e quem anda também na escola corre o risco de ser alcunhado. Nenhuma alcunha, penso, se me colou, definitivamente, à pele. Mas há uma que tende a fazer escola, na escola. Um colega meu , de nome Sávio, feio como a noite dos trovões, insiste , cada vez que me vê , em anunciar-m
- Olha, vem aí o Chuck Norris!
A fama de que o Sávio me quer dotar, noto-o, vai-se estendendo, subtilmente, aos alunos.
Injustiça, mais uma. Não acho que tenha parecenças com o Chuck Norris, pourra!


sábado, 24 de novembro de 2007

Justificação 3


Este blog foi baptizado várias vezes, mas só o penúltimo baptismo é que valeu. Isto porque o último foi um impulso de momento: o menino passar-se-ia a chamar “CÁLLATE !”. Mas pensei: nada do que aqui escreverei pretende ser prescritivo, como Juan Carlos, debalde, o quis ser com Hugo Chavez - bem antes pelo contrário. Aliás, a actualidade e a importância de uma página de qualquer diário tem o sortilégio de se ir esfumando na voragem da sucessão de páginas que se sucedem umas às outras. Ficam apenas dotadas de uma importância relativa, sempre disponíveis para aqueles que se dêem ao trabalho de relembrá-las, um dia.
Vejamos: um blog funciona , em parte, como o papel higiénico – vai-se desenrolando , mais e mais, na justa medida em que vai sendo utilizado. Mas não é biodegradável e pode até ser reutilizado, tantas vezes e de tantas formas como aquelas que se queiram, na solidão do mundo virtual.

“CÁLLATE” ligar-me-ia , por outro lado, à figura do Rei Espanhol. Não quero estar ligado a alguém que para mim é um enigma: ora me parece dotado de inteligência , ora me parece carente dela. Nem sei mesmo em que categoria destas hei-de classificar aquelae inolvidável momento do homem, se bem, que , pessoalmente, até por questão de feitio, eu o compreenda. Agiria, por certo, de igual maneira, mas com outro tom de voz e completando a missiva com o tradicional “car*´/*". Mas , por várias razões, não sou rei.

Justificação 2


Para os mais pequenos dos que crêem , mesmo que eles creiam porque alguém os ensina a ser crentes, os mortos, e principalmente os mortos deles, encontram-se , algures, no espaço sideral, num ponto geralmente na vertical do local exacto onde esses crentes se encontram, de onde os olham e parecem viver numa espécie de SPA, 24 horas ao dia. Para eles, os pequenos , mas também para os outros crentes, os mortos que lhes são queridos são um pensamento recorrente, que sobrevem de dia ou de noite, em sonhos que ocorrem no estado vigil que corresponde a dois terços da vida ou no outro estado, o de adormecimento, que ocupa o restante terço. Lembram-nos, ou porque sentem a sua falta, ou porque o exemplo que protagonizaram em vida é agora farol de uma vida que decorre, ou porque o mesmo exemplo é exemplo a não repetir ou porque simplesmente, estão “lá”, e em algum momento nos observam, nos dão a mão e nos aconselham ou criticam, no desespero que nos atormenta , por vezes, os dias.
E tudo isto, serve, de alguma maneira, para os não crentes: nutrimos todos pelos nossos mortos um afecto que tende a nunca ser corrompido. Deles somos devedores das mais belas páginas escritas, das mais fantásticas descobertas científicas, dos maiores feitos de coragem, de decisões que mudaram, para o bem e para o mal, o nosso próprio destino.
Portanto, uma boa parte do que somos e fazemos, devemo-lo a essa enorme maioria cujo corpo se foi para sempre. Um diário, como o são os blogues, cumpre parte da tarefa de tornar vivos, os mortos.
Se não fossem eles, teríamos que inventar as coisas más, mas também teríamos que inventar a bondade, a mansidão, a benevolência , a tolerância e o domínio de nós mesmos. Assim temos apenas que reinventá-las, e há sempre mil e uma formas de reinventar o que é bom. Basta estar vivo...

justificação 1



Estou quase aqui. O menino que ainda sou e cujos sons de vida quero lançar , de maneira regular, no " Desenterrem-se os Mortos", está quase a ver a luz. Os forceps parecem, já, molestar-me o osso craniano, mas nem assim o corpo, todo,se consegue libertar do ninho de gestação. Lá dentro,deslizam, ainda, as mãos para escrever e os pés que sustentam o corpo que escreve (e experimentem escrever com os pés e as pernas suspensos do nada) . Toda esta dificuldade de ser livre se resume a caprichos de uma personalidade díficil: aquela que se enleva com a qualidade daquilo que os outros produzem e a falta de paciência para o compromisso e também para os segredos da linguagem HTML.Ver-nos-emos, seguramente, em breve.